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Morumbi, 47 anos: um presente para Laudo Natel!


Barril do Chavinho

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Morumbi, 47 anos: um presente para Laudo Natel!

Em uma emocionante entrevista, recheada de história e paixão, Laudo Natel conta sobre a construção do Morumbi e muito mais

Para comemorar os 47 anos da fundação do nosso templo sagrado, republicamos uma saborosa entrevista (de 2004) com o inesquecível Laudo Natel, responsável direto por hoje desfrutarmos do glorioso Estádio do Morumbi. Aqui, conta um pouco da sua história, a epopéia de se construir um estádio fabuloso e recorda, com carinho, de eternos e grandes são-paulinos.

Os olhos marejam quando esse bravo homem de 85 anos relembra a história do São Paulo Futebol Clube. Hoje, mesmo longe da direção do clube que defendeu por longa data, o ex-presidente Laudo Natel ainda se emociona ao relembrar saudosista da epopéia da construção do Morumbi e dos anos de glórias e tristezas pelo qual passou o time profissional. Ex-governador do Estado e presidente do SPFC de 1956 a 1972, Laudo Natel, talvez o maior são-paulino vivo, concedeu uma deliciosa entrevista à SPNet em seu velho e confortável escritório na Rua Nestor Pestana, no centro paulistano. Com a vitalidade e a vivacidade de um garoto, ele relata com prazer inúmeras e suculentas passagens da sua vida pessoal, profissional e são-paulina. Aliás, se existe uma palavra para definir Laudo Natel, essa palavra é “líder”.

Quem é Laudo Natel?

Nascido em São Manuel, interior de São Paulo, formou-se em economia e administração de empresas. Durante 25 anos, foi diretor do Banco Bradesco. Nessa mesma área de atuação, foi diretor da Associação Comercial de São Paulo, diretor do Sindicato dos Bancos de São Paulo e presidente da Comissão Bancária do Conselho Monetário Nacional. Entre 1952 e 1970, foi tesoureiro e, depois, presidente do São Paulo Futebol Clube. Foi eleito vice-governador em 1962. Com a destituição de Adhemar de Barros, em 1966, exerceu restante do mandato, unificando as 11 usinas hidrelétricas do Estado, que deram origem à CESP (Companhia Energética de São Paulo). Eleito indiretamente como governador, exerceu mandato de 1971 a 1975. Nesse período, deu ênfase ao desenvolvimento do Interior com o PROINDE (Plano Rodoviário de Interiorização do Desenvolvimento). Prosseguiu a pista ascendente da Rodovia Imigrantes, criou a SABESP e a CETESB e elaborou plano para desenvolvimento do Vale do Ribeira.

ENTREVISTA

SPNet - Gostaríamos que contasse um pouco sobre sua infância em São Manuel. O senhor já gostava de futebol quando criança?

Laudo Natel – Eu costumo dizer, feliz ou infelizmente, que eu sou mais velho do que o São Paulo. Acompanhei sua fundação pelo noticiário quando morava em Mirassol, aos 10 anos, logo que comecei a me interessar por futebol. Eu sou são-paulino de geração espontânea, não sofri nenhuma influência. Minha infância foi a de um menino da roça e em uma época na qual a comunicação era muito deficiente. Nós não tínhamos rádio na fazenda ou acesso ao jornal. Devo esclarecer que nasci em São Manuel, mas saí de lá muito cedo, com dois anos de idade, quando meu pai foi contratado para administrar uma fazenda em Mirassol. Fiz carreira de bancário, morei em vários lugares e, no final de 1945, vim para São Paulo. No ano seguinte, fiquei sócio do São Paulo Futebol Clube, de modo que a minha aderência ao clube já é muito antiga. Como torcedor, simpatizante e, depois, como dirigente.

SPNet – O seu pai nunca o influenciou?

Laudo – Não, eu não tive influência, meu pai nunca falou de futebol comigo. Em Mirassol eu torcia pelo clube da cidade mas, quando surgiu o São Paulo, eu logo simpatizei pelo clube. Antes, eu nem acompanhava muito o futebol.

SPNet - Conte um pouco sobre sua vida pessoal e profissional até a chegada ao São Paulo.

