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MÚSICA


Professor Inventivo

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MÚSICA NEGRA DOS EUA

Há 80 anos, nascia Grover Washington Jr., criador do Smooth jazz

Seu principal sucesso – Just the Two of Us – já tinha mais de 445 milhões de reproduções na data de fechamento desta matéria

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Originado no final do século XIX em comunidades afro-americanas de Nova Orleans, Estados Unidos, o jazz surgiu como uma nova forma de fazer música, cujo improviso é a marca principal. Os instrumentos clássicos do jazz são baterias e metais (cornetas, saxofones, trompas, etc.), mas, de fato, o jazz aceita qualquer instrumento. No estrelato do jazz são conhecidos artistas como Miles Davis, Jelly Roll Morton e big bands famosas. Nesta constelação, figura o saxofonista Grover Washingnton Jr., que, em 2024 completaria 80 anos.

Grover nasceu em Buffalo, Nova York, em 1943. Cresceu mergulhado na música, vendo a mãe cantar na igreja e o pai colecionar discos de jazz e tocar saxofone. Embalado pelo jazz e as grandes bandas da época, Grover ganhou um saxofone do pai quando tinha 8 anos e começou a ensaiar e visitar, escondido, clubes que abrigavam músicos desse gênero na cidade.

A profissionalização do artista veio com a chance de substituir outro saxofonista em um projeto desenvolvido nos estúdios da Kudu Records. Na oportunidade, Grover se saiu bem e foi convidado para gravar o seu primeiro álbum em 1971 chamado Inner City Blues.  Já neste álbum, o artista uniu ao jazz o rock e o soul e criou a chamada fusion (fusão) que marcou seu estilo. Conhecido na cena musical jazzística, Grover alcançou reconhecimento comercial em 1974 com o álbum Mister Magic, com o qual chegou em 10º lugar na famosa parada da Billboard. O disco de platina veio seis anos após o primeiro álbum. Seu álbum Winelight, lançado em 1980, incluiu a faixa “Just The Two of Us”, que foi eleita melhor música de Rhythm and blues (R&B). O disco foi premiado com um Grammy em 1982 como melhor performance de Jazz Fusion.

A grande marca de Grover Washington Jr. foi ser um dos criadores do gênero musical Smooth Jazz, traduzido como jazz suave. A fusão proposta pelo artista resultou em melodias marcantes e suaves na mesma medida. Músicos como o saxofonista Kenny G., a cantora Sade Adu e a saxofonista Mindi Abair são algumas das referências mais atuais do Smooth Jazz criado por Grover.

O caminho ladrilhado de sucesso de Grover não escapou de momentos de forte críticas ao seu desempenho com o sax e suas posturas consideradas excessivamente comerciais. No entanto, dos 30 discos lançados, Grover conseguiu produzir 20 singles que marcaram o Smooth Jazz. O artista faleceu em 17 de dezembro de 1999, aos 56 anos, vitimado por um ataque cardíaco logo após ter participado de um programa para divulgar seu trigésimo álbum chamado Prime Cuts.

A produção musical do artista está disponível nas principais plataformas de música. Seu principal sucesso – Just the Two of Us – já tinha mais de 445 milhões de audições na data de fechamento desta matéria.

https://causaoperaria.org.br/2023/ha-80-anos-nascia-grover-washington-jr-criador-do-smooth-jazz/#google_vignette

 

 

 

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MÚSICA BRASILEIRA

13/12/1912: 111 anos de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

O músico levou os costumes, a alegria e o sofrimento do povo nordestino para o Brasil e para o mundo

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Sem sombra de dúvida um dos maiores gigantes da arte brasileira – para alguns o maior artista brasileiro de todos os tempos -, Luiz Gonzaga, Gonzagão ou o “Rei do Baião” foi o responsável por levar a música tipicamente nordestina para o resto do Brasil e para o mundo.

O sanfoneiro mais celebrado do País nasceu no sertão pernambucano, na cidade de Exu, em 1912.

Filho de um roceiro que consertava instrumentos musicais nas horas vagas, foi com o seu pai que Gonzagão aprendeu a tocar os instrumentos que, mais tarde, seriam adotados definitivamente por conta da influência de seu ritmo: o Triângulo, a Sanfona e a Zabumba.

Após dar baixa no serviço do exército aos 18 anos, Gonzaga mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou a tocar em bares pela cidade.

Depois de ficar conhecido na noite carioca, apresentou-se em programas de calouros na televisão como Calouros em desfiles, apresentado por Ary Barroso.

Durante esse período, tanto nos bares cariocas quanto nos programas de televisão, Gonzaga tentou se adequar ao gosto exigido pelo público e tocava tangos, valsas, fados etc, ao invés da sua música tradicional, o que faria com que ele tivesse dificuldade em se destacar.

A virada veio em 1940, quando, ouvindo os conselhos de estudantes cearenses que passavam pelo Rio de Janeiro, Gonzagão começou a tocar as músicas dos sanfoneiros do sertão nordestino.

Seu primeiro sucesso veio com a música Vira e Mexe, com a qual obteve nota máxima no programa de calouros, fato a partir do qual começou a ser convidado por diversas gravadoras para gravar um disco.

Em 1941, já teria dois discos gravados e, em cinco anos, mais de 70 músicas.

Seu sucesso mais estrondoso, o clássico Asa Branca, seria gravado em 1947. Asa Branca é uma poesia e uma denúncia da vida sofrida do povo nordestino perante a seca ingrata que assola o sertão.

Nas palavras do gestor do Memorial Luiz Gonzaga, na cidade de Recife, José Mauro de Alencar:

“Luiz Gonzaga fez da sua obra uma enciclopédia que documentou todas as matrizes culturais nordestinas. É uma obra monumental, que tem vários tipos de linguagens, de gêneros musicais, com parcerias de diversos poetas. Ali ele tem a literatura de cordel, o repente, o vaqueiro, a religiosidade, a culinária. Todos os signos culturais, a filosofia do matuto.”

Do seu relacionamento com a cantora e dançarina Odaléia Guedes Santos, Gonzagão deixou no mundo o seu herdeiro, um artista de também muito talento, embora em um segmento musical diverso do seu, o cantor Gonzaguinha.

https://causaoperaria.org.br/2023/13-12-1912-111-anos-de-luiz-gonzaga-o-rei-do-baiao/

 

 

 

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HISTÓRIA DA MÚSICA

19/12/1915: nasce Édith Piaf, maior expressão da chanson francesa

A cantora nasceu em uma família extremamente pobre, tendo sido descoberta aos 20 anos por Louis Leplée

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Há exatos 108 anos, nascia, em Paris, Édith Piaf, a maior expressão da chanson francesa. Segundo reza a lenda, Edith, nome dado em homenagem a uma enfermeira que atuou na Primeira Guerra Mundial, nasceu no meio da calçada da rua Belleville 72. Entretanto, consta em sua certidão uma menção ao Hospital Tenon. De qualquer forma, fato é que ela nasceu em uma família extremamente pobre, vivendo boa parte de sua vida nas ruas.

Sua mãe era, inicialmente, cantora em um café. Todavia, depois de se casar, foi tirada à força de seu posto por seu marido, indo trabalhar, após seu divórcio, como prostituta em um bordel. Seu pai era acrobata de rua e, depois da separação, resolveu deixar sua filha sob os cuidados de sua avó materna. Entretanto, ela batia em Edith constantemente e, como se não bastasse, lhe deixava com fome em um quarto trancado. Ao ter ciência desta situação, 18 meses depois, seu pai, que estava partindo para lutar na Primeira Guerra, deixou-a com sua mãe.

Mais tarde, em 1922, seu pai, que já havia se recuperado financeiramente, levou-a para viver em sua casa, longe da companhia de sua mãe. Na época, ele estava trabalhando em pequenos circos itinerantes, aproximando sua filha destes ambientes. Foi sua convivência nestes locais que influenciou Edith a seguir uma carreira como cantora, se apaixonando completamente pelo mundo artístico, algo que, depois, com seus 15 anos, foi muito rechaçado por seu pai, que não queria que a filha seguisse o mesmo caminho de sua mãe.

