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PRÉ-MODERNISMO

26/1/1931: 93 anos da morte de Graça Aranha

Participação de Aranha na Semana de Arte Moderna de 1922 foi importante já que, naquela época, já era um escritor consagrado

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Graça Aranha, cujo nome completo é José Pereira da Graça Aranha, nasceu em São Luís, Maranhão, Brasil, em 1868, e faleceu em 1931, no dia 26 de janeiro, há exatos 93 anos. Foi um escritor, diplomata e político brasileiro, desempenhando um papel importantíssimo na literatura e na cultura brasileira do início do século XX.

Formado em Direito pela Faculdade de Recife, Graça Aranha iniciou sua carreira como advogado, mas sua verdadeira paixão sempre foi a literatura. Em 1893, ele participou da fundação da Academia Brasileira de Letras, tornando-se o primeiro ocupante da cadeira nº 38. Seu envolvimento com o movimento simbolista e a participação no pré-modernismo influenciaram significativamente sua produção literária.

Sua obra mais conhecida é o romance Canaã (1902). O livro aborda temas como a imigração, o conflito cultural e a busca por uma nova identidade nacional. A obra provocou polêmica na época.

Além de sua carreira literária, Graça Aranha também teve uma destacada carreira diplomática. Serviu como diplomata em diversos países, representando o Brasil em postos importantes. Ele também foi um crítico literário influente.

Sua participação ativa na vida cultural e intelectual do Brasil o tornou uma figura central no movimento modernista, contribuindo para a formação da identidade literária e cultural do País.

Graça Aranha era uma figura do pré-modernismo, uma pessoa mais velha que os modernistas e que tem contato com as vanguardas da época. Sua participação na Semana de Arte Moderna de 22, enquanto escritor já consagrado, é importante para consolidar o movimento Modernista. Afinal, enquanto a maioria dos escritores “famosos” ficaram contra a Semana de 22, Aranha, já respeitado dentre os críticos, apoia o movimento.

https://causaoperaria.org.br/2024/26-1-1931-93-anos-da-morte-de-graca-aranha/

 

 

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A Literatura de Joaquim Manuel de Macedo

O romance mais conhecido do escritor carioca Joaquim Manuel de Macedo (1820/1882) é certamente “A Moreninha”

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O romance mais conhecido do escritor carioca Joaquim Manuel de Macedo (1820/1882) é certamente “A Moreninha”, publicado em forma de folhetins e lido predominantemente pelo público feminino em meados do século XIX.

A importância da obra não reside tanto nos seus êxitos literários, mas no seu pioneirismo.

Foi escrita em 1844, quando o Brasil era governado por D. Pedro II (2º Reinado 1840/1889) e não existe muito dissenso entre os especialistas ao entenderem que se tratou do primeiro escrito que podemos chamar de “romance” até então realizado no país.

Não deveria ter sido fácil escrever o romance sem que houvesse até então qualquer tradição literária anterior, que pudesse dar sustentação a uma linguagem ficcional, com tema, enredos, estilos literários, etc.

Até então, as poucas referências literárias existentes eram as histórias de Texeira e Souza (1812/1861) e as novelas francesas publicadas no Brasil a partir de 1817. A influência dos folhetins franceses na literatura Brasileira é notória. Posteriormente, boa parte da produção de Machado de Assis, nitidamente nas suas produções românticas (Ressurreição de 1872, A Mão e a Luva de 1874, Helena de 1876 e Iaiá Garcia de 1878) também seriam tributárias desta literatura associada ao jornalismo, cujos capítulos dos romances eram publicados periodicamente na impressa, e, como dito, na maioria das vezes lidos pelo público feminino.

Em todo o caso, quem teve apenas contato com a obra de Macedo através da leitura do seu romance mais famoso, talvez se deixe enganar pensando se tratar de um escritor meramente convencional, cujo interesse literário se limita ao seu pioneirismo.

Há outros livros que suscitam o interesse do leitor que queira entrar em contato com o pensamento social e político do Brasil do Século XIX. Essas obras menos conhecidas refletem a trajetória de vida do nosso escritor, que transitou pela política, jornalismo e pelo estudo da História do Brasil.

Formado em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro em dezembro de 1844, não chegou a atuar como médico, abraçando desde cedo a carreira literária. Como jornalista, colaborou em diversos periódicos fluminenses, escrevendo romances, poemas e peças de teatro. Foi deputado provincial nas legislaturas de 1864/1868 e 1871/1888. Renunciou a uma pasta de gabinete de 1864 e candidatou-se a Senador do Império.

Manteve relações com o Imperador Dom Pedro II, chegando a ser preceptor e professor dos filhos do chefe de governo.

Como historiador, exerceu o magistério no Colégio Pedro II, além de sócio fundador do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB). Tal instituto teve como protetor o próprio Imperador e foi constituído para a coleta e publicação de documentos relevantes da História do Brasil e para o incentivo do ensino dessa disciplina.

Na condição de político do Império, Macedo posicionou-se contra a escravidão no romance “Vítimas Algozes”, publicado em 1869, pouco depois do primeiro mandato como deputado provincial.

O abolicionismo do escritor não se deu propriamente por considerações humanitárias ou por um senso de justiça. Tais premissas aparecem de forma subsidiária no livro. O principal aspecto do problema da escravidão que leva o escritor a se posicionar pela abolição deu-se pelos efeitos maléficos da instituição no seio da sociedade e da família.

Ou seja, tratava-se de uma defesa do regime social vigente, incluindo a família patriarcal, em face dos efeitos desagregadores do regime escravista.

Em “Vítimas Algozes”, vê-se a influência negativa das escravas domésticas que articulam contatos e namoros entre a sinhá e pretendentes, muitas vezes através do suborno e não raro ensejando a desonra da mulher branca. Aborda-se também a criminalidade subjacente ao regime escravagista: o escravo que se vinga do seu senhor através do assassinato, da destruição das fazendas e do envenenamento. A abolição aqui não é um instrumento de mudança da estrutura social, mas, pelo contrário, um meio de preservá-la.

Na condição de historiador, nosso escritor publicou um romance histórico chamado “As Mulheres de Mantilha” (1870) que consiste numa fonte documental fundamental para se conhecer a história do Rio de Janeiro (então chamada São Sebastião do Rio de Janeiro) exatamente no momento em que a cidade foi elevada à condição de Vice-reinado da colônia, passando a ser o centro administrativo do país, em substituição à cidade de Salvador.

A transferência deu-se em dezembro 1763, no bojo das reformas de Marques de Pombal, primeiro-ministro do rei Dom José.

A alteração da sede administrativa acompanhou a alteração do eixo econômico da colônia: inicialmente a cana-de-açúcar e posteriormente o ciclo da mineração, que deslocou o centro econômico do país para o sudeste. A transferência acompanhou outras reformas de Pombal que impactaram a produção e o controle da atividade mineradora do Brasil, como a expulsão dos jesuítas e uma nova forma de controle de cobrança de impostos.

O romance se passa entre 1763/1767 durante o reinado do conde da Cunha, que foi o primeiro Vice rei mandado para a nova capital da cidade.

“Os quatro anos que correram de 1763/1767 não foram por certo dos mais suaves e agradáveis para os habitantes da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, embora muitos ufanos e orgulhosos devessem eles estar em consequência da definitiva mudança da capital do Brasil que passara da primogênita de Cabral para a bela filha de Mem de Sá, assumindo com caráter de permanência o chefe da grande colônia portuguesa da América a graduação e hierarquia de vice-rei.

Mas o primeiro vice-rei que D. José ou por ele o marquês de Pombal despachou para o Rio de Janeiro, e que governou o Brasil desde 16 de outubro de 1763 até 21 de novembro de 1767, foi D. Antônio da Cunha, conde do mesmo título, homem talvez animado de boas intenções, porém tão facilmente irritável como violento e déspota”.

Àquele momento, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro ainda se constituía como um povoamento simples, a despeito daquele território já ter sido ocupado pelo menos desde os primeiros anos do século XVI.

Os primeiros esforços de reconhecimento e povoamento daquela região, no início dos 1500, foram inicialmente dificultados pela resistência dos bugres tamoios, aliados aos traficantes franceses.

Aos poucos, a cidade foi se constituindo como o principal núcleo urbano da região, sendo estruturada a atividade econômicas em torno de atividades de coleta, pesca e produção de mandioca, cana e gado. Já ao momento da transferência da sede da colônia, o Brasil passava pela internação do seu povoamento após o descobrimento das jazidas de Minas Gerais, período histórico no qual se passa o romance.

A história basicamente retrata a vida da cidade de São Sebastião sob o primeiro vice-reinado do conde da Cunha, período em que a exploração das minas ensejou um recrudescimento de práticas autoritárias e extorsivas da metrópole sobre a colônia.

A corrupção e violência do regime são levadas adiante principalmente por Alexandre Cardoso, que era uma espécie de primeiro-ministro do Vice Rei. Enquanto o primeiro vendia cargos no governo a troco de dinheiro, ameaçava os moradores com o recrutamento militar obrigatória e se entregava ao vício do jogo de apostas, o segundo fazia vistas grossas aos abusos do seu assessor, ensejando um clima de descontentamento político. Em se tratando de um regime tirânico, as vítimas não tinham direito à queixa: porque a queixa era insulto e crime punidos imediatamente e com descomedimento brutal. Os moradores serviam então de pasquins e lundus (música popular) em que debochavam anonimamente do poder constituído.

O enredo segue um estilo folhetinesco característico do autor.