Laudo – O primeiro jogo que eu vi do São Paulo foi em 1938. Eu ainda morava no interior, mas naquele dia eu tinha uma consulta médica aqui na cidade. Um amigo meu, que posteriormente virou meu cunhado, me levou para assistir um jogo contra o Fluminense, no Parque Antarctica. Foi uma maiúscula vitória do São Paulo. Depois, eu voltei para o interior. Quando vim morar na capital, passei a assistir aos jogos com freqüência, até que, em uma ocasião, fui convidado a dirigir o departamento financeiro do São Paulo, que vivia uma fase muito difícil, sempre endividado. Ele já era um clube grande, de nome, mas coberto de dívidas. Nessa época, eu era diretor de banco, então fui levado para o clube por amigos comuns que participavam da vida do São Paulo. Eu ingressei no clube em 1952 com a condição de ficar apenas um ano. Aí, eu fui me aperfeiçoando e acabei permanecendo por mais tempo. Nessa época, o presidente era o Cícero Pompeu de Toledo. Logo depois, veio a doença que o vitimou. Nessas condições, eu não poderia abandonar o clube, acabei ficando seis anos como diretor de finanças e, depois, fui eleito presidente em sete mandatos. Tenho vinte anos de dirigente do São Paulo: de 1952 até 1972, sendo quatorze anos como presidente. Eu tenho a regalia de ter lançado o Estádio do São Paulo na minha sala de trabalho no banco. Acompanhei da pedra fundamental até a inauguração final do Morumbi.

SPNet - Como a sua experiência no Bradesco o ajudou a não desviar-se do objetivo da construção do Estádio?

Laudo – O futebol precisa caminhar para a profissionalização. Essa chamada crise no futebol, que hoje enfrentamos, é perene. No meu tempo nós já vivíamos assim. Eu costumo dizer que o clube é uma espécie de sociedade anônima, onde o menor acionista dá palpite. É paixão! Então, é muito difícil você administrar. Nós conseguimos esse patrimônio do São Paulo porque eu adotei uma linha dura: não misturar a obra do Estádio com o futebol, porque senão, tudo o que seria destinado para o Estádio, seria absorvido pelo futebol. Nós vendemos o Canindé, mas o dinheiro só serviu para pagar as dívidas do São Paulo. Tanto é que o vendemos para um conselheiro do São Paulo, o Wadih Sadi, que depois foi diretor na minha gestão. A condição dada foi que ele deixasse o São Paulo treinar por lá até o clube ter um outro estádio. Aí, nós conseguimos o terreno do Morumbi, no loteamento do Jardim Leonor, que seria destinado para a construção de uma praça, mas, ao invés disso, conseguimos a anuência da prefeitura para fazer um estádio. Compramos outros 25 mil metros quadrados de um total de 154 mil e deixamos 100 mil para o estádio de futebol. Compramos da Imobiliária Aricanduva os outros 25 mil metros quadrados e eles cederam outros 25 mil. Por isso que eu digo que o São Paulo tem raízes no Morumbi. Pelo que recordo, o primeiro tijolo do Jardim Leonor foi colocado para fazer o estádio do São Paulo Futebol Clube; depois foi uma venda de idéias: cadeiras cativas, títulos patrimoniais, campanha do cimento, etc. Sempre separamos rigorosamente o futebol do estádio, por isso, conseguimos. Eu digo que o Morumbi foi um milagre! Um clube que lançou um estádio carregado de dívidas, mas que conseguiu entregá-lo livre de ônus. Foi um presente que o São Paulo recebeu de toda a coletividade. Aliás, de toda a coletividade esportiva de São Paulo.

SPNet – Como o senhor encara as acusações de que o São Paulo teria recebido verba pública para o Morumbi na época da sua gestão como governador do Estado?

Laudo – É um mito! O estádio é anterior à minha gestão como governador. O São Paulo nunca teve ajuda de dinheiro público...

SPNet – Teve ajuda do Bradesco?

Laudo – Foi uma ajuda normal de uma instituição financeira ao seu cliente. Eu era diretor das duas instituições na época, então, evidentemente, eu usava o Bradesco, um grande colaborador do São Paulo. Mas sempre dentro das condições normais, pois o Banco não era de minha propriedade, eu era apenas diretor.

SPNet – Então seria inveja dos rivais?