Com isso, Edith fugiu de casa utilizando o dinheiro que havia conseguido com suas músicas e apresentações, indo morar num quarto alugado no Gran Hotel de Clêrmont. Posteriormente, morou com uma amiga, também artista. 

Alguns anos depois, em 1935, Edith foi descoberta cantando na área de Pigalle por Louis Leplée, que a descobriu artisticamente e foi um dos principais responsáveis por lançar sua carreira enquanto cantora em Paris. Logo mais, começou a se apresentar em diversos locais, tornando-se cada vez mais famosa na França e no mundo. Em 1945, escreveu uma de suas primeiras canções, La Vie En Rose, uma das músicas francesas mais conhecidas da história.

Vale ressaltar que Edith, durante a ocupação nazista na época da Segunda Guerra Mundial, chegou a cantar para as tropas alemãs. Por isso, foi chamada de traidora do povo francês por diversos setores da sociedade. Entretanto, depois da Guerra, afirmou ser infiltrada da resistência, lutando ao lado dos inimigos do regime fascista de Hitler.

Édith Piaf faleceu em 10 de outubro de 1963, vítima de câncer no fígado por conta de seu alcoolismo, em Plascassier, na cidade de Grasse, Alpes Marítimos, aos 47 anos. O excesso de álcool, cigarros, barbitúricos e uma considerável dose de morfina para aliviar a intensa dor causada pelo lúpus eritematoso sistêmico teve repercussões severas em sua saúde.

Nos meses que antecederam sua morte, ela alugou uma grande mansão à beira-mar, onde passou dois meses de retiro na companhia de amigos e do marido. Segundo o acordeonista Marc Bonel, esse período foi marcado por festas constantes, com almoços e jantares para 30 a 40 pessoas todos os dias, regados a muito espumante, uísque e música.

Por questões financeiras, ela se mudou para uma casa em Plascassier, levando consigo sua enfermeira, o acordeonista, a secretária e o empresário. Apesar de seu marido estar ocupado com viagens profissionais, ele a acompanhou, trabalhando em um filme em Paris na época para “garantir o sustento do casal”, nas palavras de Piaf.

A cantora morreu devido a uma hemorragia interna no fígado, encontrando-se em coma por duas semanas. O transporte de seu corpo para Paris foi feito de maneira clandestina e ilegal, seu falecimento foi oficialmente anunciado no dia 11 de outubro. Coincidentemente, ela partiu no mesmo dia que seu amigo Jean Cocteau e foi sepultada no cemitério do Père-Lachaise (Divisão 97).

https://causaoperaria.org.br/2023/19-12-1915-nasce-edith-piaf-maior-expressao-da-chanson-francesa/

 

 

 

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MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Carlos Lyra e a canção de protesto no Brasil

Da primeira geração da Bossa Nova e um dos criadores do CPC da UNE, compositor e violonista morreu no último dia 16

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Nesse domingo (16), veio a notícia da morte do compositor Carlos Lyra, da primeira geração da Bossa Nova e um dos artistas responsáveis por dar as principais características desse movimento musical que, à parte todas as controvérsias, tornou-se mundialmente reconhecido.

Pode-se falar muito sobre as refinadas melodias criadas pelo compositor, pode-se falar muito sobre os clássicos da música brasileira compostos por ele, pode-se falar de sua vida de compositor, grande violonista e artista consagrado.

Toda a contribuição de Carlos Lyra para a música brasileira certamente é muito maior do que as poucas notas que os jornais da burguesia dedicaram após a sua morte. Na realidade, passou-se com Lyra o que se passa com grandes artistas brasileiros. A despeito de sua importância, a imprensa só lembra deles, com muita sorte, após a morte. As fofocas sobre a vida fútil de pseudo-artistas gringos ou gringo-brasileiros parecem bem mais importantes do que os nomes que fizeram parte efetivamente da música brasileira.

Mas voltemos à importância de Lyra. Toda a contribuição artística e musical inegável dele pode e deve ser citada e analisada. Mas haverá um fato na vida desse artista que pouco ou nenhum destaque será dado pela imprensa capitalista.

Carlos Lyra não foi apenas um dos criadores da Bossa Nova, foi também um dissidente dela. Em 1960, o compositor rompe com aquela imagem despolitizada, em grande medida até mesmo superficial, dos temas da Basso Nova e passa a fazer canções sociais.

Lyra é uma espécie de representante de uma ala esquerda da Bossa Nova. Não seria exagero dizer que, graças a ele, a chamada MPB torna-se o movimento musical de protesto que seria a partir dos anos 60.

A canção de protesto inunda o mundo nos anos 60. O Brasil, com a MPB, está na vanguarda desse movimento que se alastra pelos demais países latino-americanos, como Chile, Argentina e Cuba, chega até os Estados Unidos e a Europa.

Em 1961, escreve, com Chico de Assis, a “Canção do subdesenvolvido”, uma crítica à dominação imperialista no Brasil. Essa música é considerada, por alguns, como um precursor da canção de protesto na MPB.

É também em 1961 que Lyra, junto com dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o vianinha, o poeta Ferreira Gullar e o cineasta Leon Hirszman, cria o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE.

A proposta do CPC era a de aproximar a intelectualidade aos artistas populares. É graças ao CPC que compositores populares, hoje muito conhecidos, como Cartola, Nelson Cavaquinho, João do Vale, Zé Keti, são resgatados para o grande público, principalmente para a juventude mobilizada, naqueles anos que precederam o golpe de Estado de 1964. O CPC, inclusive, tem vida curta, sendo destruído pelo golpe. Mesmo com esse período curto de existência, o CPC foi responsável direta ou indiretamente pelas melhores criações artísticas no Brasil naquele momento.

Nessa época, Carlos Lyra é filiado ao Partido Comunista Brasileiro, como seus outros parceiros de CPC.

Com Vinícius de Moraes, que também rompeu com a primeira fase da Bossa Nova, buscando ligação com uma música mais popular, escreveu o Hino da UNE.

União Nacional dos Estudantes

Mocidade brasileira

Nosso hino é nossa bandeira

De pé a jovem guarda

A classe estudantil

Sempre na vanguarda

Trabalha pelo Brasil

A nossa mensagem de coragem

É que traz um canto de esperança

Num Brasil em paz

A UNE reúne futuro e tradição

A UNE, a UNE, a UNE é união

A UNE, a UNE, a UNE somos nós

A UNE, a UNE, a UNE é nossa voz

Também em parceria com Vinícius de Moraes, escreve “Maria Moita”, com os versos finais “Pra por pra trabalhar/Gente que nunca trabalhou”, a canção tem uma bela letra com uma crítica social muito bem colocada, mostrando bem a radicalização daquela vertente da Bossa Nova.

Nasci lá na Bahia

De Mucama com feitor

Meu pai dormia em cama

Minha mãe no pisador

Meu pai só dizia assim, venha cá

Minha mãe dizia sim, sem falar

Mulher que fala muito perde logo seu amor

Deus fez primeiro o homem

A mulher nasceu depois

Por isso é que a mulher

Trabalha sempre pelos dois

Homem acaba de chegar, tá com fome

A mulher tem que olhar pelo homem

E é deitada, em pé, mulher tem é que trabalhar

O rico acorda tarde, já começa resmungar

O pobre acorda cedo, já começa trabalhar

Vou pedir ao meu Babalorixá

Pra fazer uma oração pra Xangô

Pra por pra trabalhar

Gente que nunca trabalhou

Uma curiosidade sobre essa música é que o rifa inicial, foi muito possivelmente plagiado pela banda de rock britânica Deep Purple, na famosíssima música “Smoke on the Water”. Isso significa que o rife mais famoso da história do rock foi copiado da música brasileira.

Entre os grandes parceiros de Lyra, além de Vinícius, com quem compôs clássicos como “Minha namorada” e muitos outros, também estão Ronaldo Bôscoli e Geraldo Vandré. Lyra foi quem incentivou Vandré a compor, tornando parceiros em “Quem Quiser Encontrar Amor” e “Aruanda”.