Alexandre Cardoso, externando sua concupiscência sexual, deseja Inês, filha de um honrado comerciante português chamado Jerônimo Lírio. O vilão articula diversos meios (lícitos e ilícitos) de tomá-la em casamento, encontrando óbvia resistência do pai, dado o notório comportamento desregrado do assessor do Vice Rei.

Com a recusa, o vilão engaja alguns colegas do regimento militar para que simulem um ataque de bandoleiros à família de Lírio: no seu plano, imediatamente após o ataque dos militares transvestidos de criminosos, surgiria e salvaria Inês, aparecendo como herói. Assim, franquearia a casa de Jerônimo e se credenciaria como legítimo marido de Inês. Contudo, nesse ataque surge a figura do jovem Isidoro, que combate sozinho os criminosos e salva a pretendente de Alexandre Cardoso. Inês apaixona-se por Isidoro, enquanto Cardoso é denunciado ao Rei que o castiga, remetendo-o à Europa, onde morre na miséria

A triangulação amorosa, a derrota e desmoralização do vilão e o casamento de Inês com o homem que ama são elementos típicos do romantismo, com o seu sentimentalismo e suas idealizações do herói, do amor e da mulher. Mesmo sendo um romance convencional (e até certo ponto previsível), sua importância, assim como nas demais obras, reside menos nos méritos literários e mais na forma como retratam o pensamento da época e a história do país.

Bibliografia.

“As Mulheres de Mantilha” – Joaquim Manuel de Macedo – Ed. Iba Mendes

“Vítimas Algozes” – Joaquim Manuel de Macedo – Ed. Iba Mendes.

“História do Brasil: geral e regional” – Ernani Silva Bruno. Ed. Cultrix

https://causaoperaria.org.br/2024/a-literatura-de-joaquim-manuel-de-macedo/

 

 

 

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A poesia de Leila Míccolis

Poesia e arte pornô brasileiras

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Em 1984, a editora Codecri lançava o livro “Antolorgia / Arte Pornô”, o primeiro volume da coleção ARTESetCETERA; além de Glauco Mattoso, Paulo Leminski e Bráulio Tavares, a seleção de poetas inclui Leila Míccolis, para quem, no espírito do livro, “viva a puta merda, a puta velha, a putaria, a filha da puta, e toda a puta que pariu”. Assim, entre tantas putas e nas páginas da “Antolorgia”, encontra-se este poema seu:

              “Dos males, o menor”

Se eu te chamo de putinha / sou machista e indecorosa! / No entanto, se não chamo, / você não goza…

A Arte Pornô talvez não se faça sem uso dos palavrões, esse é um modo de ser indecoroso; a poesia pornô, certamente, aprecia a palavra censurada, mas não apenas nos sustos, porventura, provocados por ela. Uma vez poesia, palavras e palavrões prestam contas a grandezas textuais além do vocabulário; no poema de Leila, sem dúvida, nota-se a musicalidade prosódica encadeando as frases e palavras, contudo, a engenhosidade poética não se resume nisso, sendo melhor apreciar como se dá, nos versos, o encadeamento entre o que se diz e como se faz para dizê-lo.

O poema é quase uma quase quadra e nesse “quase”, justamente, ele se mostra engenhoso. Nas quadras, os quatro versos costumam se expressar em métricas regulares, geralmente, em redondilhas maiores ou menores, quer dizer, versos de cinco e sete sílabas poéticas, respectivamente; a quadra de Leila sugere se formar por redondilhas maiores, conforme os três primeiros versos, todavia, o último possui apenas quatro sílabas, destoando do ritmo dos demais. Dessa maneira, há estabilidade prosódica nos três primeiros versos devido à métrica de sete sílabas, acentuada na terceira e última sílabas – isto é, um anapesto seguido de um peão quarto –; todavia, tal constância se modifica no último verso de quatro sílabas, com acentuação apenas na última – ou seja, um peão quarto –, a alterar, sensivelmente, o compasso rítmico estabelecido entre as acentuações tônicas e átonas do início.

Enquanto isso, na narrativa do texto, duas amantes se encontram e, se uma delas resiste aos assédios verbais da outra, precisa deles, paradoxalmente, para gozar. Em vista disso, se o suposto assédio flui por meio dos palavrões, flui também o gozo, fluindo também, nas dimensões prosódicas, as redondilhas maiores e o ritmo estabelecido; entretanto, se o assédio para, interrompendo-se o gozo, rompe-se o ritmo. A fluência narrativa, portanto, correlaciona-se à fluência prosódica, revelando-se a aparente simplicidade do texto.

Nessas circunstâncias, como ler Leila Míccolis? Em princípio, bastaria a instrumentalização básica em língua portuguesa, contudo, entre a língua e as inúmeras falas geradas por meio dela, há a dimensão discursiva, a encaminhar tipos de distintos de discursos, cada qual com suas especificidades semióticas. Em outras palavras, das potencialidades da língua às realizações em fala, há gêneros discursivos, permitindo, entre outras funções, distinguir, em nossa cultura, por exemplo, discursos religiosos, políticos, jornalísticos, literários etc.

Tais formações discursivas, uma vez estabilizadas, constituem-se polemicamente; no discurso literário, consequentemente, surgem critérios para se dizer o que pertence ou não a seu campo, ou melhor, dizer o que é literário e o que não é. Tais critérios, sempre relativos em e a determinada postura crítica, refletem, justamente, os embates ideológicos dos muitos modos de fazer literatura; a pergunta inicial, logo, poderia ser reformulada assim: em termos literários, como Leila Míccolis encaminha sua poética?

Embora na poesia de Leila Míccolis se enfatize a temática erótico-pornográfica – o que já é relevante o bastante, visto o caráter pudico de boa parte de poesia brasileira canonizada –, em sua obra se abarcam outros temas; sua conversação, assim como a arquitetura de Glauco Mattoso, não se presta apenas ao erótico, nela se cuida de quase tudo; inclusive no erotismo, do fescenino ao sutil, há gradações. Apenas para ilustrar isso, seguem nove poemas de sua autoria:

“Dose”

Queres saber o que ocorre? / O nosso amor, de tão sóbrio, / virou um porre.

 

“Câmera baixa”

Vendo o aparador de grama, / formiga protesta e berra; / — Desliguem essa motosserra!

 

“A geometria do mar”

Tirar zero em Matemática / eu considero uma afronta: / e acertar os ângulos das ondas… / não conta?

 

“Circo”

Rir por obrigação / ou pra fazer média / é uma tragédia.

 

“Rinha de Gatos”

Viver como os gatos, / que se aninham / um em cima do outro, / e dormem numa intimidade amiga, / até a próxima briga.

 

“Autodidata”

Sofri / a influência de muitos poetas / que nunca li.

 

“Nomes trocados”

A natureza é sábia, / mas às vezes se atrapalha. / Um exemplo desta falha / léxico-gramatical, / vemos no reino animal: / quem devia se chamar Viuvinha / não era a abelha-rainha?

 

“Prova”

Da cola escreve o conteúdo / na perna bem torneada; / e o colega, vendo tudo, / não consegue colar nada.

 

“Radar”

Em geral, / o meu normal / é acorda analógica / e ir dormir digital.

 

Leila Míccolis, semelhantemente a Glauco Mattoso, embora cuidando de temas variados, vê o mundo mediado pelo erotismo; porém, enquanto ele escolhe o soneto para se expressar, ela se define por meio de um estilo específico de coloquialidade, caracterizado pela concisão da palavra. Para a ler com acuidade, logo, compensa procurar por Leila antes em seus modos de dizer que, propriamente, nos temas preferidos.

Inserida na conversação, sua poesia remete às formas ditas breves, tais quais chistes ou trocadilhos; o conhecido estudo de Freud, “O chiste e sua relação com o inconsciente”, vem ao encontro da eficácia dessas escolhas. Grosso modo, Freud aproxima os mecanismos do chiste aos do inconsciente; para ele, mediante chistes, expressam-se conteúdos reprimidos, dizendo-se, com eles, coisas interditas.

Conta-se que dois homens públicos, enriquecidos desonestamente, encomendaram retratos a renomado pintor; durante a festa da exposição das telas, ambos perguntam a certo crítico, entre os convidados, sua opinião, quando ele, surpreendentemente, reclama pela figura do Cristo, ausente entre as duas molduras; conta-se ainda que, ao ser indagado sobre a visita ao primo rico, o primo pobre respondera haver sido uma visita “familionária”. Os exemplos são do próprio Freud: no primeiro, diante da impossibilidade de ofender diretamente aos homens públicos, chamando-os corruptos, o crítico aponta a ausência do Cristo, crucificado entre dois ladrões; no segundo chiste, o neologismo “familionária” surge da combinação das palavras “família” e “milionária”, confundindo os significados na fusão dos significantes, a apontar para relações pessoais definidas antes em distinções sociais que por laços familiares.

Colocados em contextos discursivos, os chistes envolvem trabalhos com a linguagem, havendo neles, em termos pragmáticos, contestações aos fluxos conversacionais em questão; assim, no exemplo dos quadros, o chiste converte ilustres anfitriões em bandidos e, no dos primos, as relações familiares sucumbem perante as diferenças sociais. Desse ponto de vista, para desorientar a conversação, os chistes apresentam, necessariamente, argumentos capazes de superar os valores afirmados no discurso fluente; todavia, na eficácia linguística, os chistes não se prestam a longas réplicas, buscando contrariar o fluxo corrente com outro fluxo, mas o faz pontualmente, a agir, surpreendentemente, no curso do esperado. Por decorrência, na interrupção da conversação, surge o silêncio, hora da reflexão e do constrangimento.