Laudo – Eu acho que o Morumbi prestou um grande serviço ao futebol paulistano porque alargou os horizontes econômicos do futebol paulista. Eu não sei se hoje seria viável construir um estádio dessa natureza. Com as exigências da FIFA, os estádios de hoje são menores, numerados, etc. E também não é viável porque os clubes possuem outras fontes de receitas, não dependendo apenas das bilheterias. Hoje, as emissoras de televisão pagam pelo espetáculo. Eu me lembro que, no início da era televisiva, tive brigas memoráveis com eles, no bom sentido, claro. Eles queriam transmitir o futebol sem nos pagar sob a alegação de que era uma liberdade de informação. Eu discordava e dizia: “O clube está gastando dinheiro! Ora! Então, vão transmitir cinema!”. Mas, no final, a TV acabou sendo uma grande aliada dos clubes. Então, hoje não seria defensável a construção de um estádio muito grande até porque a manutenção é muito cara. De qualquer forma, o Estádio do Morumbi deu uma colaboração inestimável para o futebol paulista, que na época estava confinado ao Estádio do Pacaembu.

SPNet – O Morumbi colaborou muito para a expansão da cidade também, não?

Laudo – Quando o Morumbi foi lançado, existia um programa de rádio e TV com o seguinte título: “Sai Dessa”. Eu fui convidado e a pergunta que me fizeram foi a seguinte: “O senhor está construindo um estádio em lugar que não possui condução, esgoto, água encanada, telefone, eletricidade. Como ele vai sair?”...

SPNet – No meio do mato?

Laudo - No meio do mato. Eu me lembro que, na época, um jornal esportivo publicou uma charge com uma fotografia de um matagal dizendo: “Estádio do São Paulo em 1980”. Mas, eu respondia: “Nós vamos fazer esse estádio e depois vou dizer ao poder público: ‘Sai Dessa!’. Me dê as condições”. E realmente foi o que aconteceu. A água foi pra lá, o telefone foi pra lá, o esgoto foi pra lá, a eletricidade também foi. De modo que foi uma obra audaciosa, mas felizmente deu resultado porque foi conduzida profissionalmente. Jamais deixei sair um cruzeiro que fosse da construção do estádio para o time de futebol profissional. Costumo dividir a história do São Paulo em três fases de direção: houve um tempo em que os diretores conseguiram montar grandes equipes e fizeram o nome do São Paulo, já considerado um dos grandes clubes na ocasião. Esse grupo construiu o “nome”. A minha geração pegou esse “nome” como bandeira e conseguiu fazer o patrimônio que aí está, o Morumbi. A outra geração, que persiste até hoje, é aquela que aproveitou o teatro e deu o espetáculo. A tal ponto de o São Paulo ser conhecido mundialmente nos dias de hoje.

SPNet - Fale um pouco sobre o lema: “Fazer o difícil na hora e o impossível um pouco depois". Era o lema do Sr., do Cícero Pompeu de Toledo e de Manoel Raymundo?

Laudo – Aliás, dois grandes são-paulinos. O Cícero, lamentavelmente, não pôde ver essa obra. Eu me lembro que, numa ocasião, o Cícero já no leito, muito doente, mandei uma foto com dedicatória do primeiro lance de arquibancada que nós conseguimos fazer. Na dedicatória, dizia: “Aqui está o início da concretização de um sonho, que, de olhos abertos, nós temos sonhado juntos”. O São Paulo teve uma coesão de equipe. Eu tenho uma certa experiência em administração. Fui diretor de banco, fui presidente do São Paulo por muitos anos e fui também governador de São Paulo. Acho que o êxito que tive na vida foi o de ter conseguido sempre equipes poderosas. Ninguém faz nada sozinho! Quando você tem uma equipe, os problemas são diluídos, pois sempre lhe dão soluções. Nós tivemos momentos dificílimos. Havia o momento que eu tinha que parar com a construção do estádio. Aliás, tenho uma história que merece ser contada: numa ocasião, as coisas andavam difíceis e tive que parar a construção do estádio. Houve uma pessoa na época, não me lembro quem, sugerindo que a Prefeitura terminasse o Morumbi em troca do Pacaembu. Economicamente, na ocasião, poderia ter sido interessante. Mas, eu me lembro que dei a seguinte resposta: “Não posso concordar com isso, pois o sonho do são-paulino não cabe no estádio do Pacaembu”. E aí está o Morumbi.

SPNet – Em algum momento o Sr. desanimou a ponto de achar que o estádio jamais ficaria pronto?

Laudo – Eu tive momentos de grande dificuldade, de perder o sono mesmo. De receio de ter um fracasso numa obra que envolvia tanta gente. Eu fui o responsável maior por uma obra de grande porte. Tive momentos muito difíceis. Foi um alívio o dia em que pude entregar o estádio.

SPNet – Até porque não é uma construção de um prédio, e sim a construção de uma paixão, não é?