Esse breve relato mostra a importância de Carlos Lyra na música popular brasileira. Não uma importância meramente artística. Empurrado pela radicalização política do início da década de 60, Lyra abandonou o conforto de quem já era um artista dotado de certa fama para produzir uma música nova, engajada, mais do que isso, colocou sua arte a serviço da luta popular.

https://causaoperaria.org.br/2023/carlos-lyra-e-a-cancao-de-protesto-no-brasil/

 

 

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NOTÍCIAS

O Iron Maiden anunciou mais um show em São Paulo, devido a alta procura pelos ingressos da primeira data. 

A banda fará a segunda apresentação na capital paulista no dia 7 de dezembro de 2024, também no Allianz Parque.

Fonte : https://www.vagalume.com.br/news/2023/12/20/iron-maiden-anuncia-show-extra-em-sao-paulo2.html

 

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ÓPERA

22/12/1858: nasce Puccini, maior compositor italiano após Verdi

Giacomo Puccini nasceu em Luca, cidade na região da Toscana, Itália

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Giacomo Puccini nasceu em 22 de dezembro de 1858, em Luca, cidade na região da Toscana, Itália. Ele veio de uma longa linhagem de músicos, e desde cedo mostrou grande afinidade com a música. Seu pai, Michele Puccini, era organista e maestro na Catedral de São Martinho, em Luca, e foi sob sua tutela que Giacomo começou a aprender música.

A educação musical de Puccini continuou no Conservatório de Milão, onde estudou de 1880 a 1883. Durante seus anos de formação, ele foi influenciado por compositores contemporâneos como Verdi e Wagner, assim como pelas tradições operísticas italianas.

O primeiro sucesso significativo de Puccini veio com a ópera Manon Lescaut (1893), que estabeleceu seu nome como um dos principais compositores de ópera da época. No entanto, foi com La Bohème (1896) que Puccini atingiu um patamar de reconhecimento internacional. Esta ópera, ambientada na vibrante cena artística de Paris, é amplamente considerada uma obra-prima, apreciada tanto por sua rica partitura quanto por seu retrato emocional e realista dos personagens.

O compositor continuou a produzir óperas de sucesso, incluindo Tosca (1900), uma tragédia política ambientada em Roma, e Madama Butterfly (1904), uma história de amor entre uma jovem japonesa e um oficial naval americano. Ambas as óperas foram recebidas com aclamação, consolidando a posição de Puccini como um mestre da ópera italiana.

A carreira de Puccini, no entanto, não foi apenas marcada por triunfos. Turandot (1926), sua última ópera, ficou inacabada devido à morte prematura do compositor em 29 de novembro de 1924. A conclusão foi realizada por Franco Alfano, seguindo instruções deixadas por Puccini.

A obra de Giacomo Puccini é conhecida por suas melodias emotivas, histórias tocantes e personagens complexos. Suas óperas continuam a ser representadas em teatros de todo o mundo, encantando audiências com sua beleza lírica e profunda expressividade. Giacomo Puccini deixou um legado, solidificando seu lugar como o maior compositor italiano de ópera após Verdi.

https://causaoperaria.org.br/2023/22-12-1858-nasce-puccini-maior-compositor-italiano-apos-verdi/

 

 

 

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HISTÓRIA DO JAZZ

23/12/1929: 94 anos de Chet Baker, grande expoente do cool jazz

Baker passou grande parte de sua carreira se apresentando e gravando na Europa, onde encontrou um público mais acolhedor

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Chet Baker foi um importante trompetista e cantor de jazz que nasceu em 23 de dezembro de 1929, em Yale, Oklahoma, e faleceu em 13 de maio de 1988, em Amsterdã, Holanda. Baker é lembrado como um dos músicos mais importantes do cool jazz e uma figura marcante na cena jazzística do século XX.

Sua carreira começou a decolar na década de 1950, quando ele se juntou à banda de Gerry Mulligan, tornando-se um dos principais expoentes do cool jazz, um subgênero que se destacava pela sua abordagem mais suave e relaxada em comparação com o bebop. Baker ganhou reconhecimento por seu estilo único e distintivo de tocar trompete, caracterizado por um som suave e lírico, muitas vezes associado à melancolia.

Chet também foi um talentoso vocalista, e suas interpretações suaves e íntimas de canções como My Funny Valentine e Time After Time conquistaram uma legião de fãs. Sua voz era tão única quanto seu talento no trompete, contribuindo para sua popularidade e versatilidade musical.

Chet Baker construiu uma extensa discografia ao longo de sua carreira, gravando inúmeros álbuns como líder e participando como coadjuvante em diversas gravações. Aqui estão algumas de suas principais obras e álbuns:

Chet Baker Sings (1954): este álbum é um dos marcos na carreira de Chet Baker como cantor. Ele combina suas habilidades no trompete com sua voz suave em interpretações memoráveis de standards como My Funny Valentine e I Fall in Love Too Easily.

Chet Baker & Strings (1954): neste álbum, Baker toca acompanhado por uma seção de cordas, proporcionando um ambiente mais rico e lírico para sua interpretação no trompete. Destacam-se faixas como You Don’t Know What Love Is e Autumn in New York.

Chet (1959): também conhecido como The Lyrical Trumpet of Chet Baker, este álbum destaca o estilo lírico de Baker. Destacam-se faixas como Alone Together e How High the Moon.

My Funny Valentine (1954): este álbum ao vivo foi gravado no Pacific Jazz Club em Los Angeles e destaca a interpretação única de Baker da balada que dá nome ao álbum.

Chet Baker in New York (1958): Baker gravou este álbum durante uma visita aos Estados Unidos e colaborou com músicos notáveis como Johnny Griffin e Al Haig. Destacam-se faixas como Fair Weather e Hotel 49.

It Could Happen to You (1958): este álbum apresenta Chet Baker acompanhado por um quarteto e inclui interpretações notáveis de standards como Do It the Hard Way e Old Devil Moon.

Chet Baker Plays the Best of Lerner and Loewe (1959): Baker explora composições do duo de compositores Lerner e Loewe neste álbum, oferecendo uma abordagem única a músicas de peças de teatro populares.

A vida pessoal de Chet Baker foi marcada por altos e baixos. Ele enfrentou vários problemas relacionados ao uso de drogas ao longo de sua carreira, o que eventualmente teve um impacto negativo em sua reputação e vida pessoal. Apesar disso, Baker continuou a gravar e se apresentar, deixando um legado na história do jazz.

Baker passou grande parte de sua carreira se apresentando e gravando na Europa, onde encontrou um público mais acolhedor e uma cena musical vibrante. Sua mudança para o Velho Continente foi também influenciada por questões legais relacionadas ao uso de drogas nos Estados Unidos.

Infelizmente, Chet Baker teve um final trágico em 1988, quando foi encontrado morto em Amsterdã, aos 58 anos, após cair de uma janela de seu quarto de hotel. Sua morte foi considerada um acidente, mas as circunstâncias ainda geram controvérsia e mistério – muitos afirmam ter sido suicídio.

 

https://causaoperaria.org.br/2023/23-12-1929-94-anos-de-chet-baker-grande-expoente-do-cool-jazz/

 

 

 

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Chapolin Gremista
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DIA DE HOJE NA HISTÓRIA

5/1/1915: 109 anos de Humberto Teixeira, o Doutor do Baião

Em 1947, a dupla de Humberto fez seu  maior sucesso, "Asa Branca", o Baião tornou-se um sucesso nacional e internacional

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Humberto Teixeira, nasceu em 5 de janeiro de 1915, além de compositor e parceiro de Luiz Gonzaga também foi advogado e político.

É conhecido, pois faz uma das músicas mais lindas do cancioneiro popular que é a melodia Asa Branca em parceria com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Foi fundador e Presidente da Academia Brasileira de Música Popular. Sua trajetória na música e nas artes começa cedo.  Aos seis anos, aprendeu a tocar musette versão francesa da gaita de foles, aprendeu também flauta e bandolim. O seu tio, Lafaiete Teixeira, foi um grande incentivador, era maestro e tocava vários instrumentos.

Aos 15 anos foi para o Rio de Janeiro onde já aos 18 anos, em 1934, foi premiado com a música Meu Pecadinho em num concurso de música carnavalesca.

O encontro com Luiz Gonzaga aconteceu em 1945 e foi maravilhoso, com isso, surgiu a intenção de enaltecer o ritmo nordestino com diversas canções.

