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Chapolin Gremista

 

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Um século em 17 minutos

"Essa semana assisti a um curta-metragem surpreendente e que motivou a reflexão que segue. Trata-se do filme The Potemkinists, dirigido pelo jovem cineasta romento Radu Jude"  

Essa semana assisti a um curta-metragem surpreendente e que motivou a reflexão que segue. Trata-se do filme The Potemkinists, dirigido pelo jovem cineasta romento Radu Jude em 2022.

Em apenas 17 minutos, Jude consegue resumir o que significa a pós-modernidade, ou seja, a lógica cultural do capitalismo atual (Fredric Jameson), de maneira brilhante, crítica e irônica, usando como pano de fundo um monumento nacional de seu país e outro monumento, esse da cinematografia mundial, O Encouraçado Potemkin, que Sergei Eisenstein dirigiu em 1925.

Ao contar a história dos marinheiros que se amotinam em 1905 contra as péssimas condições a bordo e que impactará em uma revolta em Odessa, hoje parte da Ucrânia, o cineasta russo retratou um momento importante pré-Revolução Russa e, ao mesmo tempo, estabeleceu as bases de um cinema de vanguarda e experimental.

A estátua escolhida por Jude é chamada de Monumento à Juventude, tem 38 metros de altura e foi construída em 1988, um ano antes da queda do presidente comunista Nicolae Ceausescu. Foi construída às margens do Danúbio, no canal que o liga ao Mar Negro, como homenagem aos trabalhadores que construíram esse canal.

Na biografia de Ceausescu consta uma Medalha do Cruzeiro do Sul, homenagem do governo brasileiro em 1975. Todo o resto é somente a velha receita da mídia ocidental de demonizar comunistas para justificar sua execução sumária em 1989. Nada diferente do que chamam Maduro ou Putin hoje em dia. Então é de desconfiar muito e correr atrás de boas fontes históricas.

De concreto, é que o filme usa esses dois momumentos para fazer uma reflexão política que é crítica principalmente ao nosso atual momento histórico.

Na história, um escultor (Alexandru Dabija) tenta obter financiamento de uma burocrata da cultura (Cristina Draghici) para restaurar o Monumento à Juventude. Seu objetivo é que se torne uma homenagem aos marinheiros do Encouraçado Potemkin (ambiguamente ao filme de Eisenstein) que buscaram asilo na Romênia após o episódio em Odessa (daí Os Potemkinistas do título).

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A gigante escultura de concreto, inspirada em uma flama ou em anjo (depende da fonte), é, ao mesmo tempo, o cenário do filme e o retrato do que Walter Benjamin discorre sobre as ruínas no capitalismo. Está pixada, saqueada, abandonada e suja. Parte de seus afrescos de ferro estão no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma). Quem diz que o imperialismo não tem nada a ver com isso, certo?

Para conquistar o apoio da burocrata, o escultor vai tecendo comentários que se contradizem de modo a concordar com ela e, ao mesmo tempo, manter certa integridade. Suas contradições incluem comentários a Eiseinstein, Putin e outros.

Ela é claramente de direita, capitalista e nem quer saber do passado comunista do monumento. Ao final, o escultor consegue alguma coisa de seu intento: uma restauração que ele mesmo aponta como pastiche.

Com precisão e concisão, Jade mostra com essa situação várias questões atuais. Há uma discussão, presente também no Brasil, sobre a preservação da memória e de monumentos históricos, que são derrubados ou transformados de acordo com a vontade política do momento.

Há também a reconstrução do sentido da obra de arte através da referência superficial, do apagamento da história e da imposição de uma ideologia reacionária. O magnífico Monumento à Juventude torna-se homenagem ao que a burocrata e o artista contemporâneos querem.

Com o filme de Eisenstein, também objeto de mutilação (intencional, dentro da proposta do filme), o diretor romeno une duas pontas: o começo e o fim do sonho revolucionário, o começo e o fim de uma arte revolucionária e de vanguarda. Nada mais justo para representar a sandice dos dias em que vivemos.

https://causaoperaria.org.br/2023/um-seculo-em-17-minutos/

 

 

 

 

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The Rock voltará de vez à franquia "Velozes e Furiosos" e estrelará um novo filme da saga.