Para compreender melhor a engenharia poética de Leila Míccolis e como ela transforma chistes em poesia, vale a pena comparar, relativamente às rimas, seus versos com os de Pedro Xisto; eis cinco de seus mais de 1500 haicais:

 

atabaques batem / atabaques atabaques / atabaques: baques

 

iaiá iaiá ia / aí: ôi ioiô: aí / ai ai iaiá ia

 

mar santo (a chamar / a bela) espelha e revela / já: mãe iemanjá

 

olinda: ó linda / filha d’algo glauco infindo / marim a marinha

 

LÁJEA LÁJEA LÁJEA / LÁJEA LÁJEA LÁJEA LÁJEA / LÁJEA LÁJEA lágrima

 

Embora inovadores e engenhosos, a prosódia e as rimas se mantêm constantes, com rimas nos finais das redondilhas menores e o acento da redondilha maior rimando com o final do verso; dessa maneira, garante-se a estrutura prosódico-fonológica imposta pelo gênero convocado pelo poeta. Dessa perspectiva, as métricas e as rimas estão em função das coerções do gênero; apreciá-las envolve, antes de tudo, valorizar as soluções encontradas não apenas no seio do poema, mas em relação à forma canônica escolhida. Em Leila Míccolis, contrariamente, isso não ocorre; porque não há regras rígidas a seguir, rimas e métricas surgem, ao longo do poema, sem condições pré-estabelecidas, gerando espontaneidade, a desvincular os versos das tradições formais.

As rimas, talvez por soarem com mais evidência que as demais propriedades prosódicas do poema, parecem, para os leitores menos acostumados com a poesia, a única característica dos discursos poéticos; isso se verifica em poetas jovens e inexperientes, quando não cuidam da métrica, ou em visões conservadoras, que não reconhecem a poesia moderna quando ela se faz sem rimas. Aproveitando-se disso, Leila Míccolis cria, com rimas, uma poesia despretensiosa, mas não mal elaborada; a breve análise do poema “Dos males, o menor”, feita no início, ratifica tais observações. Nesse poema – Se eu te chamo de putinha / sou machista e indecorosa! / No entanto, se não chamo, / você não goza… –, a palavra “goza”, rimando com “indecorosa”, não surge aleatoriamente, apenas para fazer o texto soar feito poesia mediante rimas; nos versos, a rima se articula à quebra da métrica e suas correlações com a narrativa, expostas anteriormente.

Em vista disso, sem se afirmar aparentemente em arquiteturas linguísticas complexas, a poesia chistosa de Leila, soando espontânea e despretensiosamente, vem de encontro às conversações sérias e extensas. Resta, ainda, verificar sua atitude performática.

Poetas afeitos à arquitetura poética, tais quais Pedro Xisto, valem-se constantemente da escrita na organização das formas poéticas escolhidas; a ordenação tipográfica de sonetos ou haicais exemplifica isso. Poetas coloquiais, diferentemente, exercem a performance construindo cenas aptas ao desenrolar da oralidade, tranquilamente partilhada entre os interlocutores, menos efusiva e descentralizada do poeta.

Em estudos a respeito da poesia de Ana Cristina Cesar, que muitas vezes é concisa feito Leila Míccolis, Viviana Bosi relaciona atitude performática e estilo breve e sucinto; em linhas gerais, de acordo com ela, Ana Cristina Cesar, em confluência com artistas performáticos, faria algumas de suas poesias soarem enquanto performances orais. Dessa maneira, o poema se torna happening; estes quatro poemas, de Ana Cristina, soariam feito happenings no seio da oralidade, semelhantemente à inserção do happening na vida cotidiana:

 

Estou vivendo de hora em hora, com muito temor. / Um dia me safarei – aos poucos me safarei, começarei um safari.

 

sou uma mulher do sec XIX / disfarçada em sec XX

 

Por que essa falta de concentração? / Se você me ama, por que não se concentra?

 

Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma / Tão distraidamente

 

A poética de Leila Míccolis é equivalente; recorrendo às conclusões de Viviana Bosi, admitem-se as mesmas observações sobre sua práxis. Em seus poemas-happenings, entre os poetas da literatura brasileira, Leila coloca-se feito se conversasse conosco; nas conversas, muitas vezes sérias, seus versos são réplicas agudas e pontuais, fortes o suficiente para dar novos sentidos a ordem fluente das coisas e da própria poesia.

https://causaoperaria.org.br/2024/a-poesia-de-leila-miccolis/

 

 

 

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LITERATURA IRLANDESA

2/2/1882: 142 anos de James Joyce, autor de ‘Ulisses’

Sua carreira literária começou com a publicação de Dublinenses (Dubliners) em 1914, uma coletânea de contos que exploram a vida da classe média em Dublin

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James Joyce foi um renomado escritor irlandês, nascido em 2 de fevereiro de 1882, em Rathgar, subúrbio de Dublin. Joyce é uma figura central na literatura modernista do século XX, conhecido, principalmente, por sua obra Ulisses, publicada no dia de seu aniversário, em 1922.

Joyce cresceu em uma família católica e estudou no Clongowes Wood College, um internato jesuíta, antes de ingressar na University College Dublin. Desde cedo, mostrou talento literário e interesse pela língua inglesa. Após concluir seus estudos, mudou-se para Paris em 1902, onde passou a maior parte de sua vida adulta.

Sua carreira literária começou com a publicação de Dublinenses (Dubliners) em 1914, uma coletânea de contos que exploram a vida da classe média em Dublin. Em 1916, publicou seu primeiro romance, Retrato do Artista Quando Jovem (A Portrait of the Artist as a Young Man), uma obra semiautobiográfica que descreve o crescimento e desenvolvimento artístico de um jovem chamado Stephen Dedalus.

Em relação a Ulisses, esta obra-prima revolucionou a narrativa moderna ao empregar técnicas experimentais, como o fluxo de consciência, e ao abordar temas complexos, como mitologia, história, religião e filosofia, em um único dia na vida de três personagens em Dublin. Ulisses é frequentemente considerado um dos romances mais importantes e desafiadores do século XX.

Após Ulisses, Joyce dedicou-se à escrita de sua obra mais ambiciosa, Finnegans Wake, publicada em 1939. Este romance experimental é conhecido por sua linguagem complexa, repleta de neologismos, e por sua estrutura narrativa fragmentada. Finnegans Wake é uma exploração profunda da consciência humana e da natureza da linguagem.

James Joyce enfrentou desafios significativos ao longo de sua vida, incluindo problemas financeiros e problemas de saúde. Ele viveu parte de sua vida em Paris, mas a Segunda Guerra Mundial o forçou a retornar a Zurique, onde veio a falecer em 13 de janeiro de 1941, aos 58 anos, de complicações relacionadas a uma úlcera perfurada.

https://causaoperaria.org.br/2024/2-2-1882-142-anos-de-james-joyce-autor-de-ulisses/

 

 

 

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LITERATURA INGLESA

1/2/2024: morre Mary Shelley, autora do clássico Frankenstein

Conhecida por sua famosíssima obra, ela conviveu com figuras de grande importância tanto do século XVIII quanto do XIX, incluindo Lord Byron e Percy Shelley

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No dia 1º de fevereiro, faleceu uma das maiores escritoras do século XIX, Mary Wollstonecraft Godwin, mais conhecida como Mary Shelley. Ela é conhecida principalmente pelo seu clássico Frankenstein, o Prometeus Moderno, um dos livros responsável por inspirar quase todo o gênero de ficção cientifica. Mas toda a história de Shelley, muito menos conhecida que seu mais famoso livro, é muito interessante, desde o seu nascimento.

Mary nasceu em 30 de agosto de 1797, em Londres, na Inglaterra. Filha dos filósofos políticos William Godwin e Mary Wollstonecraft. Godwin foi um dos pioneiros do utilitarismo e é considerado o padrinho do anarquismo por setores do movimento por seu radicalismo na política. Wollstonecraft, por sua vez, foi uma militante dos direitos das mulheres conhecida por sua obra Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher. Ela foi uma defensora aberta da Revolução Francesa. No entanto, não esteve presente na vida de sua filha, pois faleceu poucos dias após o seu nascimento.

Em sua adolescência, Mary conheceu o poeta Percy Bysshe Shelley, e os dois se apaixonaram, apesar do fato de Shelley ainda ser casado na época. Percy Shelley, hoje ofuscado pela fama de sua esposa, foi um grande poeta inglês do século XIX, sua poesia mais famosa é Ozymandias. Também figuram entre os mais famosos da poesia inglesa do século os seus versos “Meu nome é Ozymandias, rei dos reis: Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos! Nada mais resta: em redor a decadência. Daquele destroço colossal, sem limite e vazio. As areias solitárias e planas se espalham para longe“.

Em 1816, Mary e Percy viajaram para a Suíça com Lord Byron e o médico John Polidori. Durante essa viagem, a ideia para Frankenstein começou a se desenvolver em uma brincadeira em que todos os presentes na viagem deveriam escrever um conto de terror. O romance foi publicado anonimamente em 1818 e é considerado um marco na literatura gótica e de ficção científica. Além disso, teve uma influência enorme também no cinema com diversas gravações do romance.