Em 1947, a dupla fez seu maior sucesso, “Asa Branca”, o Baião tornou-se um sucesso nacional e internacional.

Depois fez músicas com outros cantores renomados da época, como Dalva de Oliveira e Sivuca.

Depois foi para a política, elegeu-se deputado por três vezes consecutivos, porém a música sempre presente em sua vida.

Humberto Teixeira morreu aos 64 anos, no dia 3 de outubro de 1979, de enfarte de miocárdio, em São Conrado, no Rio de Janeiro.

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Chapolin Gremista
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COLUNA

Sílvio Caldas – Histórias da música popular brasileira

A época de ouro da seresta e dos grupos regionais

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Das heranças trazidas da casa dos pais, herdei o álbum duplo, dos tempos dos LPs, “Histórias da música popular brasileira” de Sílvio Caldas, gravado ao vivo, 1973, cuja música de abertura, expressando a inspiração principal dos trabalhos, é o samba “Onde o céu azul é mais azul” de João de Barros, Alcir Pires e Alberto Ribeiro. Eis a letra da canção:

Eu já encontrei um dia alguém / Que me perguntou assim, iá, iá, / O seu Brasil o que é que tem / O seu Brasil onde é que está? / Onde o céu azul é mais azul / E uma cruz de estrelas mostra o Sul / Aí, se encontra o meu país / O meu Brasil grande, e tão feliz // E tem junto ao mar palmeirais / No sertão seringais / E no sul verdes pinheirais / Um jangadeiro que namora o mar / Verde mar, a beijar brancas praias sem fim / Quando baila o ar / Um garimpeiro que lá no sertão / Procura estrelas raras pelo chão / E um boiadeiro que tangendo os bois / Trabalha muito prá sonhar depois // E se é grande o céu, a terra e o mar / O seu povo bom não é menor / Mas o que faz admirar / Eu vou dizer guarde bem de cor / Quem vê o Brasil que não tem fim / Não chega saber por que razão / Este país tão grande assim / Cabe inteirinho em meu coração.

Embora não se tenha celebrizado feito “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso ou “Aquarela brasileira” de Martinho da Vila, quando se trata de sambas de exaltação do Brasil, vale lembrar de “Onde o céu azul é mais azul”, cujos versos parecem mais engenhosos que a composição de Ary Barroso e as descrições, tão bonitas quanto as de Martinho da Vila.

Quando o nacionalismo tem caráter burguês, boa parte dos valores exaltados se emprega para encobrir a luta de classes e alienar o proletariado; os sambas mencionados admitem ser lidos assim, principalmente “Onde o céu azul é mais azul”, pois nele todos os brasileiros são felizes, com jangadeiros, garimpeiros e boiadeiros dividindo o paraíso e suas riquezas… não há conflitos, nem parece o mesmo Brasil da prosa de Graciliano Ramos ou de Jorge Amado. Contudo, diante do imperialismo cultural, convocam-se, frequentemente, os valores nacionais para combater dominações estrangeiras; nessa luta, a utopia do samba citado pode se tornar socialismo, em que o homem, regido não pela exploração do trabalho alheio, vive em harmonia e pacificamente com a natureza.

Nessas circunstâncias, como entender o entusiasmo das “Histórias da música popular brasileira” de Sílvio Caldas? No álbum, o cantor, compositor e violonista interpreta uma antologia de canções brasileiras, colhidas, basicamente, no ambiente urbano, a maioria composta do início do século XX até a década de 1960, excluindo-se, portanto, as músicas folclóricas, regionais, a Bossa Nova e o Tropicalismo; durante a apresentação, entre uma canção e outra, Sílvio Caldas, com bom humor, relata crônicas e anedotas da música popular brasileira, das quais, a maioria, ele próprio participou. Não se tratara de show ao vivo, apenas se reuniram os músicos e algumas pessoas, improvisando-se, para a gravação, um pequeno auditório no principal estúdio da CBS; além disso, Caldas é acompanhado pelo inesquecível Regional do Canhoto, formado pelo mais importante trio de cordas brasileiro, ou melhor, o próprio Canhoto, tocando cavaquinho, Dino, violão de sete cordas e Meira, violão.

Tais conjuntos, de formação semelhante, espalham-se pela história da música; praticamente, em cada região do mundo, encontram-se modos de dispor, entre a percussão e frequências agudas, médias e graves, os músicos e seus instrumentos. Na Índia, há os trios com solistas, tocando flauta, sitar, sarod, saranji ou santoor, nas zonas agudas e médias, com a tambura, na zona grave e a tabla, para percussão; no jazz, os celebres trios de piano, contrabaixo e bateria; no rock, igualmente célebres, os trios de guitarra, baixo e bateria; na música brasileira, os trios de forró, com a sanfona cobrindo frequências agudas e médias, a zabumba, as graves, e o triângulo, a percussão; ainda na música brasileira, nos regionais, cabe, ao cavaquinho, as zonas agudas e a divisão rítmica, ao violão, a zona média e a harmonia, ao violão de sete cordas, os contrapontos na zona grave, e, ao pandeiro, a marcação e a divisão rítmicas. A essa formação básica, somam-se, eventualmente, outros instrumentos de percussão ou contraponto, tais quais flauta, bandolim ou saxofone, caracterizando os grupos de chorinho, ou cantor, quando se faz seresta.

Dessa maneira, se há padrões gerais e abstratos, regendo a distribuição de frequência e funções na tessitura musical, esses princípios assumem, em cada canto do mundo, características concretas e específicas, determinadas socialmente. Nos grupos indianos, por exemplo, a música, assumindo conotações religiosas e inserindo-se nos templos, realiza-se no seio do silêncio, com os músicos tocando sentados no chão; nos trios de jazz, constituídos em bares e clubes noturnos, também se toca parado, no palco, mas em meio à algaravia do ambiente; quanto às influências da modernidade, no rock, dialoga-se, mediante instrumentos eletrônicos, com a tecnologia; na música dos regionais, formada na urbanidade do início do século XX, a mobilidade é total, pois os músicos se identificam a boêmios, bandalhos e malandros, conforme Sílvio Caldas confirma nas “Histórias da música popular brasileira”.

Embora a gravação seja de 1973, época posterior à Bossa Nova e concomitante ao Tropicalismo, para Sílvio Caldas, os dois movimentos estão excluídos da MPB, termo cunhado nos anos 1965, quando emergia a indústria cultural no Brasil; em 1973, Caldas completou 65 anos de vida, fazendo com que suas histórias, consequentemente, parecem próprias da Velha Bossa, inserindo-se, assim, em tempos passados, aptos a assumir, pelo menos, duas características: (1) estilos com vistas a serem superados por vocações modernas, pretensamente cosmopolitas, surgidas por volta dos anos 1950; (2) embates culturais contra o imperialismo. Nas duas características, retomando a formação dos grupos regionais, justamente no timbre, expresso mediante os instrumentos musicais, materializam-se tanto as impressões de antiguidade quanto os embates contra o monopólio da música comercial.

Em vista disso, cabe indagar por que se debruçar, justamente, sobre o timbre. Ora, das propriedades do som, isto é, frequência, duração, intensidade e timbre, enquanto as três primeiras admitem descrições formais, o timbre, embora também passível de formalizações, tende, preponderantemente, para a materialização da música mediante, principalmente, a técnica, seja artesanal seja industrial, de fabricação dos instrumentos musicais. Além disso, os valores sociais projetados na música, indicados antes, refletem-se nessa fabricação; dessa maneira, no decorrer da história, fabricam-se órgãos, para as catedrais, pianos, para os salões burgueses, violões e cavaquinhos, para, nos tempos de Sílvio Caldas, as serestas e a boemia. O timbre, por isso, com mais evidência que as demais propriedades do som, permite discutir a inserção social da música, justamente, por materializá-la e, nessa materialização, refletir as relações de produção tanto dos meios pelos quais a música se expressa, quanto as cenas sociais, instauradas por ela.