Laudo – Verdade. Enquanto construía o estádio, eu dizia à torcida são-paulina que ela deveria ter paciência, pois nós tínhamos que ter um patrimônio. Não adiantava montar um time e não poder sustentá-lo e fechar o São Paulo outra vez. A torcida concordava, mas como futebol é paixão, toda a vez em que nós perdíamos para um Corinthians, para um Palmeiras, a coisa pegava. Aí, eu tinha um outro serviço: domesticar a torcida e até os próprios companheiros. Mas tive tanta sorte, mas tanta sorte, que eu prometia: “Olha, depois do estádio, nós vamos montar uma boa equipe”. Então, logo depois da inauguração do estádio, eu consegui a montagem de uma equipe tentando ganhar um título dentro do prazo de um, dois anos. Mas ganhei logo no primeiro ano e repeti no segundo ano. Saí com duas vitórias. Paguei pro torcedor o que eu havia prometido: depois do estádio, vamos ter o futebol.

SPNet – Logo no primeiro ano após a construção do estádio, o senhor montou um timaço, não?

Laudo – Verdade. Nós contratamos quatro, cinco jogadores de grande nível e montamos uma boa equipe. Mas, justiça seja feita, mesmo nesses anos difíceis, o time foi sempre competitivo. Há poucos dias, no encontro dos antigos jogadores do São Paulo, a gente relembrava isso. Então, com todas as dificuldades, nós sempre estávamos competindo.

SPNet – O senhor poderia nos contar uma passagem marcante como presidente do SPFC?

Laudo – Têm umas passagens curiosas. Outro dia, lendo a revista do clube, li um episódio que aconteceu comigo. Aliás, eles atribuem o episódio num jogo contra o Corinthians, mas era um clube menor, acho que o Taubaté. Era uma fase difícil e o time estava com dificuldades para engrenar. Num domino a gente empatava, no outro perdia (risos). Um dia, fui assistir a um jogo do São Paulo no Pacaembu, e eu moro no Pacaembu, e a minha mulher já estava dormindo na hora que voltei. Mas, quando entrei no quarto, ela acordou e perguntou quanto tinha sido o resultado do jogo. Eu falei: “4 a 1”. Ela respondeu: “Quem marcou o nosso?” (risos). Estava tão acostumada a perder que perguntou isso. De uma outra feita, eu, já como governador do Estado, fui ver um jogo do São Paulo no Pacaembu com uma equipe do interior. O time jogou mal, muito mal. Quando terminou a partida, um cidadão me procurou e disse: “Governador, quero lhe pedir um favor. Meu irmão, torcedor, estava de cabeça quente e falou qualquer coisa aí para o senhor e foi preso”. Eu disse: “Não é possível! Eu não vi isso. Onde é que ele está?”. Aí o rapaz me levou até o posto policial. Lá, eu perguntei para o guarda: “Quem é que foi preso por ter falado qualquer coisa pra mim?” Ele respondeu: “Tudo isso aí”. Era uns dez ou doze (risos). Esses são episódios curiosos do futebol, mas tenho grandes momentos também no futebol.

SPNet – O senhor sempre se lembra com muito orgulho...

Laudo – Olha, eu envelheci de responsabilidade para fazer o estádio, mas também tive grande alegria na inauguração e alegrias também no futebol. Nossa, ver o São Paulo campeão do mundo em duas vezes! Numa ocasião, fui com o São Paulo até a Venezuela para disputar a “Pequena Taça do Mundo”. Levamos um time tão modesto, mas tão modesto, que o São Paulo jogava por US$ 4 mil e o Real Madrid por US$ 20 mil. Então, jogamos com o time local, com o Porto e, na final, jogamos com o Real Madrid. E não é que ganhamos? Aliás, o Real Madrid é nosso freguês (risos).

SPNet - No livro do ex-presidente Bastos Neto, ele conta que o Presidente Médici estava receoso de entrar no gramado e ser vaiado devido ao momento turbulento na política brasileira, mas o Sr. o encorajou dizendo que havia “dedicado uma vida para a construção desse estádio e esperava naquele 25 de janeiro esse reconhecimento”. O que aconteceu após a entrada do Sr. e do Presidente Médici em campo?