O ator retorna ao personagem de Luke Hobbs.

Ele já tinha aparecido novamente na cena pós-créditos de "Velozes e Furiosos 10" e, segundo informações da Variety, será o protagonista do próximo longa.

The Rock explicou que a próxima produção acontece entre os eventos de "Velozes e Furiosos 10" e "Velozes e Furiosos 10 : Parte 2" e se chamará "Hobbs".

Fonte : https://www.uol.com.br/splash/noticias/2023/06/01/the-rock-coloca-briga-com-vin-diesel-de-lado-e-estrelara-proximo-velozes.htm

 

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  • 2 semanas depois...
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A Disney adiou o próximo filme da franquia "Avatar".

"Avatar 3", anteriormente previsto para dezembro de 2024, agora chegará aos cinemas em 19 de dezembro de 2025.

Já "Avatar 4" está agendado para 21 de dezembro de 2029, enquanto "Avatar 5" será lançado em 19 de dezembro de 2031.

Fonte : https://ovicio.com.br/avatar-3-4-e-5-sao-adiados/

 

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Chapolin Gremista
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CINEMA BRASILEIRO

“A cor do seu destino”, filme de Jorge Duran

O filme “A cor do seu destino”, de 1986, mostra o quê e em quem jogar coisas em sinal de protesto.

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No filme brasileiro “A cor do seu destino”, lançado em 1986, com direção de Jorge Duran, conta-se o drama da família de Victor, sua esposa Laura e os filhos Vitor e Paulo, vividos, respectivamente, pelo ator chileno Jorge Caicedo e por Norma Bengell, Chico Díaz e Guilherme Fontes. Em resumo, Victor é chileno casado com uma brasileira; devido ao envolvimento com a resistência ao governo fascista e criminoso de Augusto Pinochet, a família se exila no Rio de Janeiro. Embora criança na época da morte de Vitor, vítima da polícia política, o irmão Paulo, agora adolescente, recorda-se dolorosamente do irmão, vivenciando com dificuldade a indignação dos pais com o regime chileno, ainda dominado pela ditadura.

Paulo é adolescente pequeno burguês em vias de despertar para a luta política; essa trajetória no filme é mediada por duas moças, também adolescentes: Helena, a namorada da faculdade, vivida por Andréa Beltrão; e Patrícia, a prima chilena, vivida por Júlia Lemmertz, quem é obrigada, novamente por atividades contra a ditadura de Pinochet, a se refugiar no Brasil, na casa dos tios.

O filme é muito bem montado; com ritmo moderado, predominam as cenas reflexivas em que Paulo busca ordenar as memórias confusas da infância passada no Chile. Apesar dele não se lembrar exatamente da casa onde morava, ainda são bastante vívidas as recordações dolorosas da invasão do lar, na calada da noite, pela polícia política da ditadura chilena, tais e quais as humilhações sofridas pelo irmão e o pai, ambos detidos para interrogatório, e as provocações do chefe de polícia, de cuja face ele não se esqueceu. Se o passado lhe incomoda, no presente ele não compreende bem o namoro com Helena, quem lhe propõe relação aberta; no início também confusa, mas depois bastante esclarecedora, é sua relação Patrícia, a prima chilena, responsável por aclarar sua mente a respeito da luta política.

Certa tarde, passeando pelos arredores do consulado do Chile, Paulo se depara com o cônsul, vivido pelo ator argentino Antônio Ameijeiras, saindo de automóvel, reconhecendo nele o antigo chefe de polícia, o torturador do irmão e do pai. Nessa passagem, a denúncia feita pelo filme é revoltante; quantos criminosos, semelhantemente àquele cônsul, escapam impunemente, alcançando cargos importantes nas ditaduras e nas ditas democracias burguesas, tudo se passando como se a criminalidade fosse prerrequisito para a distribuição e ocupação desses cargos.