Desse ponto de vista, ao contar suas histórias, Sílvio Caldas não se dedica apenas a falar das crônicas da música popular do Brasil, expondo seu repertório, mas insiste na valorização de uma formação musical genuinamente brasileira, quer dizer, os regionais, realizando a apresentação acompanhado, orgulhosamente, pelo melhor regional de todos os tempos. Nessa questão, a militância de Sílvio Caldas é exemplar pois, independentemente dos engajamentos ideológicos, se de esquerda ou de direita, ao insistir no timbre especificamente brasileiro, ele termina combatendo, nos tempos do capitalismo, a indústria cultural e as mazelas trazidas pelo imperialismo, no caso, com duas frentes de destruição: (1) a indústria dos instrumentos musicais; (2) a desvalorização das culturas nacionais, com vistas a menosprezar a pluralidade dos povos e seus costumes.

Ainda quanto ao timbre, os trabalhos de Sílvio Caldas não se restringem aos companheiros instrumentistas, pois ele se coloca por meio de voz; acerca disso, vale a pena comparar sua entonação com a coleção de vozes canhestras, advindas da Bossa Nova e do Tropicalismo. Nessas circunstâncias, embora nas duas vanguardas surgissem cantoras de talento indiscutível, entre elas, Elis Regina e Gal Costa, a Bossa Nova também admite vozes infelizes, tais quais Nara Leão ou, em parte das vezes, João Gilberto e, quase sempre, Caetano Veloso. O dano, porém, consiste em relegar a Velha Bossa, de vertente importante da música brasileira, ao estatuto de velharia, quando muito, de antiguidade, merecendo, assim, constar na história da MPB, somente, enquanto etapa devidamente superada.

Sílvio Caldas, antes de tudo, foi um cantor exímio, dono de uma voz belíssima; dedicado à seresta, deu vida a canções feito “Eu sonhei que tu estavas tão linda” de Lamartine Nabo, “A deusa da minha rua” de Newton Teixeira e Jorge Faraj e àquela que, segundo vários poetas, contém os versos mais belos da poesia brasileira, quer dizer, “Chão de estrelas” de Orestes Barbosa:

Minha vida era um palco iluminado / Eu vivia vestido de dourado / Palhaço das perdidas ilusões / Cheio dos guizos falsos da alegria / Andei cantando a minha fantasia / Entre as palmas febris dos corações // Meu barracão, no morro do Salgueiro / Tinha o cantar alegre de um viveiro / Foste a sonoridade que acabou / E, hoje, quando do sol, a claridade / Forra o meu barracão, sinto saudade / Da mulher, pomba rola, que voou // Nossas roupas comuns dependuradas / Na corda qual bandeiras agitadas / Parecia um estranho festival / Festa dos nossos trapos coloridos / A mostrar, que nos morros, malvestidos / É sempre feriado nacional // A porta do barraco era sem trinco / Mas a lua furando o nosso zinco / Salpicava de estrelas nosso chão / E tu pisavas nos astros distraída / Sem saber que a ventura desta vida / É a cabrocha, o luar / E o violão

A letra não se resume a trocadilhos incoerentes ou a banalidades de vida burguesa, nem sequer a favela é quarto de despejo, sem valor algum; apenas para ilustrar a riqueza da poesia, eis alguns versos: “E, hoje, quando do sol, a claridade / Forra o meu barracão, sinto saudade”, “Nossas roupas comuns dependuradas / Na corda qual bandeiras agitadas / Parecia um estranho festival / Festa dos nossos trapos coloridos” e “A porta do barraco era sem trinco / Mas a lua furando o nosso zinco / Salpicava de estrelas nosso chão / E tu pisavas nos astros distraída”. Ao que tudo indica, desvalorizar um eminente cantor pardo, tocador de violão – segundo Caldas, em suas crônicas, instrumento considerado, na época, instrumento de malandros e capadócios –, quem divulgou a cultura das vilas, morros e favelas com tamanha insistência, é desvalorizar, acima de tudo, o papel dos negros na cultura brasileira.

Dessa maneira, insistindo no Brasil, Caldas termina por enfatizar a língua portuguesa enquanto expressão cultural; entre suas histórias, não faltam palavras sobre o combate ao imperialismo linguístico, trazido pela indústria cultural, no caso, trazido pelo cinema e disseminado nas canções. Para tanto, ele ilustra sua luta com a composição “Não tem tradução” de Noel Rosa:

O cinema falado é o grande culpado da transformação / Dessa gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez / Lá no morro, seu eu fizer uma falseta / A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês // A gíria que o nosso morro criou / Bem cedo a cidade aceitou e usou / Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote / E só querendo dançar o foxtrote // Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição / Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês / Tudo aquilo que o malandro pronuncia / Com voz macia é brasileiro, já passou de português // Amor lá no morro é amor pra chuchu / As rimas do samba não são I love you / E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny / Só pode ser conversa de telefone…

A letra da canção fala por si mesma… nela se defendem, sem rodeios: (1) a variante brasileira da língua portuguesa, explicando, inclusive, a expressão da subjetividade do brasileiro mediante seu idioma – 1ª, 3ª e 4ª estrofes –; (2) os diálogos entre as variantes populares e a norma urbana culta na disseminação do português falado no Brasil – 2ª estrofe –; (3) as peculiaridades entre língua e cultura – 3ª estrofe –; (4) a marginalização do malandro, dançarino de gafieira, um ritmo sofisticado, quem, abandonando sua identidade, passa a dançar foxtrote, assimilando-se ao imperialismo cultural – 3ª estrofe –; (5) o amansamento do malandro ao deixar de “dar pinotes”, ou seja, brigar, para se reduzir a mero dançarino de salão – 3ª estrofe –.

Não se trata, em absoluto, de desvalorizar influências estrangeiras, isso seria tolice; a própria música, levada adiante por Sílvio Caldas, permeia-se de elementos vindos da Europa, a começar pelo sistema tonal, os instrumentos, a língua portuguesa, isso para não mencionar as influências do jazz tanto no chorinho quanto na música de gafieira. Em vista disso, cabe discutir, pelo menos, duas questões: (1) quando influências se tornam concessões, com riscos à descaracterização da música brasileira; (2) porque alguns ouvintes contemporâneos mal conseguem escutar Silvio Caldas sem se aborrecer ou menosprezar seja seus modos de cantar seja o repertório.

Para cuidar disso, tomo a liberdade de, por fim, relatar uma crônica universitária. Certa tarde, já na segunda década do século XXI, trabalhando com dois alunos de pós-graduação em letras, escutávamos o álbum “Buena Vista Social Club”; para quem não se lembra, trata-se do grupo de músicos cubanos fundado em 1996 pelo executivo Nick Gold, com produção do guitarrista norte-americano Ry Cooder e direção de Juan de Marcos González. Entre os componentes do projeto, encontravam-se os músicos Compay Segundo, Rubén Gonzáles e Ibrahim Ferrer; o grupo de notabilizou com o documentário homônimo do cineasta alemão Wim Wenders, lançado em 1999.

Naquela tarde, ao sabor da salsa, motivado pelos timbres dos instrumentos musicais e pela entonação dos cantores, característicos do que se poderia chamar a Velha Bossa de Cuba, caso se comparem os músicos do Buena Vista com bandas modernas cubanas, tais quais Irakere, N G la Banda ou Los Van Van, sugeri escutarmos Jorge Goulart, acompanhado de orquestra de gafieira, interpretando “Onde o céu azul é mais azul”, ou seja, a Velha Bossa do Brasil. Para minha surpresa, os dois estudantes, embora embevecidos com os cubanos, detestaram a música brasileira, mal conseguindo perceber os termos da comparação; diante disso, vale a pena questionar os motivos do desprezo, afinal, as culturas brasileira e cubana, mediante a presença dos negros, aproximam-se bastante, e as canções, sendo da mesma época, ou seja, meados do século XX, partilhavam de várias semelhanças, entre elas, os já mencionados timbres e formações musicais.

Quem sabe, se Sílvio Caldas e demais artistas da Velha Bossa fossem produzidos pela indústria cultural, com vistas a fazer novas propagandas contra a Revolução Cubana, meus alunos talvez conseguissem, senão entender, pelo menos prestar alguma atenção no próprio país.

https://causaoperaria.org.br/2024/silvio-caldas-historias-da-musica-popular-brasileira/

 

 

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Chapolin Gremista
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50 anos do álbum The Lamb Lies Down on Broadway

O último álbum da formação clássica do Genesis, embora em meio a uma crise, é uma grande obra do rock progressivo

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Odisco Lamb lies down on Broadway, da banda Genesis, marca o começo do fim de uma fase de um dos grupos mais emblemáticos do progressivo inglês. Lançado em 1974 e completando 50 anos, ele é o último álbum que conta com a participação do seu então vocalista, Peter Gabriel.

