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Meu trabalho de História sobre Chapolin


Corpo do Benito

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Olá, pedi há algum tempo umas informações no Fórum Social para um trabalho de História da faculdade. Pois bem, ele está feito, em parceria com uma amiga. Ela se encarregou da pesquisa histórica. Eu, das análises dos episódios do Chapolin. Espero que gostem! (Tirou nota 10! @.@)

Chapolin: a astúcia da América Latina

“Mais rápido que uma tartaruga, mais forte que um rato, mais inteligente que um asno”, Chapolin Colorado surgiu sob a concepção de satirizar os heróis norte-americanos com superpoderes e de fazer uma crítica social da América Latina, por ser um herói “sem dinheiro, sem recursos, sem inventos sensacionais, débil e tonto”, como diz seu criador, Roberto Gómez Bolaños. Apesar de medroso, Chapolin é valente por superar seu medo para ajudar a quem precisa.

A força bruta versus a inteligência

Chapolin surgiu em um momento de turbulência na América Latina. A estreia da série “El Chapulín Colorado”, em 1970, acontecia no contexto da Copa do Mundo de Futebol, realizada no mesmo ano no México, e da Olimpíada, sediada na capital em 1968, que trouxeram visibilidade ao país e à América Latina, palco de movimentos estudantis na década de 60. Reflexos da Guerra Fria (1947/8–1991), disputa ideológica, militar e espacial, envolvendo Estados Unidos (capitalista) e União Soviética (comunista).

O México, na época, era presidido pelo tio de Roberto Gómez Bolaños, Gustavo Díaz Ordaz Bolaños (1964-1970). Apesar de não ser ditatorial como o regime militar brasileiro (1964-1985), o governo não tolerava os protestos. Em setembro de 1968, o Exército ocupou a Universidade Autônoma do México (UNAM) a fim de acabar com as revoltas. No dia 2 de outubro, às vésperas da Olimpíada, 15 mil alunos protestaram nas ruas da Cidade do México contra a ocupação da UNAM. O Exército foi novamente chamado para acalmar a revolta e conter os manifestantes, duramente reprimidos, o que ficou conhecido como Massacre de Tlatelolco. Até hoje, não se sabe o número certo de mortos.

Sigam os bons americanos!

A influência estrangeira nos países subdesenvolvidos foi tema de vários episódios de “El Chapulín Colorado”. A começar pelas citações irônicas de heróis norte-americanos. No episódio “La tribu perdida” (1973), uma personagem zomba do herói, declarando que seria melhor ter chamado o Batman no lugar dele. Chapolin respondeu à altura: “Em primeiro lugar, Batman não está porque está em lua-de-mel com Robin”. Em “No es lo mismo el pelotón de la frontera, que la pelotera del frontón” (1976), Chapolin, ao usar um cipó para se deslocar, comenta que ensinou o método “a um tal de Tarzan dos macacos, mas ele não aprendeu muito bem”.

Chapolin se enche de patriotismo ao declarar que seus defendidos não precisam de “heróis importados”. No episódio “Conferencia sobre un Chapulín” (1974), Bolaños, sob a pele de seu personagem Doutor Chapatin, explica que “tudo começou quando o povo da América Latina se deu conta que seria urgente que tivéssemos um herói local, um herói autóctone, um herói que falasse a nossa língua”.

O espírito nacionalista surgiu muito antes da chegada do herói. A sociedade mexicana estava dividida em 1900: enquanto a classe média – composta por cerca de um milhão de pessoas – desfrutava de certo conforto, trabalhando em escritórios e ouvindo músicas norte-americanas, uma nação camponesa – oito milhões de agricultores, a maioria de ascendência indígena – se encarregava da produção de grãos. Apesar de a economia ser eminentemente rural, a posse da terra era realidade para somente três por cento da população. Quem detinha o poder no campo e o controle da riqueza nacional era os latifundiários, realidade que se estendeu até a década de 30.

Nesta época, o modelo norte-americano de progresso começou a ser questionado. O cinema chegara à América Latina em 1890, associando o pensamento latino-americano à Europa e aos Estados Unidos. Hollywood definia o que o público esperava de uma produção cinematográfica: após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), 95 por cento de seus filmes eram assistidos pelos novos espectadores.

A visão norte-americana dessa época valia-se da raça e da cultura para interpretar os vários povos latino-americanos, tidos como culpados pela pobreza, pela instabilidade e pelas ditaduras. Faltava-lhes disciplina para formar sociedades estáveis e democráticas. A imagem que se criou era a de um mexicano preguiçoso e apático, muito embora a realidade dos lavradores e camponeses fosse outra.

Em 1929, os Estados Unidos dirigiram para a América Latina quarenta por cento de seus investimentos no exterior. Nessa época, movimentos nacionalistas transformaram a região, indo além da classe média urbana. O ressentimento tomou conta das críticas ao imperialismo norte-americano, em virtude da perda de metade do território e de resquícios de políticas implantadas sistematicamente, como a Doutrina Monroe (1823).

O sentimento nacionalista foi colaborado pela Revolução Mexicana, liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa, que, além de ter derrubado o regime do General Porfírio Diaz (1876-1911), instituiu a Constituição de 1917, concedendo, entre outros direitos, o de propriedade da terra. Uma vitória do campesinato.