A vida de Mary Shelley foi marcada por perdas significativas, incluindo a morte de seus filhos e de Percy Shelley em um trágico acidente de barco em 1822. Após a morte de Percy, Mary continuou a escrever e editar as obras dele, além de produzir seus próprios trabalhos, como The Last Man (1826) e Lodore (1835). Mary Shelley faleceu em 1º de fevereiro de 1851, aos 53 anos, em Londres. Seu legado perdura principalmente através de Frankenstein.

https://causaoperaria.org.br/2024/01-2-2024-morre-mary-shelley-autora-do-classico-frankenstein/

 

 

 

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A poesia de Amador Ribeiro Neto

Um poeta brasileiro entre o regionalismo e a vanguarda

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Por volta de 2006, o poeta Frederico Barbosa me sugeriu ler “Barrocidade”, livro de poesias do Amador Ribeiro Neto, editado pela Landy, da coleção Alguidar, coordenada pelo próprio Frederico. Desde aqueles anos, sou amigo do Amador, quem, semelhantemente a mim, divide o tempo entre atividades acadêmicas e literatura, sendo professor do curso de Letras da Universidade Federal da Paraíba e coordenador do laboratório de estudos semióticos de lá

Quando leio poesias, costumo procurar por procedimentos linguísticos e literários recorrentes, buscando pelos estilos de cada poeta; dessa maneira, eu consigo entender conforme cada um deles se vale da mesma língua para se expressar. Em “Barrocidade”, encontrei a preferência do poeta por alguns processos discursivos:

(1) Amador gosta de fazer listas, vários poemas seus são coleções de palavras. Listas são campos semânticos, elas não se resumem a sequências de palavras e coisas, sendo, isso sim, conjuntos organizados para fazer sentido. O poema “vade-mecum” é uma lista, Amador explicita isso colocando as palavras em ordem alfabética; eis alguns fragmentos das 31 palavras da lista:

“asco / arrenegado / (…) / coxo / cujo / (…) / não-sei-que-diga / pé-de-cabra / (…) / tisnado // como o diabo”

(2) Amador forma compostos nominais; tal processo linguístico, comum ao sânscrito e às línguas germânicas, é um dos recursos preferidos pelo poeta para complexificar os significados lexicais. Eis dois exemplos nestes dois versos do poema “sampa revisitada”:

“cidade / velha aflições desconhecidanciã / (…) / desembaçada no centro / toda in na paulistaugustaconsa”

(3) Nos poemas, há constantes diálogos com o repertório da música popular brasileira; para ilustrar, eis uma estrofe de “arribação”, em que Amador dialoga com Adoniran Barbosa:

“(…) / lagoa tapada atrás duns versos açuns dispersos grandes / movimentos adonirançando malocas saudades / ah aquele cruzamento da canção / pode”

(4) Quando se refere a religiões, Amador prefere as afro-brasileiras, feito a Umbanda ou o Candomblé; o poema “pomba”, entre seus temas, também é invocação da Pomba-Gira, com ela substituindo o Espírito Santo cristão, revelando-se acima dele:

“cães são sempre cães vadios / mães são sempre mulheres santas de nossos pais / espírito santo / quase sempre é pomba / sempre funciona pomba / gira”

(5) Nos poemas, há diálogos constantes com o Modernismo brasileiro na vertente proposta por Oswald de Andrade; nos versos de “klaxon”, além da composição por sílabas sugerindo onomatopeias de buzinas no último verso, o título se refere à famosa revista modernista:

“som tevê enrosca o mesmo som / imagem tevê engasga mesmo som // tom tevê engalha mesmo cedê rom / por estas & mais aquelas é que é de bom tom // com som can tem com tem tem são tam bém tom bem sem som”

(6) Amador não se esquece da poesia social, bastante exercida no Brasil pelos poetas adversários da direita; eis o poema “falta água e falta”, com protestos tanto contra realidades hostis vividas no campo, feito secas, quanto contra injustiças sociais urbanas, vividas nas periferias:

“falta água e falta / água tens e não tens / os surfistas de são miguel paulista quebram ondas / nos tetos dos trens”

(7) Por fim, o poeta se vale de variações linguísticas; eis os versos finais de “tabuleiro”:

“(…) / quer tomar / caju // ah é né / pois tome hôme // troncho / tome-tome & some & // adispoi / num vá dizê // ô / ie”

Dessa maneira, diante de listas, compostos nominais e variantes linguísticas, vanguarda e regionalismo, diálogos com o Modernismo e a MPB, invocações pagãs e protestos contra o fascismo, o que esperar da poesia de Amador Ribeiro Neto? O poema “descobrimento” responde a essa questão:

“guarda-roupa da história com h e neocapitais / fantasias teias telas cabos teles naves tels veias nets poeiras / sertão vip varandas antenadas na copa dos revistas in / morenos pretos brancos amarelos seixos / farolizando macaxeiras pra matar fome com farinha de mandioca / história música cidades crenças ourivesarias artesanatos contrabandos / oceanos sertões caviares ouropéis rapaduras campos descompassos / guarda-fantasias guarda-enredos guarda-estruturas guarda-sons / que são / frente às descobertas da poesia hein cabral”

Além de expressar os processos discursivos determinados anteriormente, o poema mostra os modos de Amador inseri-los em sua proposta poética nacionalista; para desenvolver isso, porém, é preciso esclarecer a quais ideologias nacionais ele se alia. O nacionalismo é plurívoco; há poetas feito o Amador, com vistas para o futuro e buscando por outros territórios brasileiros, entre eles, territórios discursivos, feito aqueles que a língua portuguesa e seus discursos deveriam ocupar – por exemplo, os espaços das comunicações de massa –; há nacionalistas ingênuos, confusos, e, comumente, bastante reacionários, insistindo em identificar a cultura brasileira com estereótipos, em regra, tirados do folclore. Entre os primeiros, há quem internacionaliza o Brasil – Hermeto Pascoal, Airto Moreira e Nana Vasconcelos fizeram isso percutindo panelas e soprando berrantes –, entre os segundos, há quem apoie ditaduras e golpes de estado… o Amador, certamente, está do lado dos progressistas.

Assim, com as listas do poeta e sua linguagem, predominantemente nominal, ocupa-se o mundo da comunicação, demarcando-se campos semânticos nos quais o Brasil ecoa por meio palavra, “frente às descobertas da poesia”. Vale a pena, para confirmar isso, verificar a conciliação entre valores mundiais e regionais em dois poemas exemplares das concepções do Amador: (1) “pulso”, com o Brasil se expandindo via mundos virtuais, entretanto, com a própria voz; (2) “pífaros de caruaru”, com a música regional brasileira ressoando na poesia de vanguarda, inaugurada com o Modernismo:

pulso

“o dormir o / excaféin // o microcomputador o / meu com tantinternet // a proesia lixa o / estrala foices // & / deleta a falsivivacidade sem-terra da razão // o brother o / mermãozinho do c****** tá fodaço pra c****** sô”

pífaros de caruaru

“um som i um som u / flauta apita no atabaque das consoantes / fica soando fino um u ínfimo último / sinal ambulância caixinha sirene antimusical // a menina de treze anos e vai evém / a bolsa d’água arrebenta marginal do tietê / enchente / congestionamento 84 quilômetros outdoor // o cordão ensanguentado estira-se / ao longo ao pleno ao vago ao cheio // um som i um som u apagando-se / ou gregório ou oswald ou cássia eller / chega / pagu”

Gostaria, ainda, de enfatizar o homoerotismo, outro tema da poesia do Amador Ribeiro Neto. Em “namorados”, o sexo homoerótico participa da utopia gay em que todos são felizes, com o Dia dos Namorados se eternizando hedonisticamente – “amanhã vai ser outro dia 12” –; além disso, a comparação do falo com os edifícios – “paus em pé empire eucaliptos perigo pegar” – é bastante original.

“arte pia válida cozinha walita / o nome corvo café feijão carne de sol arrumadinho & bolo de / senão por que maria cream fox freezer pano de chão postmodern platôs / onda waffers mornomorango / cobertura tom / ele toparará a piscina chantilly / disco rígido faz baby filme mambrana lembrança / margarina gasalina funciona-se / yes he does ele encara / chama o cara / chama o cara / ele quero ser ele vaco profana virginando madona santa stone / berrando sozinho fudidinho / lindos negros tintos o / lhos de mãe menininha do / gato que ele assanha / arranha apanha barganha / & / geme no sim sem sim com / telhada na tua pele vermelha / fogueirardor / em cima de evém evém evém / cu é o cazzo cu é o céu / cada vez mais pra além de tudo / & / a porra deite cheire faz suar / ô meu nossa que deuslícias / de / paus em pé empire eucaliptos perigo pegar / pra now dear / evém evém vindo vindo vindo / balança / amanhã / vai / ser / outro / dia / 12”

Por fim, resta comentar, brevemente, a segunda parte de “Barrocidade”. O livro é dividido em duas partes, todos os poemas citados anteriormente pertencem à primeira parte; a divisão se dá pelo poema visual “sem sem sem com”, com os títulos dos poemas da segunda parte referindo-se a nomes de poetas, músicos, outros artistas, explicitando-se, por meio das homenagens, as influências do Amador Ribeiro Neto. Divulgar essa segunda parte, contudo, é tema para outras colunas.

 

https://causaoperaria.org.br/2024/a-poesia-de-amador-ribeiro-neto-2/

 

 

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‘Diário de um Homem Supérfluo’ – Ivan Turguêniev

Resenha livro - “Diário de um Homem Supérfluo” – Ivan Turguêniev – Ed. 34 – Tradução Samuel Junqueira

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Ivan Serguêievitch Turguêniev (1818-1883) nasceu na província de Oriol, na vasta propriedade rural de sua mãe, uma mulher autoritária e brutal, que exercia poder tirânico sobre os seus servos e filhos.