Conhecido pelas letras envolventes e fantasiosas, além da teatralidade e apresentação nos palcos, Gabriel, a essa altura, já estava, segundo o ex-guitarrista da banda Steve Hackett, numa disputa de espaço com o restante da banda. As letras das músicas estavam cada vez mais longas e tomando cada vez mais espaço nas composições, criando um desequilíbrio com a parte instrumental da banda, carregada principalmente dos teclados de Tony Banks. Para o estilo musical do Genesis, que sempre apresentou longas passagens instrumentais no desenvolvimento das músicas, isso acabava por ser problemático.

Mesmo com toda essa crise, Lamb se tornou uma obra-prima, que inclusive abriu as portas para uma maior popularidade da banda nos EUA e em diversos outros países fora do Reino Unido. Como era comum naquele momento da história, era um disco conceitual, o que quer dizer que suas canções contavam uma história (ainda que, nesse caso, fosse uma bastante surreal e difícil de acompanhar).

A história é do porto-riquenho Rael, que entra numa espiral de loucura e fantasias durante uma noitada pelas ruas de Nova Iorque, viajando para lugares fantásticos e conhecendo criaturas mitológicas.

O disco é duplo, portanto, longo, então não cabe nesta breve coluna uma análise de cada uma das canções, mas convém destacar algumas que são minhas favoritas. Em primeiro lugar, In the cage¸ em que Rael, acorda dentro de uma jaula, que ora se apresenta como uma caverna, e suplica por sanidade em meio a um surto de loucura do qual não consegue escapar. Musicalmente, é uma obra-prima de 8 minutos, envolvendo o ouvinte com suas ambiências feitas nos teclados eletrônicos, desembocando num solo histórico de sintetizador, de arrepiar os cabelos.

A canção The chamber of 32 doors trata do que parece ser um conflito de Rael entre os diversos caminhos a tomar para recobrar sua sanidade e voltar para casa. Em meio a diversas portas, ele vê seus pais, pessoas ricas, pessoas pobres, faz uma breve observação sobre por que ele confia mais no “homem do campo”, em uma letra bastante lírica e marcante. Um destaque para o solo de guitarra da introdução, que acaba numa pausa completa de quase um segundo de duração, deixando o ouvinte com o coração na boca, e para as linhas orquestrais dos teclados de Tony Banks.

The Lamia, já no 2º disco é o encontro de Rael com criaturas aparentadas com vampiros, chamadas Lamias. Elas tentam seduzi-lo, mas ele as derrota com alho, comendo a sua carne para sobreviver. Destaque para o solo final de guitarra, precedido pelo inesquecível verso “Olhando para trás, a água assume um azul gelado. As luzes estão apagadas e mais uma vez o palco está montado para você” (tradução livre).

Há muito mais para destacar nessa obra que completa seus 50 anos em 2024, a empolgante bateria de Phil Collins, o som de baixo distorcido e inconfundível de Michael Rutherford e o desfecho de toda a história de Rael. O que se pode resumir é que é uma audição obrigatória e uma recomendação pessoal. Coloco abaixo um link para uma versão onde um artista desenhou as passagens do álbum e criou um vídeo, tornando a história um tanto mais compreensível:

 

https://causaoperaria.org.br/2024/50-anos-do-album-the-lamb-lies-down-on-broadway/

 

 

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Chapolin Gremista
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MÚSICA ERUDITA

6/1/1872: 152 anos de Scriabin, um dos maiores pianistas russos

Scriabin acreditava na fusão da música com todas as formas de arte, incluindo a poesia, dança e a iluminação

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Alexander Scriabin foi um compositor e pianista russo, nascido em 6 de janeiro de 1872, em Moscou. Ele faleceu em 27 de abril de 1915, na mesma cidade. É conhecido por suas obras inovadoras e experimentais que transcenderam as convenções musicais de sua época.

Scriabin começou a estudar piano desde muito jovem, demonstrando um talento excepcional. Ele ingressou no Conservatório de Moscou aos 11 anos, onde estudou piano com Sergei Taneyev e composição com Nikolai Rimsky-Korsakov. Ao longo de sua formação, Scriabin mostrou-se um estudante dedicado, absorvendo influências de compositores de sua época e desenvolvendo seu estilo único.

Influenciado inicialmente por grandes nomes da música como Chopin, Liszt e Wagner, Scriabin logo começou a buscar uma linguagem musical distinta. Sua música evoluiu de composições românticas para obras mais complexas. Ele acreditava na fusão de todas as formas de arte, incluindo música, poesia, dança e iluminação.

Uma característica marcante das composições de Scriabin é o uso extensivo de acordes de nona e harmonias cromáticas. Ele também desenvolveu um sistema tonal próprio, conhecido como “prometeísmo”, que buscava uma síntese total das artes e uma expressão transcendental. Acreditava que sua música tinha o poder de evocar experiências místicas e espirituais.

Uma das obras mais conhecidas de Scriabin é a sua série de dez sonatas para piano, que reflete sua evolução estilística ao longo do tempo. Além disso, sua sinfonia Prometeu, o Poema do Fogo é notável pela inclusão de um “teclado de luz” que deveria acompanhar a performance musical.

Scriabin também era um pianista virtuoso e frequentemente interpretava suas próprias composições. Ele teve uma carreira de sucesso como concertista, viajando pela Rússia e pela Europa para apresentar suas obras inovadoras.

Infelizmente, a vida e carreira de Scriabin foram interrompidas precocemente quando ele morreu aos 43 anos, vítima de uma infecção bacteriana. Apesar de sua morte prematura, o legado de Alexander Scriabin vive através de suas composições inovadoras, que continuam a inspirar músicos até os dias de hoje.

 

https://causaoperaria.org.br/2024/6-1-1872-152-anos-de-scriabin-um-dos-maiores-pianistas-russos/

 

 

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Miles Davis e a vanguarda artística do jazz

Davis desempenhou um papel importante para a música internacional e seu trabalho influenciou a trajetória da música contemporânea

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OJazz, nascido nas entranhas culturais e sociais dos Estados Unidos, é um gênero musical que se destaca por sua diversidade e improvisação. No cerne desse movimento, Miles Davis é um dos artistas fundamentais do gênero, sendo um dos nomes principais (senão o principal) da era pós-bebop, nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Davis também deixou um impacto duradouro na música mundial, elevando-a a novas alturas de expressão artística.

O Jazz, nascido no início do século XX, é um gênero musical mestiço, que reflete as complexidades e diversidades da sociedade norte-americana. Originado nas comunidades negras, o Jazz tornou-se um veículo poderoso para a expressão cultural e social, proporcionando um espaço de manifestação artística para um grupo segregado pela burguesia dos Estados Unidos.

Miles Davis é um resultado de toda uma evolução do gênero musical. Antes dele, o Jazz alcançou o patamar de vanguarda musical, principalmente com os músicos das décadas de 1930 e 1940, quando houve um importante desenvolvimento político do negro na sociedade norte-americana. Davis, com a invenção do cool jazz, um desenvolvimento do bebop, é o resultado final dessa evolução, surgindo no momento em que os negros estavam às vésperas de conquistar seus direitos políticos com o fim da segregação — que acabou definitivamente na década de 1960.

A influência de Miles Davis não se limitou apenas ao Jazz tradicional: ele foi um catalisador para a vanguarda artística na música. Sua abordagem inovadora levou o Jazz a territórios sonoros inexplorados. Ele foi um pioneiro não apenas no movimento do cool jazz, mas também do modal jazz e fusion, cada um desses estilos marcando uma nova era na história do gênero.

O modal jazz, por exemplo, representou, também, uma enorme revolução na música da época. A partir daí, os artistas improvisavam em cima de determinado standard não mais pensando em centros tonais, mas sim em modos gregos, transitando de um para o outro com base nos acordes da música.