Laudo – Era a primeira visita do Médici a São Paulo. E convidei primeiro o Costa e Silva, mas ele ficou doente e não pôde vir, até depois veio a falecer. Eu fiquei em dúvida em convidar o Médici, pois já havia convidado o Costa e Silva. Mas o convite é estendido ao Presidente da República, por isso o convidei. O Médici gostava de futebol, aliás ele era são-paulino aqui, acabou vindo. Mas, no dia da inauguração, com o campo lotado, a segurança do Presidente achou que ele não deveria entrar, talvez com receio de ser vaiado. Eu disse a ele: “Presidente, o senhor vai entrar comigo, pois se existe alguém que não pode ser vaiado hoje, esse alguém sou eu. Então, o senhor entra comigo”. Aí, ele aceitou e entrou. Na hora que ele entrou, foi uma ovação do público, deixando-o arrepiado. Tanto é que ele, que já gostava de vir a São Paulo, ficou freguês de vir pra cá. No período em que eu fui governador, ele veio umas vinte e tantas vezes. Mas, a entrada dele foi na inauguração do Morumbi.

FUTEBOL

SPNet - Quem o Sr. considera o maior craque de nossa história e qual foi o melhor time?

Laudo – Olha, é muito difícil dizer quem foi o maior craque, pois são posições diferentes e épocas diferentes. Eu vi grandes jogadores atuando com a camisa do São Paulo. Eu vi Leônidas jogando. Depois, eu tive Gérson, Pedro Rocha, Zizinho, Canhoteiro. Portanto, é sempre muito difícil e a gente acaba cometendo alguma grande injustiça. O São Paulo também formou grandes craques. Agora, o clube adquiriu em Cotia um centro de treinamento no qual terá dez campos de futebol exclusivos da garotada. O preparo de base no São Paulo é muito bom. O clube exige uma linha de comportamento muito boa. De modo que o clube não forma só jogador, mas também o cidadão.

SPNet – O senhor lembra de um time do São Paulo que marcou a sua vida?

Laudo – Evidente que o time do Leônidas, dos anos 40, marcou muito. E também o time que foi bicampeão do mundo.

SPNet – Um time com várias pratas da casa, não é? Cafu, Ronaldo, Vítor, Muller...

Laudo - É verdade. O Telê Santana teve uma grande atuação também, mas ele foi muito prestigiado no clube. O Telê ajudou muito o São Paulo, assim como o São Paulo ajudou muito o Telê. Ele era um grande treinador, mas quando ele chegou ao clube ele tinha fama de pé-frio, mas o São Paulo o prestigiou. Ele se impôs e conseguiu essas conquistas magníficas.

SPNet - Como foi deixar o São Paulo depois de 20 anos de trabalho árduo na presidência do clube?

Laudo – Eu já era governador. Evidentemente, eu só podia tocar o São Paulo porque eu tinha um grande vice: o Henriy Aidar, que posteriormente foi presidente do clube. O Henry também foi chefe da Casa Civil no meu governo. Então, eu administrava o Estado, mas ao mesmo tempo estava com o São Paulo. Então, faltando dois anos de governo, achei que já era melhor sair, libertar o São Paulo da minha pessoa. Eu me lembro que em muitas oportunidades, o Henry – já presidente do São Paulo – me perguntava: “O que você acha disso?” Eu dizia: “Não acho nada. Eu sou apenas torcedor. Você toca o São Paulo!”. Perdi até o costume de assistir os jogos no estádio porque queria que eles conduzissem o clube. Mas continuo muito interessado no clube. Estou sempre à disposição do São Paulo, sempre que ele precisar de mim. Aliás, consegui com o governador (Geraldo Alckmin) que a estação do metrô do Morumbi – ainda em construção – se chame São Paulo Futebol Clube. E o argumento que eu usei, no qual o governador concordou, foi que o São Paulo possui raízes no bairro, mais até do que o próprio governo. Disse a ele que tinha autoridade de dizer isso porque eu estive nos dois lados. O São Paulo tem mais tradição no bairro do que o próprio governo. Uma homenagem merecida ao São Paulo - afinal de contas, o clube ajudou ao magnífico bairro do Morumbi.

SPNet - Qual foi a sua emoção ao receber o título de Grande Benemérito do São Paulo Futebol Clube?

Laudo – Eu recebi o título de benemérito e um honroso título de patrono. Sou o grande patrono do clube. Quando deixei o clube, em 10 de abril de 1972, o Conselho Deliberativo me deu o título de Grande Patrono e, posteriormente, de Grande Benemérito. Eu sou uma figura, não diria querida, mas eu fiz alguma coisa pelo São Paulo e o clube também é muito grato pelas coisas que fiz a ele.

SPNet – Hoje, o senhor é o maior são-paulino vivo...