O primeiro livro do escritor, denominado “Memórias de um caçador” (1852) reúne contos de denúncia do regime de servidão, já consagrando de imediato o artista perante o público russo.

Neste mesmo ano de 1852, após a divulgação de um panfleto com críticas sociais, por ocasião do enterro do escritor Nikolai Gógol, Turgueniêv foi preso e depois confinado em sua propriedade rural por mais de um ano.

Não seria, contudo, correto, caracterizar a literatura do nosso escritor como um mero instrumento de crítica política.

O que caracteriza sua literatura é um realismo decorrente de estudo cuidadoso da vida comum e popular da Rússia, relacionados com elementos líricos e poéticos. Seus livros envolvem a combinação justa entre a beleza e a realidade na medida em que no escritor existe uma fusão entre um bom poeta e um bom observador.

De acordo com o escritor Harry James, que conheceu pessoalmente Turguêniev, o eixo fundamento das suas histórias era não tanto os enredos, mas a mais profunda representação das personagens.

“A primeira forma em que um relato surgia para ele era na figura de um indivíduo, ou numa combinação de indivíduos, que ele desejava ver em ação, convicto de que tais pessoas deveriam fazer algo muito especial e interessante. Elas se erguiam à sua frente bem definidas, nítidas, e ele queria conhecer, e mostrar, o mais possível de sua natureza.”.

“Diário de um Homem Supérfluo” foi publicado em 1850, doze anos antes do seu mais famoso romance “Pais e Filhos” 1962.

Consta que o “Diário” não foi recepcionado bem pela crítica, e isso por uma razão simples: a história de Tchulkatúrin narrada em forma de diário foi totalmente alterada e modificada pela censura do czar Nicolau I (1796/1855) tornando o texto publicado totalmente incompreensível à luz do original.

O contexto histórico da Rússia daquele período é importante para a compreensão do que o escritor entendia como “homem supérfluo”, no caso, o personagem representativo da intelectualidade daquele país de meados do XIX.

Em 1812, o czar Alexandre I realiza uma grande campanha patriótica para recrutamento de pessoas para a luta contra a invasão napoleônica. Membros de todas as classes sociais foram mobilizados, se tratando da primeira vez em que a sociedade russa se reuniu enquanto nação para engajamento na luta contra o inimigo externo.

A vitória sobre a França e a consequente marcha sobre Paris fez com que os jovens oficiais tivessem contato com a Europa ocidental, que, diferentemente da Rússia, já havia passado pelas Revoluções Liberais, nitidamente em 1789, quando se colocou um fim no regime absolutista. Ao passo que a queda do absolutismo na Rússia se daria apenas em fevereiro de 1917, na primeira etapa da Revolução Russa.

Esse acesso daqueles oficiais ao país vizinho europeu criou uma consciência na intelectualidade russa do seu atraso cultural, o que culminou na Revolução Dezembrista (1825) que unificou uma pequena nobreza instruída para um levante contra o regime czarista, exigindo reformas liberais, o fim da servidão e a adoção da constituição.

O homem supérfluo aparece pouco tempo depois: o movimento de 1825 foi massacrado (a abolição da servidão só ocorreria quase quarenta anos depois) e seus líderes foram levados à forca. Na sequência, o czar Nicolau I aumenta a censura e a perseguição política, especialmente a partir de 1845, diante do medo do influxo das revoluções europeias, também conhecidas como a Primavera dos Povos.

O homem supérfluo é o homem paralisado, incapaz de colocar os seus ideais em ação. Diante da feroz repressão do czar, a geração se formou no ceticismo, na amargura e no isolamento. Os valores humanitários aprendidos na Europa pareciam incompreensíveis aos russos. Trata-se de uma pequena aristocracia que se sentia estrangeira em seu próprio país.

O livro em comento corresponde a um diário escrito pelo homem supérfluo Tchulkatúrin, que dá início ao relato de sua vida num dia 20 de março, logo após seu médico informa-lo que sua doença é irremediável e que fatalmente irá morrer.

“O doutor acaba de sair da minha casa. Consegui, afinal, o que queria! Por mais que dissimulasse, não pôde, por fim, continuar escondendo. O certo é que morrerei em breve, muito em breve. Os rios descongelarão e é provável que eu me vá com a última neve…. para onde? Sabe Deus! Também para o mar. Pois bem! Se é para morrer, que seja na Primavera”.

O início da morte do protagonista coincide com o fim do inverno e início da primavera russas. Ou seja, no momento em que a natureza renasce, se inicia a trajetória da morte do homem supérfluo. A cada capítulo do diário, o protagonista percebe o degelo gradual da paisagem: sua vida triste vai se extinguindo aos poucos como o gelo do inverno Russo.

Tratou-se tanto de uma vida como de uma morte tristes.

Morreu isolado num casebre caindo aos pedaços em meio aos resmungos intermináveis de uma velha criada, que desejava a sua morte veladamente para ficar com o pouco da herança de Tchulkatúrin, que morre sem filhos e sem parentes.

Ao escrever a sua história no Diário, o narrador chega à conclusão de ser um homem supérfluo, ou seja, que não se diferencia em nada de outras pessoas: uma vida de ocupações modestas e prazeres comedidos. Cumpre um papel inútil, de um mero figurante da vida. Compara-se, neste sentido, como um quinto cavalo amarrado numa carroça apenas movida por quatro animais. O não pertencimento à sociedade equipara-se àqueles jovens aristocratas influenciados por ideias liberais mas paralisados e acovardados diante da ditadura czarista.

Sua inabilidade para a tomada de ações contundentes se revela na paralisa perante a mulher que ama e a quem não é correspondido.

De maneira não premeditada, insulta um pretendente da mulher amada e é não intencionalmente lançado num duelo do qual se sai humilhado: não acerta o tiro no oponente que por sua vez, num ato de grandeza, deixa de mata-lo quando teve a oportunidade. Perdoa-o, e para completar a sua humilhação, o oponente ainda conquista o coração da mulher amada.

O homem supérfluo é um precursor de outros personagens da literatura russa, notadamente o protagonista de “Memórias do Subsolo” de Dostoievski. Além do tipo representativa dos intelectuais da época, o livro é uma grande reflexão sobre a morte: as recordações antes do momento final são como cutucar uma ferida, ou seja, pode tanto proporcionar prazer como dor.

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LITERATURA RUSSA

9/2/1881: 143 anos da morte de Fiódor Dostoiévski

Em 1849, Dostoiévski foi preso por suas atividades políticas contrárias ao regime czarista. Ele passou vários anos na prisão, onde foi submetido a duras condições

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Há exatos 143 anos, em 9 de fevereiro de 1881, morreu Fiódor Dostoiévski, um dos escritores mais proeminentes e influentes da literatura mundial. Nascido em 11 de novembro de 1821, em Moscou, Rússia, sua vida foi marcada por uma série de eventos dramáticos que influenciaram profundamente sua obra literária.

Dostoiévski nasceu em uma família de classe média. Seu pai era um médico militar, e sua mãe era descendente de uma família aristocrática. Desde cedo, Dostoiévski mostrou interesse pela literatura, sendo influenciado por autores como Shakespeare, Goethe e Gogol.

Em 1837, Dostoiévski ingressou na Escola Militar de Engenharia de São Petersburgo, onde estudou engenharia e literatura. No entanto, seu interesse pela literatura acabou superando sua inclinação pela engenharia, e ele abandonou a carreira militar para se dedicar inteiramente à escrita.

Em 1846, Dostoiévski publicou seu primeiro romance, Gente Pobre, que recebeu críticas positivas e chamou a atenção para seu talento literário. No entanto, foi com seu segundo romance, O Duplo (1846), que ele começou a ganhar reconhecimento como um dos principais escritores russos de sua época.

Em 1849, Dostoiévski foi preso por suas atividades políticas contrárias ao regime czarista. Ele passou vários anos na prisão, onde foi submetido a duras condições e a uma execução simulada, experiências que deixaram uma marca profunda em sua vida e influenciaram profundamente sua visão de mundo e sua obra futura.

Após ser liberto da prisão em 1854, Dostoiévski retornou à escrita com uma paixão renovada. Ele produziu uma série de obras-primas, incluindo Crime e Castigo (1866), O Idiota (1869), Os Demônios (1872) e Os Irmãos Karamazov (1880), que são considerados alguns dos maiores romances já escritos.

A obra de Dostoiévski é caracterizada por sua profundidade psicológica, sua exploração das complexidades da moralidade e da condição humana, e sua capacidade de capturar as nuances da vida na Rússia do século XIX. Seus personagens são frequentemente atormentados por conflitos internos e dilemas morais, refletindo as tensões e contradições de sua sociedade.

Fiódor Dostoiévski faleceu em 9 de fevereiro de 1881, deixando para trás um legado literário duradouro que continua a inspirar e cativar leitores em todo o mundo. Sua obra continua a ser estudada e admirada por sua profundidade, sua originalidade e sua capacidade de explorar as complexidades da condição humana.

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LITERATURA

196 anos de Julio Verne, um dos pioneiros da ficção científica

Embora tenha sido reconhecido principalmente por suas obras de ficção científica, Verne também escreveu romances históricos, peças de teatro e poesias

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Julio Verne, cujo nome completo era Jules Gabriel Verne, foi um renomado escritor francês, nascido em 8 de fevereiro de 1828, em Nantes, França. Ele é considerado um dos pioneiros da ficção científica e um dos autores mais influentes da história.