Ao explorar novas escalas e modos, Miles Davis elevou o nível musical do Jazz, inspirando gerações futuras de músicos a uma maior liberdade criativa. Seu álbum icônico “Kind of Blue”, lançado em 1959, é frequentemente aclamado como um dos maiores álbuns de Jazz de todos os tempos. Além de suas contribuições inestimáveis para o Jazz, sua influência é evidente em uma variedade de gêneros, desde o rock até a música eletrônica.

Davis desempenhou um papel essencial para a música. Foi uma figura revolucionária que, até a sua morte, não parou de inovar no Jazz.

https://causaoperaria.org.br/2024/miles-davis-e-a-vanguarda-artistica-do-jazz/

 

 

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Sílvio Caldas – Histórias da música popular brasileira

A época de ouro da seresta e dos grupos regionais

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Das heranças trazidas da casa dos pais, herdei o álbum duplo, dos tempos dos LPs, “Histórias da música popular brasileira” de Sílvio Caldas, gravado ao vivo, 1973, cuja música de abertura, expressando a inspiração principal dos trabalhos, é o samba “Onde o céu azul é mais azul” de João de Barros, Alcir Pires e Alberto Ribeiro. Eis a letra da canção:

Eu já encontrei um dia alguém / Que me perguntou assim, iá, iá, / O seu Brasil o que é que tem / O seu Brasil onde é que está? / Onde o céu azul é mais azul / E uma cruz de estrelas mostra o Sul / Aí, se encontra o meu país / O meu Brasil grande, e tão feliz // E tem junto ao mar palmeirais / No sertão seringais / E no sul verdes pinheirais / Um jangadeiro que namora o mar / Verde mar, a beijar brancas praias sem fim / Quando baila o ar / Um garimpeiro que lá no sertão / Procura estrelas raras pelo chão / E um boiadeiro que tangendo os bois / Trabalha muito prá sonhar depois // E se é grande o céu, a terra e o mar / O seu povo bom não é menor / Mas o que faz admirar / Eu vou dizer guarde bem de cor / Quem vê o Brasil que não tem fim / Não chega saber por que razão / Este país tão grande assim / Cabe inteirinho em meu coração.

Embora não se tenha celebrizado feito “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso ou “Aquarela brasileira” de Martinho da Vila, quando se trata de sambas de exaltação do Brasil, vale lembrar de “Onde o céu azul é mais azul”, cujos versos parecem mais engenhosos que a composição de Ary Barroso e as descrições, tão bonitas quanto as de Martinho da Vila.

Quando o nacionalismo tem caráter burguês, boa parte dos valores exaltados se emprega para encobrir a luta de classes e alienar o proletariado; os sambas mencionados admitem ser lidos assim, principalmente “Onde o céu azul é mais azul”, pois nele todos os brasileiros são felizes, com jangadeiros, garimpeiros e boiadeiros dividindo o paraíso e suas riquezas… não há conflitos, nem parece o mesmo Brasil da prosa de Graciliano Ramos ou de Jorge Amado. Contudo, diante do imperialismo cultural, convocam-se, frequentemente, os valores nacionais para combater dominações estrangeiras; nessa luta, a utopia do samba citado pode se tornar socialismo, em que o homem, regido não pela exploração do trabalho alheio, vive em harmonia e pacificamente com a natureza.

Nessas circunstâncias, como entender o entusiasmo das “Histórias da música popular brasileira” de Sílvio Caldas? No álbum, o cantor, compositor e violonista interpreta uma antologia de canções brasileiras, colhidas, basicamente, no ambiente urbano, a maioria composta do início do século XX até a década de 1960, excluindo-se, portanto, as músicas folclóricas, regionais, a Bossa Nova e o Tropicalismo; durante a apresentação, entre uma canção e outra, Sílvio Caldas, com bom humor, relata crônicas e anedotas da música popular brasileira, das quais, a maioria, ele próprio participou. Não se tratara de show ao vivo, apenas se reuniram os músicos e algumas pessoas, improvisando-se, para a gravação, um pequeno auditório no principal estúdio da CBS; além disso, Caldas é acompanhado pelo inesquecível Regional do Canhoto, formado pelo mais importante trio de cordas brasileiro, ou melhor, o próprio Canhoto, tocando cavaquinho, Dino, violão de sete cordas e Meira, violão.

Tais conjuntos, de formação semelhante, espalham-se pela história da música; praticamente, em cada região do mundo, encontram-se modos de dispor, entre a percussão e frequências agudas, médias e graves, os músicos e seus instrumentos. Na Índia, há os trios com solistas, tocando flauta, sitar, sarod, saranji ou santoor, nas zonas agudas e médias, com a tambura, na zona grave e a tabla, para percussão; no jazz, os celebres trios de piano, contrabaixo e bateria; no rock, igualmente célebres, os trios de guitarra, baixo e bateria; na música brasileira, os trios de forró, com a sanfona cobrindo frequências agudas e médias, a zabumba, as graves, e o triângulo, a percussão; ainda na música brasileira, nos regionais, cabe, ao cavaquinho, as zonas agudas e a divisão rítmica, ao violão, a zona média e a harmonia, ao violão de sete cordas, os contrapontos na zona grave, e, ao pandeiro, a marcação e a divisão rítmicas. A essa formação básica, somam-se, eventualmente, outros instrumentos de percussão ou contraponto, tais quais flauta, bandolim ou saxofone, caracterizando os grupos de chorinho, ou cantor, quando se faz seresta.

Dessa maneira, se há padrões gerais e abstratos, regendo a distribuição de frequência e funções na tessitura musical, esses princípios assumem, em cada canto do mundo, características concretas e específicas, determinadas socialmente. Nos grupos indianos, por exemplo, a música, assumindo conotações religiosas e inserindo-se nos templos, realiza-se no seio do silêncio, com os músicos tocando sentados no chão; nos trios de jazz, constituídos em bares e clubes noturnos, também se toca parado, no palco, mas em meio à algaravia do ambiente; quanto às influências da modernidade, no rock, dialoga-se, mediante instrumentos eletrônicos, com a tecnologia; na música dos regionais, formada na urbanidade do início do século XX, a mobilidade é total, pois os músicos se identificam a boêmios, bandalhos e malandros, conforme Sílvio Caldas confirma nas “Histórias da música popular brasileira”.

Embora a gravação seja de 1973, época posterior à Bossa Nova e concomitante ao Tropicalismo, para Sílvio Caldas, os dois movimentos estão excluídos da MPB, termo cunhado nos anos 1965, quando emergia a indústria cultural no Brasil; em 1973, Caldas completou 65 anos de vida, fazendo com que suas histórias, consequentemente, parecem próprias da Velha Bossa, inserindo-se, assim, em tempos passados, aptos a assumir, pelo menos, duas características: (1) estilos com vistas a serem superados por vocações modernas, pretensamente cosmopolitas, surgidas por volta dos anos 1950; (2) embates culturais contra o imperialismo. Nas duas características, retomando a formação dos grupos regionais, justamente no timbre, expresso mediante os instrumentos musicais, materializam-se tanto as impressões de antiguidade quanto os embates contra o monopólio da música comercial.

Em vista disso, cabe indagar por que se debruçar, justamente, sobre o timbre. Ora, das propriedades do som, isto é, frequência, duração, intensidade e timbre, enquanto as três primeiras admitem descrições formais, o timbre, embora também passível de formalizações, tende, preponderantemente, para a materialização da música mediante, principalmente, a técnica, seja artesanal seja industrial, de fabricação dos instrumentos musicais. Além disso, os valores sociais projetados na música, indicados antes, refletem-se nessa fabricação; dessa maneira, no decorrer da história, fabricam-se órgãos, para as catedrais, pianos, para os salões burgueses, violões e cavaquinhos, para, nos tempos de Sílvio Caldas, as serestas e a boemia. O timbre, por isso, com mais evidência que as demais propriedades do som, permite discutir a inserção social da música, justamente, por materializá-la e, nessa materialização, refletir as relações de produção tanto dos meios pelos quais a música se expressa, quanto as cenas sociais, instauradas por ela.