Durante as décadas de 20 e 30, houve um incentivo da produção nacional no país: músicas e danças folclóricas, pratos tradicionais e artesanato. Filmes mexicanos, apresentando tipos másculos como Jorge Negrete, versão mexicana do caubói norte-americano, competiam agora com Hollywood. A produção cinematográfica das décadas de 40 e 50 também foi rica, graças a Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes (1911-1993), eleito recentemente o melhor comediante do México, cujo personagem “Cantinflas” conquistou o público com seu jeito atrapalhado de falar. Durante a presidência de Lázaro Cárdenas (1934-1940), buscava-se idealizar um México melhor e mais justo. Sobre o imperialismo norte-americano, Cárdenas (foto) declarou a famosa frase: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os nacionalistas enfrentaram desafios de ordem social, política e econômica, sofrendo, além de tudo, com a hostilidade dos Estados Unidos. Apaga-se, assim, a ideia do bom vizinho. Nos anos 40, o México dispunha de um sistema de partido único, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que caracterizava uma democracia aparente. Era um período de notável crescimento, em que a moeda mexicana mantinha-se firme. Os Estados Unidos exibiam prosperidade e “boa vida” através da mídia, com propagandas de carros e artigos domésticos. Entretanto, ofereciam pouca ajuda ao público mexicano, desejoso de alcançar tais bens.

Em “El Chapulín Colorado”, a hegemonia dos países industrializados no mundo subdesenvolvido é simbolizada por meio de Super Sam. O personagem é o paradigma do poderio norte-americano: uniforme semelhante ao do Superman – com direito ao famoso símbolo no peito do traje azul – e cartola com as cores da bandeira estadunidense. Como nunca fora chamado para ajudar alguém, suas aparições na série eram fruto da intromissão nas ações do Chapolin.

Enquanto Chapolin usava sua marreta biônica como arma, Super Sam tinha em mãos um saco de dinheiro, além do grito “Time is money!”. Saindo da ficção, em 1961, o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy (foto), propôs a “Aliança para o progresso” durante a Conferência de Punta del Leste, no Uruguai. Na proposta, Kennedy forneceria 20 bilhões de dólares aos países latino-americanos por dez anos. A execução do programa ficou comprometida em virtude do assassinato de Kennedy, em 1963, mas denota-se o viés ideológico da ajuda financeira dos Estados Unidos, em plena Guerra Fria e apenas dois anos depois da Revolução Cubana.

A estreia de Super Sam na série merece uma atenção especial. Aconteceu em 1973, no episódio “De los metiches líbranos señor”. Nele, o bandido soviético Dimitri Panzov deseja se casar com uma camponesa já comprometida. Ao chamar pelo Chapolin, surge o herói errado, Super Sam. A camponesa insiste que quer ser ajudada pelo Chapolin, que aparece – tropeçando, como sempre.

No episódio, Chapolin e Super Sam duelam para decidir quem protegerá a pobre senhorita. Aproveitando-se da situação, Panzov rapta a moça e a prende dentro de casa com uma bomba. Chapolin corre do soviético, que, cansado, é levado a marretadas para dentro da casa da camponesa. Já Super Sam aproveitou-se da perseguição para entrar no local e desprendê-la, mas ela já havia se soltado e se encontrado com seu noivo.

A última cena do episódio é antológica. Com o soviético e o norte-americano dentro da casa, Chapolin, acidentalmente, senta no detonador da bomba, que explode. Do interior da casa, saem Dimitri Panzov e Super Sam, abatidos. O soviético saiu usando cartola; o estadunidense, o típico chapéu russo.

Já o episódio “Todos caben en un cuartito, sabiéndolos acomodar” (1977) é carregado de sutis representações da relação entre Estados Unidos e América Latina. Em um hotel com somente um quarto disponível, Chapolin e Super Sam são atendidos por duas pessoas diferentes, que mostram o mesmo quarto aos dois heróis. No entanto, eles não se veem em nenhum momento. Logo na chegada dos personagens à hospedaria, nota-se a discrição e humildade do mexicano – apenas com uma bagagem – e os excessos e o consumismo do norte-americano – trazendo cinco pesadas malas.

No mesmo quarto, América Latina e Estados Unidos se conflitam: enquanto Chapolin fecha a janela do quarto, Super Sam a prefere aberta. Super Sam prepara seu café-da-manhã sozinho (o individualismo presente nos super-heróis e na sociedade norte-americanos) e Chapolin o devora. A hora de dormir ilustra a frase do presidente Cárdenas. Os dois heróis, sem preceber, passaram a noite na mesma cama.

As referências históricas nos episódios de “El Chapulín Colorado”, como a alusão à Guerra Fria (“De los metiches líbranos señor”) e à relação entre estadunidenses e latino-americanos (“Todos caben en un cuartito, sabiéndolos acomodar”), permeiam o trabalho de Roberto Gómez Bolaños em “El Chapulín Colorado”, buscando satirizar uma época conturbada no mundo dos anos 60 e 70. A fraqueza latino-americana, em contraposição ao individualismo estadunidense, não é empecilho para conseguir a vitória, pois o herói, embora não seja forte, é astuto, como diz o famoso grito de Chapolin Colorado: “Não contavam com minha astúcia!”

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Bem legal, Paulo. :)

Poderia ter também citado o esquete "A Guerra de Secessão", no trecho em que brincam que, sem os negros, teriam que importar mão-de-obra mexicana. :lol:

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