Verne cresceu em uma família de advogados e inicialmente seguiu os passos do pai, estudando direito em Paris. No entanto, sua paixão pela escrita e pela descoberta logo o levou a explorar outros caminhos. Durante seus anos de juventude, Verne demonstrou interesse pela ciência, tecnologia e viagens, interesses que mais tarde se tornariam os temas centrais de suas obras.

Em 1857, Verne publicou sua primeira obra, Cinq Semaines en Ballon (Cinco Semanas em um Balão), que inaugurou sua série de romances de aventura. O livro foi bem recebido, estabelecendo-o como um autor promissor. No entanto, foi com o lançamento de Viagem ao Centro da Terra (1864) e Vinte Mil Léguas Submarinas (1870) que Verne alcançou fama internacional.

A habilidade de Verne para combinar imaginação criativa com detalhes científicos precisos cativou o público de todas as idades. Seus romances exploraram conceitos de viagem no tempo, exploração espacial, oceanografia e muitos outros temas futuristas, influenciando a literatura e o cinema até os dias de hoje.

Embora tenha sido reconhecido principalmente por suas obras de ficção científica, Verne também escreveu romances históricos, peças de teatro e poesias. Ele faleceu em 24 de março de 1905, em Amiens, França.

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PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA

Lançamento: livro conta história da luta do PCO dentro do PT

Garanta já o seu exemplar de "A luta por um partido revolucionário dentro do PT

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Nessa quinta-feira (15), a Editora Democritos anunciou o lançamento do livro A luta por um partido revolucionário dentro do PT, das Edições Causa Operária. A publicação, que deve ser lançada em poucas semanas, contará a história da luta da Organização Quarta Internacional (OQI) – Causa Operária – por um programa revolucionário dentro do Partido dos Trabalhadores.

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“Este livro oferece um olhar detalhado sobre a batalha travada pela OQI, que eventualmente formaria o Partido da Causa Operária (PCO), em defesa do programa revolucionário marxista dentro do contexto político do Brasil. Desde os movimentos grevistas que culminaram na queda da ditadura militar, passando pelas eleições de 1982, a campanha pelas “Diretas Já”, as discussões cruciais na época da fundação do PT e da CUT, e a promulgação da Constituição de 1988, até a expulsão de Causa Operária do Partido dos Trabalhadores, o livro oferece uma perspectiva única por meio de documentos da época e testemunhos diretos dos envolvidos”, afirma um resumo fornecido pela Editora a este Diário.

Para contar essa história, a obra utilizará documentos e artigos históricos provenientes de edições do Jornal Causa Operária, tradicional veículo de imprensa do partido trotskista, produzidas entre 1979 a 1990.

“Este livro não apenas registra eventos históricos cruciais que moldaram o regime político atual do Brasil, mas também serve como um recurso essencial para estudiosos da história do movimento operário brasileiro, para os adeptos do marxismo revolucionário e para todos os que lutam pela abolição da exploração humana”, diz a Editora.

Apesar de não ter sido publicado, a pré-venda de A luta por um partido revolucionário dentro do PT já está disponível! Para garantir a sua cópia, basta acessar este link. E tem mais: garantindo seu exemplar antecipadamente, você recebe um desconto especial.

 

https://causaoperaria.org.br/2024/lancamento-livro-conta-historia-da-luta-do-pco-dentro-do-pt/

 

 

 

Editado por Chapolin Gremista
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PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA

De onde vem o PCO: saiba com novo livro em pré-venda

Livro “A Luta Por Um Partido Revolucionário Dentro do PT: Documentos e artigos do Jornal Causa Operária de 1979 a 1990” tem sua pré-venda anunciada e conta história do PCO no PT

Olivro A Luta Por Um Partido Revolucionário Dentro do PT: Documentos e artigos do Jornal Causa Operária de 1979 a 1990 já se encontra em fase de pré-lançamento. A obra, das Edições Causa Operária, ilustra a trajetória da ruptura dos militantes do que viria a ser o PCO (Partido da Causa Operária) com a OSI (Organização Socialista Internacionalista), que se afastam da organização e fundam, em junho de 79, a TTB (Tendência Trotskista Brasileira), tendência essa que decide ingressar no Partido dos Trabalhadores (PT) e lutar por um partido revolucionário. É neste momento que irá surgir a tendência Causa Operária, posterior Partido da Causa Operária.

O livro remonta, através de debates e campanhas na época retratadas tanto pela imprensa da TTB, quanto pela imprensa da tendência Causa Operária, cujo Partido hoje tem o jornal mais antigo em circulação na esquerda, o Jornal Causa Operária, a história da trajetória do grupo marxista revolucionário dentro do PT e sua luta por um partido que atendesse às demandas da classe trabalhadora, adotando como seu programa o programa revolucionário: o programa para a fase de transição do capitalismo para o socialismo.

Em 1980, com o ingresso no PT dessa geração militante formada na luta das greves operárias, a TTB se tornou a fração trotskista e revolucionária do PT, passando a ser conhecida pelo nome do seu jornal, Causa Operária, que teve no mesmo ano sua I Conferência Nacional organizada, centrada nas greves do ABC. No livro A Luta Por Um Partido Revolucionário Dentro do PT: Documentos e artigos do Jornal Causa Operária de 1979 a 1990, temos acesso aos debates acerca da Conferência de altíssimo valor.

O cerne do ingresso da Tendência Trotskista Brasileira no PT vem do entendimento de que o partido, naquele momento, abria a possibilidade de organização de um partido operário de enormes proporções, evento que apontava a necessidade de uma enérgica intervenção da vanguarda revolucionária e consciente da classe operária nos rumos da organização desse partido, para estabelecer um programa socialista e independente, único programa que pode, livre dos compromissos organizativos e programáticos da burguesia, se firmar como partido da revolução em um momento pré-revolucionário.

Não demorou para que as crises entre a tendência Causa Operária e as frações direitistas do PT começassem a surgir. Em 82, enquanto o grupo Causa Operária trabalhava para criar um amplo bloco para a esquerda do PT se organizar dentro do Partido, a ala direita se organizou de maneira muito bem estruturada como a articulação dos 113, posteriormente chamada apenas de articulação. O livro A Luta Por Um Partido Revolucionário Dentro do PT: Documentos e artigos do Jornal Causa Operária de 1979 a 1990 aborda a campanha realizada dentro do partido pelo estabelecimento desse bloco de esquerda, e de como a sabotagem da esquerda pequeno-burguesa frustrou a pretensão de que tal organização triunfasse.

Não deixe de adquirir seu exemplar de A Luta Por Um Partido Revolucionário Dentro do PT: Documentos e artigos do Jornal Causa Operária de 1979 a 1990, entrando em contato com qualquer um dos militantes do Partido da Causa Operária, ou através da Loja do PCO.

https://causaoperaria.org.br/2024/de-onde-vem-o-pco-saiba-com-novo-livro-em-pre-venda/

 

 

 

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COLUNA

Martim Cererê – Cassiano Ricardo

Resenha Livro – “Martim Cererê: o Brasil dos meninos, dos poetas e dos heroes” – Cassiano Ricardo – Ed. São Paulo

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“Então o negro da Angola

Levou o garôto pra escola

que o primeiro yôyô branco

fundara junto ao barranco

à borda do campo em flor.

E disse: seu professor

Aqui trago este menino

Pra vassuncê dar um jeito

De fazer dele um doutor,

Pois nunca vi neste mundo

menino mais reinador.

(Sussurrava lá dentro do mato um Brasil todo em flor).”

Neste ano de 2022 comemoraremos no Brasil o bicentenário da Independência Nacional, marco histórico da constituição do país que superou o estatuto colonial, ao menos formalmente. Certamente, trata-se de um projeto ainda incompleto, que espera uma revolução nacional que lance as bases de uma efetiva soberania política, econômica e cultural.

Neste ano de 2022, ainda comemoramos o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, movimento que criou as condições para a criação de uma arte nacional tanto na sua forma quanto no seu conteúdo, superando nossa tendência de criar arte e literatura de acordo com escolas estrangeiras.

Martim Cererê do escritor paulista é certamente fruto daquele movimento iniciado em 1922.

O livro foi publicado em 1927, um ano antes do lançamento de Macunaíma, de Mário de Andrade. Contudo, o livro de poemas de Cassiano Ricardo foi certamente um sucesso de público se comparado ao mais famoso livro de Mário de Andrade, ao menos durante os anos 1920/30.

Em 10 anos foram publicadas 6 edições de Martim Cererê, sendo certo que cada publicação foi objeto de inclusão e exclusão de várias palavras, versos e poemas inteiros, de modo que se pode dizer que Martim Cererê foi realmente (re)escrito entre os anos de 1920/1960.

Inicialmente, o livro se situava dentro da proposta do movimento “Verde Amarelo” constituído por Menotti del Picchia (1892-1988), Plínio Salgado (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974).

Este movimento fazia contraposição ao movimento antropofágico capitaneado por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Ambos são fruto direto da Semana de 1922.

Posteriormente, o grupo “Verde Amarelo” seria objeto de um racha. Um setor capitaneado por Plínio Salgado passou a defender o integralismo e a aplicação do regime italiano fascista no Brasil. Cassiano Ricardo se opôs ao integralismo, vendo-o como um movimento que abandona a perspectiva nacional para endossar ideologia estrangeira. Por considerações parecidas, o escritor também se opunha ao comunismo. Em contraposição ao comunismo e ao integralismo, nasce o movimento “Bandeira”, sendo portanto, descabidas algumas críticas superficiais que buscam desmerecer Martim Cererê por uma suposta filiação ao nazi-fascismo.