Desse ponto de vista, ao contar suas histórias, Sílvio Caldas não se dedica apenas a falar das crônicas da música popular do Brasil, expondo seu repertório, mas insiste na valorização de uma formação musical genuinamente brasileira, quer dizer, os regionais, realizando a apresentação acompanhado, orgulhosamente, pelo melhor regional de todos os tempos. Nessa questão, a militância de Sílvio Caldas é exemplar pois, independentemente dos engajamentos ideológicos, se de esquerda ou de direita, ao insistir no timbre especificamente brasileiro, ele termina combatendo, nos tempos do capitalismo, a indústria cultural e as mazelas trazidas pelo imperialismo, no caso, com duas frentes de destruição: (1) a indústria dos instrumentos musicais; (2) a desvalorização das culturas nacionais, com vistas a menosprezar a pluralidade dos povos e seus costumes.

Ainda quanto ao timbre, os trabalhos de Sílvio Caldas não se restringem aos companheiros instrumentistas, pois ele se coloca por meio de voz; acerca disso, vale a pena comparar sua entonação com a coleção de vozes canhestras, advindas da Bossa Nova e do Tropicalismo. Nessas circunstâncias, embora nas duas vanguardas surgissem cantoras de talento indiscutível, entre elas, Elis Regina e Gal Costa, a Bossa Nova também admite vozes infelizes, tais quais Nara Leão ou, em parte das vezes, João Gilberto e, quase sempre, Caetano Veloso. O dano, porém, consiste em relegar a Velha Bossa, de vertente importante da música brasileira, ao estatuto de velharia, quando muito, de antiguidade, merecendo, assim, constar na história da MPB, somente, enquanto etapa devidamente superada.

Sílvio Caldas, antes de tudo, foi um cantor exímio, dono de uma voz belíssima; dedicado à seresta, deu vida a canções feito “Eu sonhei que tu estavas tão linda” de Lamartine Nabo, “A deusa da minha rua” de Newton Teixeira e Jorge Faraj e àquela que, segundo vários poetas, contém os versos mais belos da poesia brasileira, quer dizer, “Chão de estrelas” de Orestes Barbosa:

Minha vida era um palco iluminado / Eu vivia vestido de dourado / Palhaço das perdidas ilusões / Cheio dos guizos falsos da alegria / Andei cantando a minha fantasia / Entre as palmas febris dos corações // Meu barracão, no morro do Salgueiro / Tinha o cantar alegre de um viveiro / Foste a sonoridade que acabou / E, hoje, quando do sol, a claridade / Forra o meu barracão, sinto saudade / Da mulher, pomba rola, que voou // Nossas roupas comuns dependuradas / Na corda qual bandeiras agitadas / Parecia um estranho festival / Festa dos nossos trapos coloridos / A mostrar, que nos morros, malvestidos / É sempre feriado nacional // A porta do barraco era sem trinco / Mas a lua furando o nosso zinco / Salpicava de estrelas nosso chão / E tu pisavas nos astros distraída / Sem saber que a ventura desta vida / É a cabrocha, o luar / E o violão

A letra não se resume a trocadilhos incoerentes ou a banalidades de vida burguesa, nem sequer a favela é quarto de despejo, sem valor algum; apenas para ilustrar a riqueza da poesia, eis alguns versos: “E, hoje, quando do sol, a claridade / Forra o meu barracão, sinto saudade”, “Nossas roupas comuns dependuradas / Na corda qual bandeiras agitadas / Parecia um estranho festival / Festa dos nossos trapos coloridos” e “A porta do barraco era sem trinco / Mas a lua furando o nosso zinco / Salpicava de estrelas nosso chão / E tu pisavas nos astros distraída”. Ao que tudo indica, desvalorizar um eminente cantor pardo, tocador de violão – segundo Caldas, em suas crônicas, instrumento considerado, na época, instrumento de malandros e capadócios –, quem divulgou a cultura das vilas, morros e favelas com tamanha insistência, é desvalorizar, acima de tudo, o papel dos negros na cultura brasileira.

Dessa maneira, insistindo no Brasil, Caldas termina por enfatizar a língua portuguesa enquanto expressão cultural; entre suas histórias, não faltam palavras sobre o combate ao imperialismo linguístico, trazido pela indústria cultural, no caso, trazido pelo cinema e disseminado nas canções. Para tanto, ele ilustra sua luta com a composição “Não tem tradução” de Noel Rosa:

O cinema falado é o grande culpado da transformação / Dessa gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez / Lá no morro, seu eu fizer uma falseta / A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês // A gíria que o nosso morro criou / Bem cedo a cidade aceitou e usou / Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote / E só querendo dançar o foxtrote // Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição / Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês / Tudo aquilo que o malandro pronuncia / Com voz macia é brasileiro, já passou de português // Amor lá no morro é amor pra chuchu / As rimas do samba não são I love you / E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny / Só pode ser conversa de telefone…

A letra da canção fala por si mesma… nela se defendem, sem rodeios: (1) a variante brasileira da língua portuguesa, explicando, inclusive, a expressão da subjetividade do brasileiro mediante seu idioma – 1ª, 3ª e 4ª estrofes –; (2) os diálogos entre as variantes populares e a norma urbana culta na disseminação do português falado no Brasil – 2ª estrofe –; (3) as peculiaridades entre língua e cultura – 3ª estrofe –; (4) a marginalização do malandro, dançarino de gafieira, um ritmo sofisticado, quem, abandonando sua identidade, passa a dançar foxtrote, assimilando-se ao imperialismo cultural – 3ª estrofe –; (5) o amansamento do malandro ao deixar de “dar pinotes”, ou seja, brigar, para se reduzir a mero dançarino de salão – 3ª estrofe –.

Não se trata, em absoluto, de desvalorizar influências estrangeiras, isso seria tolice; a própria música, levada adiante por Sílvio Caldas, permeia-se de elementos vindos da Europa, a começar pelo sistema tonal, os instrumentos, a língua portuguesa, isso para não mencionar as influências do jazz tanto no chorinho quanto na música de gafieira. Em vista disso, cabe discutir, pelo menos, duas questões: (1) quando influências se tornam concessões, com riscos à descaracterização da música brasileira; (2) porque alguns ouvintes contemporâneos mal conseguem escutar Silvio Caldas sem se aborrecer ou menosprezar seja seus modos de cantar seja o repertório.

Para cuidar disso, tomo a liberdade de, por fim, relatar uma crônica universitária. Certa tarde, já na segunda década do século XXI, trabalhando com dois alunos de pós-graduação em letras, escutávamos o álbum “Buena Vista Social Club”; para quem não se lembra, trata-se do grupo de músicos cubanos fundado em 1996 pelo executivo Nick Gold, com produção do guitarrista norte-americano Ry Cooder e direção de Juan de Marcos González. Entre os componentes do projeto, encontravam-se os músicos Compay Segundo, Rubén Gonzáles e Ibrahim Ferrer; o grupo de notabilizou com o documentário homônimo do cineasta alemão Wim Wenders, lançado em 1999.

Naquela tarde, ao sabor da salsa, motivado pelos timbres dos instrumentos musicais e pela entonação dos cantores, característicos do que se poderia chamar a Velha Bossa de Cuba, caso se comparem os músicos do Buena Vista com bandas modernas cubanas, tais quais Irakere, N G la Banda ou Los Van Van, sugeri escutarmos Jorge Goulart, acompanhado de orquestra de gafieira, interpretando “Onde o céu azul é mais azul”, ou seja, a Velha Bossa do Brasil. Para minha surpresa, os dois estudantes, embora embevecidos com os cubanos, detestaram a música brasileira, mal conseguindo perceber os termos da comparação; diante disso, vale a pena questionar os motivos do desprezo, afinal, as culturas brasileira e cubana, mediante a presença dos negros, aproximam-se bastante, e as canções, sendo da mesma época, ou seja, meados do século XX, partilhavam de várias semelhanças, entre elas, os já mencionados timbres e formações musicais.

Quem sabe, se Sílvio Caldas e demais artistas da Velha Bossa fossem produzidos pela indústria cultural, com vistas a fazer novas propagandas contra a Revolução Cubana, meus alunos talvez conseguissem, senão entender, pelo menos prestar alguma atenção no próprio país.

https://causaoperaria.org.br/2024/silvio-caldas-historias-da-musica-popular-brasileira-copy/

 

 

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