Paulo e Patrícia, jovens e bonitos, dormindo no mesmo quarto, tornam-se amigos íntimos e terminam enamorados; após algumas aventuras e desencontros, próprios da juventude, numa bela manhã o casal de primos e Helena se deparam. Embora enciumada, Helena continua fiel a sua proposta de relação aberta, juntando-se aos primos para uma manifestação no consulado do Chile, pois ambos pretendem, com a desculpa de serem estudantes fazendo pesquisa, entrar na sala do cônsul, lançando sobre ele latas de tinta vermelha.

Nesse momento, o filme se torna exemplar por, pelo menos, dois motivos: (1) Helena, Patrícia e Paulo superam a crise dos namoros pequeno-burgueses em função de causas mais importantes; (2) nos tempos quando meia dúzia de infelizes, todos bons viventes em países imperialistas, supostamente protestam lançando massa de tomate em obras de arte ou fuçando no lixo dos países ricos em busca de frutas podres, o filme mostra o quê e em quem jogar na hora do protesto. Evidentemente, não se trata ainda da revolução proletária, mas de agir contra os verdadeiros inimigos da liberdade; tratou-se, no filme, de denunciar um torturador e não de agredir o trabalho de artistas, na maioria das vezes, explorados durante a vida e reconhecidos apenas após a morte.

Na trama, o cônsul saca sua arma contra os três manifestantes; o final, porém, eu preservo para quem se sentir motivado a assistir a “A cor do seu destino”, disponível integralmente no YouTube.

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https://causaoperaria.org.br/2023/a-cor-do-seu-destino-filme-de-jorge-duran-2/

 

 

 

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Chapolin Gremista
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O cinema de terror mexicano

O México não se reduz a palhaços do imperialismo

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Oromance de aventuras do início do século XX, “O mundo perdido”, lançado em 1912, de Arthur Conan Doyle, o mesmo autor das célebres aventuras de Sherlock Holmes, teve várias versões cinematográficas, entre elas, aquela de 1960, com direção de Irwin Allen, quem concebeu algumas das famosas séries de televisão na mesma década, tais quais “Perdidos no espaço”, “Túnel do tempo”, “Terra de gigantes”, marcadas pelo anticomunismo. Não surpreende, portanto, que nos filmes para o cinema do mesmo diretor se encaminhassem, senão a mesma ideologia conservadora dos seriados, preconceitos semelhantes em relação aos países explorados pelos anticomunistas do imperialismo. Dessa maneira, na versão de Irwin Allen do romance de Conan Doyle, o mundo dos dinossauros ainda existe na Floresta Amazônica, nisso ele segue o romance, mas não faltam brasileiros falando espanhol em vez de português, violeiros cantando boleros no lugar de música brasileira, um mexicano corrupto e trapalhão em meio a ingleses cuja nobreza transcende eventuais falhas de caráter.

Existe humor no México? Sem dúvida, existe sim; certamente, muitos leitores concordam comigo que o artista mexicano Roberto Gómez Bolaños, o criador e intérprete do Chaves e do Chapolin Colorado, está entre os maiores comediantes do mundo. Quais seriam, contudo, as principais diferenças entre a arte nobre de Bolaños e a caricatura de péssimo gosto de Irwin Allen e seus palhaços do imperialismo falando espanhol excessivamente cantado ou outras imagens depreciativas, por exemplo, personagens indianas falando inglês com sotaque e fazendo papéis de criados pouco inteligentes, italianos falando inglês com sotaque gesticulando exageradamente e fazendo papéis de bandidos etc.?

A diferença é simples; do ponto de vista dos porta-vozes do imperialismo, os latinos, africanos, indianos, russos, asiáticos e imigrantes europeus são povos inferiores, portanto, somente lhes cabem os papeis de palhaços tristes ou foras da lei, no caso das mulheres, de prostitutas, seja na política, seja no cinema ou outras formas de arte. Dessa maneira, Bolaños é um gênio da comédia e Irwin Allen, outro palhaço do imperialismo.