Tanto é assim que nas primeiras edições do livro (antes do advento do integralismo) a obra era iniciada com um poema de Plínio Salgado, que foi posteriormente excluído das edições dos anos 1930.

Outro erro da crítica foi o de promover análises do livro se baseando em uma ou outra versão, desconsiderando as variações das diversas edições do livro – que refletiam a própria evolução do pensamento político de Cassiano Ricardo.

Vemos que o espírito bandeirante e sua importância na constituição do Brasil irá ganhar maior importância nas edições posteriores a 1932, após a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Igualmente, nas edições tardias, é dado maior relevo ao imigrante italiano, como um quarto elemento da “raça cósmica” brasileira, constituída pelo desbravador português (“caçador de relâmpagos”), o índio e o negro.

As alterações das diversas edições de Martim Cererê vão assim refletindo as mudanças políticas e seus impactos na consciência do escritor.

O livro não deve ser lido como uma somatória de pequenos poemas, mas como um único poema épico acerca da história do Brasil. Uma epopeia na qual o Brasil não foi descoberto “por acaso”, mas que é achado por navegadores com a consciência de cumprir um destino.

Nosso país é retratado como uma nação na sua primeira infância:

“E como todo creador que quer fazer a criatura à sua imagem

Levou a criança travêssa

P’ra sua mãe-preta criar.

Depois botou-lhe barrete

Muito vermelho á cabeça

E começou a gritar:

Como fica bonito, elle assim !

Todo pintado de carvão

com o seu gôrro carmesim.”

(…)

“Então eu penso em mil cousas bonitas.

Penso no meu paiz onde tudo é creança.

Onde a terra é creança que brinca

Com borboletas á margem dos rios.

Onde os rios também são creanças

Brincando de carro com a roda da lua

Numa paisagem ainda torta e desmanchada

Toda manchada de esperança

Toda borrada de ilhas em debuxo

Com borrões de lápis verde num caderno de creança”

No ano do bicentenário da independência nacional, do centenário da Semana de 22 que lançou as bases do modernismo, inclusive no campo historiográfico quando advieram os livros de história do Brasil de Gylberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Prado e Caio Prado Júnior, nossa torcida é que uma nova onda nacionalista encante e mobilize os milhões de compatriotas em torno de vôos mais altos, tornando realidade todas as potencialidades do país. Como já foi dito, no guarda chuva do nacionalismo existe lugar para todos os brasileiros.

https://causaoperaria.org.br/2024/martim-cerere-cassiano-ricardo/

 

 

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COLUNA

Identitarismo transforma Mário de Andrade em ‘escritor LGBTQIA+’

"Há um esforço para reduzir a literatura e a arte a pequenos grupo sociais"

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Campeã do carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre desenvolveu um enredo homenageando o grande escritor modernista Mário de Andrade: “Brasiléia Desvairada: a Busca de Mário de Andrade por um País”. Muito interessante, não tanto por ser inovador, já que variações desse tema já foram adotadas por muitas escolas na história do carnaval, mas porque foge um pouco do lugar-comum optado pelas agremiações, influenciadas pela ideologia identitária.

Ao abrir o portal Terra, no último dia 14, vejo em destaque o seguinte artigo: Quem é o escritor LGBTQIA+ homenageado pela escola campeã do Carnaval de São Paulo. A primeira sensação é de estranheza: quem seria esse escritor? Logo depois, me lembro do tema da Mocidade e de Mário de Andrade, o que causa mais estranheza ainda: transformaram um dos mais geniais escritores de língua portuguesa do século XX em um “escritor LGBT”.

O artigo refere-se às cartas em que supostamente Mário de Andrade revela-se bissexual, mais ainda, o texto afirma que, segundo “Jason Tércio, autor de ‘Em busca da alma brasileira – Biografia de Mário de Andrade’, revelou ainda que o escritor poderia ser pansexual, ou seja, se relacionar com pessoas de todas as expressões e identidades de gênero.” A primeira pergunta é: e daí? Qual seria exatamente a vantagem para a cultura nacional especular sobre os desejos íntimos de Mário de Andrade?

Especulação é a palavra mais precisa para isso. Ao ler a carta que revelaria a opção sexual, escrita a Manuel Bandeira em abril de 1928, é impossível chegar a uma conclusão definitiva sobre a orientação sexual do escritor, pode-se, quando muito, deduzir.

Para ser justo, é uma interpretação possível; o que não é possível é uma conclusão categórica. Mário de Andrade, inclusive, termina o texto dizendo ao amigo: “eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem sequencia, faça deles o que quiser”.

Especulações à parte, não é a sexualidade de Mário de Andrade que nos interessa aqui, mesmo porque, a vida íntima do escritor não altera uma vírgula sequer de sua grandiosa obra intelectual.

O que chama a atenção é a maneira como o artigo do portal Terra aborda o tema. Reduziram Mário de Andrade a um escritor LGBT como se isso fosse lá algum critério para definir escritores e movimentos literários.

Para ser mais preciso, se um grupo de escritores LGBT quisessem fazer um movimento literário, eles estariam no seu direito, mas Mário de Andrade é Mário de Andrade e ponto final. Mário de Andrade é o principal pensador, agitador e criador do movimento Modernista brasileiro. Como disse, sua vida íntima não muda isso, em nada.

Para que apresentar o grande escritor como LGBT? O que está por trás disso é justamente uma política, impulsionada pela ideologia identitária, de reduzir a arte e a literatura a uma questão de “identidade”, aqui no sentido de pequenos grupos sociais. Embora o artigo não diga isso abertamente, o sentido dessa política é transformar Mário de Andrade como adepto de uma “literatura LGBT”. Ele não seria mais do movimento modernista, que inclusive tem sido muito caluniado pelo identitarismo, mas de outro movimento que nunca existiu, do qual ele nunca sequer pensou em formar, mas que os ignorantes metidos a intelectuais de hoje tentam forçosamente enquadrá-lo.

O artigo fez-me lembrar de outra experiência na internet, dessa vez na Wikipedia. Ao abrir o artigo sobre o romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, vemos a seguinte definição sobre o gênero literário do livro: “Romance homoerótico, ficção erótica”. Substituíram o naturalismo, movimento do qual faz parte Caminha, por um gênero inventado.

É de certa forma compreensível que o chamado movimento LGBT queira adotar determinados personagens e acontecimentos para reforçar a sua posição. Mas o que ocorre aqui não é isso. Há uma deturpação, uma distorção dessa literatura. No final das contas, é um rebaixamento transformar o romance naturalista de Caminha num mero texto erótico, assim como transformar Mário de Andrade em “escritor LGBT”.

O grande poeta e estudioso da literatura, Oswaldo de Camargo, define, em linhas gerais, que a “literatura negra” é aquela que fala sobre o negro. Ou seja, não basta que um escritor seja negro, ele precisa falar sobre o negro. Essa definição, que pode ser debatida e desenvolvida exaustivamente, é precisa. Ela procura inserir a literatura negra como um aspecto da literatura universal.

O identitarismo, no entanto, trata tudo de maneira superficial. Como toda ideologia imperialista, é um rebaixamento e uma degeneração cultural, ele acaba reduzindo algo universal, como é a arte e a literatura, a um problema de pequenos grupos.

 

https://causaoperaria.org.br/2024/identitarismo-transforma-mario-de-andrade-em-escritor-lgbtqia/

 

 

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‘O Jesuíta’, de José de Alencar

"A peça teatral 'O Jesuíta' foi a última obra escrita pelo escritor cearense José de Alencar enquanto dramaturgo"

 

“Brasil! … Minha pátria! … Quantos anos ainda serão precisos para inscrever o seu nome, hoje obscuro, no quadro das grandes nações? … Quanto tempo ainda serás uma colônia entregue à cobiça de aventureiros, e destinada a alimentar com as tuas riquezas o fausto e o luxo de tronos vacilantes (Pausa; arrebatado pela inspiração) Antigas e decrépitas monarquias da velha Euroopa! … Um dia compreendereis que Deus quando semeou com profusão nas entranhas desta terra o ouro e o diamante, foi porque reservou este solo para ser calcado por um povo livre e inteligente” (ALENCAR, José de. “O Jesuíta”).

A peça teatral “O Jesuíta” foi a última obra escrita pelo escritor cearense José de Alencar enquanto dramaturgo. Foi redigida em 1861 e apenas encenada no ano de 1875, quando o autor já apresentava os primeiros sinais da tuberculose pulmonar que o levaria à morte em 12 de dezembro de 1877.

Consta que o espetáculo não foi um sucesso de público e não obteve os aplausos da crítica.

Na opinião do próprio autor, externada no prefácio da obra, o fracasso de sua peça decorreu da sua inadequação perante o mau gosto do público fluminense:

“É que o público fluminense ainda não sabe ser público, e deixa que um grupo de ardílios usurpe-lhe o nome e os foros. Se algum dia o historiador de nossa ainda nascente literatura, assinalando a decadência do teatro brasileiro, lembrar-se de atribui-la aos autores dramáticos, este livro protestará contra a acusação”.