Laudo – O São Paulo teve grandes nomes, sempre. Você citou há pouco Cícero Pompeu de Toledo. Manuel Raymundo Paes de Almeida! O que o São Paulo deve a este homem! Ele se responsabilizava por tudo o que acontecia no futebol, para que eu pudesse tocar as obras do estádio. Quando a coisa ia bem, ia bem. Quando ia mal, ele assumia (sic.). E até hoje nós estamos ligados ao São Paulo e ainda sempre à disposição.

SPNet – Dr. Laudo, fale um pouco mais sobre Cícero Pompeu de Toledo.

Laudo – O Cícero também pegou uma fase muito difícil do São Paulo. O clube endividado, em grandes dificuldades, e com muitas tensões políticas geradas pela oposição. Ele era muito sereno, muito calmo. Aliás, essa tranqüilidade me possibilitou, inclusive, ir para o São Paulo resolver o problema das finanças e poder dar algumas soluções. Ele me deu carta branca. Eu tinha quase que uma ditadura no São Paulo. Até o estádio foi lançado na minha sala no banco. Quando foi dado o nome dele ao estádio, muita gente não gostou, pois achavam que o estádio não deveria ter um nome de pessoa, mas Piratininga, Anhangüera, qualquer nome que representasse a paulistanidade. Mas, acho que dar o nome do estádio ao Cícero foi merecido, por tudo o que ele fez.

SPNet – Ele foi a primeira pessoa que sonhou com o estádio?

Laudo – O estádio já era uma idéia latente. O São Paulo pretendia lançar esse estádio no Canindé. Chegou até a vender cadeiras cativas por lá, isso é anterior a minha gestão. Mas, o Canindé ficou pequeno para o que o São Paulo pretendia, até porque, durante a nossa gestão, é que foi feita a avenida marginal. E pra fazer a marginal, o São Paulo teve que ceder 20 mil metros quadrados, dos 60 mil metros quadrados do local. Ou seja: fomos desapropriados. Era impossível a construção do estádio no Canindé, mas o sonho era latente. Existe uma coisa que eu destaco: evidente que a colaboração maior para a construção do Morumbi foi do são-paulino, mas houve uma compreensão da coletividade esportiva. Muitos corintianos e palmeirenses também adquiriram cadeiras cativas. Tive uma convivência muito grande com os outros clubes. Me lembro que, quando fui lançado candidato à vice-governador - naquele tempo o vice não era atrelado ao governador - , os meu comitês de campanha eram no Palmeiras, no Santos, no Corinthians, tal o nível de relacionamento que nós tínhamos. Havia rivalidade dentro do campo, mas havia entendimento muito grande fora do campo. Isso foi muito importante até para o futebol de São Paulo.

SPNet - Fale um pouco sobre Porphírio da Paz.

Laudo – Grande são-paulino! Outro dia, eu estava lembrando de uma punição que ele recebeu como militar por ter carregado o Leônidas na sua chegada ao São Paulo.

SPNet – Fale um pouco sobre Luiz Cássio dos Santos Werneck.

Laudo – Ele ajudou muito na fase inicial. Hoje, é fácil dizer que a prefeitura cedeu o terreno e nós fizemos. Mas, eu destaco duas pessoas que conseguiram isso. Um é o Luiz Cássio dos Santos Werneck ou outro Luís Campos Aranha. O Aranha ia até a Prefeitura, comprava um jornal e só saia de lá até o secretário o atender. Se o secretário não atendesse, ele voltava no dia seguinte. O Werneck era um rapaz inteligente, advogado, prestou grandes serviços ao São Paulo.

SPNet – E o Dr. Henry Aidar?

Laudo – Esse nem se fala. Foi um companheiro extraordinário. Foi meu diretor de futebol, depois foi meu vice-presidente e acabou presidente.

SPNet – E o Vicente Feola?

Laudo – O cargo do Feola no São Paulo era de administrador, mas ele era o quebra-galho. Saía um treinador, entrava o Feola (risos). Aliás, quando ele foi campeão do mundo em 1958, com a Seleção Brasileira, ele ainda não era treinador do São Paulo. Ele é uma figura lendária.

SPNet – Piragibe Nogueira.

Laudo – Ele está vivo. Fez cem anos. Nós prestamos uma homenagem lá na casa dele. Foi um grande momento. Fomos eu, o presidente da diretoria, o presidente do Conselho Deliberativo, o presidente do Conselho Fiscal e o presidente do Conselho Consultivo. Levamos uma placa comemorando os 100 anos do Piragibe. Ele está lúcido e falando das coisas do São Paulo. Um grande são-paulino.

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