O cinema e as demais artes, sob o capitalismo e a ditatura da burguesia, transformam-se em mercadorias, logo, se o cinema é arte, ele também faz parte da indústria cultural e, enquanto produto, boa parte dos filmes é regida por parâmetros mercantis, capazes de encaminhar modelos rígidos de produção, tais quais o dito star system, composto por pessoas antes fotogênicas que propriamente atores talentosos; por narrativas padronizadas, no caso, o percurso do herói segundo Joseph Campbell – há livros ensinando a fazer roteiros baseados na sua obra “O herói de mil faces”, por exemplo, “A jornada do escritor”, do roteirista e funcionário da indústria cinematográfica Christopher Vogler –; por escolas de arte dramática estandardizadas; por figuras estereotipadas, em geral, com características depreciativas, de mexicanos, brasileiros, chineses etc., quando de se trata de nacionalidades, ou de negros, mulheres, gays, lésbicas etc., quando se trata de minorias sociais.

Pois bem, para refletir sobre os danos causados pelo capitalismo à criatividade artística, vale a pena escolher uma forma de arte e um gênero específico, por exemplo, o cinema de terror, para verificar quanto mexicanos, italianos, franceses, japoneses etc. podem se distanciar do star system e do mito do herói. Sem pretender fazer propaganda de estabelecimentos comerciais, a produtora brasileira de DVDs Versátil lançou no mercado várias coleções de filmes de terror de diversos países, entre eles, o terror mexicano, que me surpreendeu.

Não conhecia, até pouco tempo, o cinema de terror feito no México – e ainda não conheço, tenho apenas primeiras impressões bastante positivas –; não foi difícil, porém, verificar o enfoque dos temas ser bastante singular. Para incentivar o leitor a procurar pela arte cinematográfica mexicana, comentarei brevemente três filmes, isto é, (1) “O esqueleto da senhora Morales”, 1960, de Rogelio González; (2) “Veneno para fadas”, 1986, de Carlos Henrique Taboada; (3) “Satânico pandemonium”, 1975, de Gilberto Martínez.

O primeiro filme é genial, com atuações brilhantes de Arturo de Córdova e Amparo Rivelles, vivendo os papeis do senhor e da senhora Morales, um casal em sérios conflitos conjugais. O senhor Morales é pessoa simpática, querida pelos amigos, crianças e cachorros do bairro, entretanto, a senhora Morales insiste em difamar o marido, chegando a se ferir de propósito para acusá-lo de violência doméstica diante do padre e outras autoridades locais.

Entre as muitas qualidades do filme, dois aspectos, pelo menos, chamam atenção. Devido aos abusos constantes da senhora Morales, o marido, valendo-se dos conhecimentos de taxidermia, sua profissão, termina assassinando a esposa, entretanto, mesmo imerso na repressão doméstica, o senhor Morales sente imensa atração física por ela, cujo moralismo impede de ser feliz no casamento. Tal sensualidade se justifica pois, apesar de idosos, os cônjuges ainda são bastante bonitos, a escolha dos atores levou isso em consideração; principalmente a senhora Morales, encarnada por Amparo Rivelles, quem, na juventude, foi de dona de notável beleza. Além do sexo entre os idosos, o filme aborda a polêmica entre o México do passado, representado por padres corruptos e vizinhas alcoviteiras, e o do futuro, expresso na paixão do senhor Morales pela fotografia e por sua admiração às habitações contemporâneas, queixando-se constantemente de morar numa casa velha, escolhida pela esposa, em vez de viver com tranquilidade em apartamentos modernos.

No segundo filme “Veneno para fadas”, a menina Verônica vive a fantasia de ser poderosa e malvada bruxa; com a chegada na escola da nova aluna Flávia, a imaginação de Verônica se acentua e ambas desenvolvem uma relação abusiva, na qual Flávia, enganada pela retórica mórbida da amiga, passa a ser ameaçada. Flávia é relativamente rica, vive em harmonia com os pais; Verônica, contrariamente, é órfã, morando com a avó, já bastante senil, e a governanta; a luta de classes não tarda a se expressar entre as duas, com Verônica valendo-se da ingenuidade de Flávia e de supostos poderes sobrenaturais. O final da trama é bastante trágico, não estragarei a fruição do leitor interessado em assistir ao filme, mas vela a pena fazer, pelo menos, dois comentários: (1) centrado no imaginário das duas meninas, o diretor lançou mão de não mostrar em momento algum a face dos adultos, causando interessante efeito visual na expressão da obra ao separar, na tela, os dois universos tematizados, isto é, a suposta realidade dos maiores de idade e os modos dela se insinuar na vida das crianças; (2) a atração de Verônica para o mundo dito do mal, do qual ela retira vida e poder, feito se fosse realmente bruxa. O público brasileiro, certamente, reconhecerá a atriz Ana Patrícia Rojo, quem vive Verônica e representou, quando adulta, o papel de Penélope Linhares na famosa novela mexicana Maria do Bairro.