Na verdade, essa incompatibilidade entre o drama e o público carioca decorria de mudanças no âmbito do pensamento e da cultura: já em 1875 o público letrado fluminense já era mais afeito ao anticlericalismo, ao passo que a peça é um elogio à atuação da Companhia de Jesus e dos jesuítas. Além disso, o gosto teatral deixava de ter apelo ao drama e se voltava ao teatro musicado, de gênero alegre, de influência francesa. O público buscava o teatro cada vez mais para fins de entretenimento e diversão, e aquele drama histórico, que abordava os instantes imediatamente anteriores à expulsão dos jesuítas, já aparecia anacrônico naquele momento.

A história contada em “O Jesuíta” se passa no Rio de Janeiro de 1759 ou mais exatamente quatro anos antes da transferência da sede administrativa da colônia de Salvador para o território fluminense, movimento político que acompanhou de forma paralela o movimento econômico de deslocamento do eixo econômico do Brasil dos engenhos de açúcar nordestinos para a busca pelo ouro e diamantes na porção sul meridional da colônia.

Tratava-se de um processo de longa duração de interiorização da colonização portuguesa, dentro do qual o Rio de Janeiro servia como um empório natural do comércio, especialmente de escravos, e centro político que servia de anteparo e ponto de partida ao movimento em direção às minas gerais.

Tanto a transferência da sede do vice reinado ao Rio de Janeiro quanto a expulsão dos jesuítas se deram no bojo das reformas administrativas levadas a cabo pelo plenipotenciário ministro e estadista português Marques de Pombal.

Influenciado pelo iluminismo e pela ideologia política do despotismo esclarecido, o ministro do Rei Dom José I promoveu a expulsão dos jesuítas da colônia portuguesa em 14 de novembro de 1759, o que se deu após uma série de entrechoques entre a Companhia de Jesus e as autoridades régias: os jesuítas administraram as aldeias através das missões jesuíticas, sendo, desse modo, um obstáculo aos interesses dos colonos de explorar, sem restrições, o trabalho dos povos nativos, o que se deu de forma particularmente intensa na região do norte, onde a mão de obra africana era menos significativa.

Contudo, o mais conhecido conflito que opôs os jesuítas e as autoridades régias se deu nas conhecidas guerras guaraníticas ao sul da colônia, quando as Coroas Portuguesa e Espanhola estabeleceram um novo acordo de demarcação territorial através do Tratado de Madrid de 1750.

De acordo com os novos limites territoriais estabelecidos na convenção, os portugueses cederiam a região de Sacramento, onde hoje se situa o Uruguai, para a Espanha e, em troca, controlariam os Sete Povos das Missões, que correspondia a um conjunto de sete aldeamento indígenas presididos pelos jesuítas que, no seu auge, comportava 30 mil pessoas, situado onde hoje está o Rio Grande do Sul.

Pelo tratado, os indígenas e jesuítas que estavam do lado brasileiro deveriam atravessar o Rio Uruguai e se mudar para o lado espanhol. Foi justamente a recusa dos índios e da parcela mais combativa dos missionários em atender a ordem de evacuação forçada o ponto de partida de uma guerra que durou três anos, levou à destruição das missões e à morte de milhares de índios e religiosos.

Na peça “O Jesuíta”, o escritor faz do seu drama um retrato desse período histórico, quando os portugueses passam a acusar a Companhia de Jesus de corrupção e conspiração contra o Rei, o que foi na verdade um pretexto para expulsá-los do país.

O protagonista Samuel vive na cidade do Rio de Janeiro disfarçado de um médico italiano para não despertar a atenção das autoridades, que já estavam em processo de perseguição dos missionários. Esta oposição entre os jesuítas e as autoridades régias apareça na peça como uma forma embrionária de luta pela afirmação da independência nacional e pela superação do jugo colonial.

Isto se dava essencialmente pelo papel social ocupado pelo jesuíta, um elemento nobre, racional e prudente, que renega os sentimentos mundanos e rompe os laços que o prendem à sociedade para se dedicar a uma missão lhe designada por Deus.

Perseguido pelo Conde de Bobadela, governador na colônia e executor das ordens de Marquês de Pombal, o protagonista granjeia o respeito e admiração do povo, de modo que a sua perseguição pelas autoridades dá ensejo à maior clivagem e oposição entre a população nativa e a Coroa Portuguesa.

Além disso, a personificação do movimento de independência nacional na figura do jesuíta Samuel era possível pelo papel social ocupado pelos religiosos da Companhia de Jesus na colônia. Eles foram os pioneiros da educação do país, criaram as primeiras escolas, onde ensinaram moral, religião e letras. Constituíram as primeiras expressões nacionais de teatro, poesia e músicas. Foram os precursores da intelectualidade brasileira e, como cediço, um movimento político nacionalista não poderia nascer sem um movimento intelectual que lhe servisse de substrato.

Mas não é só.

O jesuíta representava a consciência do povo já que através da sua atividade religiosa e até mesmo pelos segredos que escutavam no confessionário tinha contato e conhecimento do clima político da época e do que pensava a opinião público. A isso se soma, ao menos na peça de Alencar, outros atributos que o colocavam como artífices da independência brasileira: eles tinham o senso de responsabilidade, o sentimento do dever, a capacidade de distinguir o bem e o mal. Já as autoridades régias aparecem como antipopulares e corruptas: a perseguição e prisão dos missionários é acompanhada de atos de extorsão e roubo dos recursos e riquezas da Igreja, arrecadados para o cuidado dos doentes e dos órfãos.

Nesta peça histórico, o Dr. Samuel representa a alma da jovem américa. Já o Conde de Bobadela representa o poder da velha Europa.

E além dessa oposição entre nacionalismo e colonialismo, a história, dentro das premissas do romantismo literário, também estabelece a oposição entre o sublime e o mundano, entre os desígnios da ideia e às exigências do corpo e do amor, entre a renúncia de si para obtenção da glória religiosa e a busca da felicidade através do casamento. Isso se dá através do personagem Estevão, afilhado do Dr. Samuel, que teve sua formação moral e religiosa conduzida para o sacerdócio e que nega sua vocação após apaixonar-se por Constância, esta última afilhada do Conde de Bobadela.

O engajamento religioso e a luta desinteressada em torno da liberdade e independência nacional envolvem a glória a que busca o protagonista Samuel. Já o seu afilhado vê no casamento e na tranquila felicidade conjugal a sua verdadeira vocação. Essa tensão levará ao conflito em que prevalecerá o amor terreno entre Estevão e Constância em detrimento do ideal religioso e ascético buscado por Samuel.

Esta última peça de teatro pode ser lido como uma síntese de duas variantes presentes na obra de José de Alencar: o drama histórico pelo qual se busca a constituição de uma identidade nacional, personificada aqui na figura do Jesuíta, tal qual anteriormente o fora através do índio em comunhão com o português; e o drama de natureza mais sentimental, folhetinesco, convencional e, em certa medida, previsível.

 

https://causaoperaria.org.br/2024/o-jesuita-de-jose-de-alencar/

 

Chapolin Gremista
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LITERATURA

02/3/1814: morria Sousa Caldas, o poeta católico

Sousa Caldas viveu durante um período revolucionário, foi preso pelo Santo Ofício, mas mesmo assim viveu até os 51 anos e se tornou um dos grandes poetas do Brasil

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António Pereira de Sousa Caldas, nascido em 1763, no seio de uma família portuguesa estabelecida no Rio de Janeiro, teve sua vida marcada por uma notável trajetória entre letras e convicções que desafiaram as normas de sua época.

Uma pessoa de saúde frágil, desde cedo Sousa Caldas demonstrou aptidão para as letras. Aos oito anos, foi enviado a Lisboa para viver sob os cuidados de um tio, iniciando assim uma jornada que o levaria a matricular-se, aos dezesseis anos, no curso de matemática da Universidade de Coimbra. Contudo, suas ideias francesas lhe renderam problemas com o Santo Ofício, resultando em sua prisão e condenação por heresia em 1781.

Apesar de uma tentativa de catequização, Sousa Caldas manteve seu pensamento crítico. Em 1784, compôs a “Ode ao Homem Selvagem,” influenciada por Jean-Jacques Rousseau, e em 1785 foi provavelmente o autor de “O Reino da Estupidez,” afastando-se da ortodoxia católica.

Após obter o bacharelado em Cânones, Sousa Caldas empreendeu uma viagem à França, recomendado ao segundo marquês de Pombal. Seus estudos jurídicos foram concluídos em 1789, e uma jornada pela Itália culminou em sua ordenação sacerdotal em Roma, no ano seguinte.

A partir de sua ordenação, Sousa Caldas abandonou a poesia profana, destacando-se como orador sacro e poeta com inclinação filosófica e religiosa. Sua mudança para o Rio de Janeiro, em 1801, marcou o início de uma fase estável em sua vida.

Entre 1810 e 1812, Sousa Caldas escreveu uma série de cartas abordando temas como a liberdade de opinião, revelando a coexistência de sua fé religiosa com o desejo de liberdade de pensamento.

Faleceu aos 51 anos, em 1814, sem ter ocupado cargos oficiais. Suas obras, publicadas postumamente, incluem “Ode ao Homem Selvagem,” “A Criação” e “Poesias Sacras e Profanas”, revelando seu talento literário e sua versatilidade.

O legado de António Pereira de Sousa Caldas é preservado em suas obras, que continuam a ser estudadas e apreciadas, proporcionando um vislumbre único da mente de um homem que desafiou as convenções de sua época em busca da expressão autêntica para suas ideias e crenças.

  https://causaoperaria.org.br/2024/02-3-1814-morria-souza-caldas-o-poeta-catolico/

 

 

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