Por fim, um filme sobre freiras. Na arte cinematográfica, entre numerosos gêneros exploitation, há o nunsploitation, cujo tema é o mundo das freiras e o cotidiano dos conventos, sendo produzidos no mundo todo, da Europa ao Japão. Não se trata aqui de analisar o fenômeno do cinema exploitation e suas ramificações, dos filmes de luta e terror aos chamados filmes de estrada, filmes de ação afirmativa negra etc.; para compreender “Satânico pandemonium”, basta saber que os filmes de freira, ao priorizar a vida nos conventos, termina tematizando, quase sempre, o sexo sob o suposto celibato clerical, seja com padres, seja entre a próprias irmãs; a presença do diabo, evidentemente, motivando exorcismos violentos; consequentemente, surgem as torturas da Santa Inquisição, as quais se tornam pretexto para expor as freiras nuas, vítimas dos verdugos e seus tormentos. “Satânico pandemonium” não é exceção aos temas; nele, a belíssima Cecília Pezet, quem vive a irmã Maria, tentada e seduzida pelo próprio Lúcifer, alicia camponeses adolescentes, chegando a transformar o convento em verdadeiro palco da gula e da luxúria, para, antes de ceder totalmente ao pecado, ser ameaçada com os tormentos da inquisição, imaginando-se nua sob intensas torturas nas cenas próximas do desfecho.

O filme, embora siga as coerções do gênero nunsploitation, complexifica-o em, pelo menos, três aspectos: (1) as cenas não se resumem a simples referências às personagens em seus tempos e espaços, pois o diretor e o roteirista cuidaram de semear símbolos religiosos ao longo do filme – em uma das cenas, quando Lúcifer tenta a irmã Maria, ele oferece a ela uma maçã, remetendo às tentações da serpente e ao pecado original, ao mesmo tempo em que um cordeirinho, símbolo do Cristo e da inocência, foge dos dois, perdendo-se na paisagem –; (2) há metáforas sexuais engenhosas – quando irmã Maria seduz o pastor adolescente, ela se descalça mergulhando os pés no riacho, nascendo da água feito se fosse Vênus, enquanto ele, pescando, coloca a vara entre as pernas, dando forma a um símbolo fálico –; (3) a dor, para irmã Maria, é paradoxal, pois, para alguém facilmente intimidada pelas torturas da inquisição, não faltam oportunidades para se autoflagelar com cilício ao redor do ventre e chicotas nos seios e nas costas.

 As películas, no original em língua espanhola, exceto “Veneno para fadas”, estão completas no Youtube nestes endereços:

(1) O esqueleto da senhora Morales:

https://www.youtube.com/watch?v=XvCOQlA0PwA

(2) Satânico pandemonium:

https://www.youtube.com/watch?v=iNMm54yfrwo

Por fim, desejo ao leitor duas excelentes sessões de cinema.

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https://causaoperaria.org.br/2023/o-cinema-de-terror-mexicano/

 

 

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O Globo de Ouro terá uma nova cara a partir de 2024.

De acordo com a CBS News, a premiação foi vendida para a Dick Clark Productions e Todd Boehly’s Eldridge, e vai se tornar uma associação com fins lucrativos. 

Com a venda, a Hollywood Foreign Press Association (HFPA), ou Imprensa Estrangeira de Hollywood, chegará ao fim. 

Fonte : https://www.omelete.com.br/filmes/globo-de-ouro-e-vendido-fim-da-hfpa

 

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Chapolin Gremista

 

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CINEMA E POLÍTICA

O melhor filme de todos os tempos

Filme de Chantal Akerman é uma reflexão sobre rotina e trabalho no cotidiano capitalista

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Achamada cultura identitária ganhou mais um capítulo na semana passada com a revelação de uma lista “dos 100 melhores filmes de todos os tempos” feita pelo British Film Institute (BFI) em parceria com a revista britânica Sight and Sound. O BFI é uma agência do governo britânico que zela pela preservação, financiamento e fomento ao cinema no Reino Unido.

O nicho cinematográfico, associado ao rótulo de mercado “cinema de arte”, vive da criação de valor a partir da arbitrária seleção de cânones embalados pela mistificação da figura do diretor de cinema, algo estabelecido desde que François Truffaut publicou um pequeno texto chamado “Uma certa tendência do cinema francês” na revista Cahiers do Cinema, em 1954.

A questão aqui é contraditória. De um lado, temos sim uma coleção enorme de obras cinematográficas que são expressões artisticas de imensa qualidade. De outro, a utilização política dessas obras para enaltecer o gênio de certos estados nacionais e delimitar o que é civilização de acordo com a imposição cultural de plantão.

A criação de cânones é realizada a partir de alguns rituais que seguem uma ordem pré-estabelecida. Primeiro temos os festivais de cinema que, de um lado, permitem a circulação de obras menos comerciais, mas que representam também um recorte sobre o que deve ser assistido ou não e o que deve ser considerado arte ou não. 

Com os festivais, temos, em segundo, a participação da imprensa especializada, ou da crítica de cinema.  Esta tem a função de promover e ressaltar a importância do cânone, ratificando aqueles que merecem maior atenção a partir de resenhas que são publicadas nas editorias de cultura da mesma imprensa que faz da sua cobertura de política uma propaganda do ponto de vista da classe dominante. 

Por fim, temos as listas, como essa recente do BFI, que mistura um pouco de tudo para dar autoridade à eleição, cujo resultado  se espalha como pólvora acesa por todos os continentes e estabelece qual arte deve ser consumida pelos cinéfilos, ou seja, pelo gosto civilizado.

A lista publicada na semana passada é a expressão máxima desse conceito. O melhor filme de todos os tempos, eleito por mais de 1.600 críticos, segundo o BFI, foi Jeanne Dielman  (Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles), dirigido em 1975 pela cineasta belga Chantal Akerman, na época com 25 anos de idade. 

Se estivesse viva, Chantal Akerman, que faleceu em 2015, talvez fosse contra a escolha. Não que seu filme não seja bom (falaremos sobre ele mais adiante), mas porque os motivos civilizatórios para esta canonização acabam por esconder suas virtudes. Chantal era mulher, judia e lésbica. Sua mãe sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, lugar onde viu toda sua família perecer. Esses são os reais motivos da escolha.

É evidente que o “melhor filme de todos os tempos” serve ao propósito de imposição dos valores ditos civilizatórios que,  neste caso, atendem explicitamente à agenda identitária que a Europa e os Estados Unidos vêm propagandeando e que serve de máscara palatável aos seus constantes ataques à soberania de qualquer país que lhes faça o mínimo de oposição. 

Trata-se da apropriação de uma criação artística de 1975 para fins únicos de propaganda de guerra, muito parecida com a que foi feita este ano com o Festival de Cannes. O identitarismo é como um slogan, uma falácia retórica que justifica e esconde os atos imorais desses mesmos países e de suas políticas de expropriação, de exploração e de terror fascista.

Justifica perfeitamente, neste momento, a guerra no próprio solo europeu e os ataques incessantes a países como Rússia, Irã e China, considerados não civilizados, machistas, homofóbicos, ditaduras extremistas e fundamentalistas. O Brasil corre o mesmo risco, não tenhamos dúvidas. O identitarismo é a maquiagem perfeita e ajuda a manter o que há de mais reacionário atualmente.

Vale a pena assistir a Jeanne Dielman?

Apesar da apropriação política da figura de sua diretora, o filme merece  ser visto. Podemos precebe-lo como um retrato da subjetividade da pequena burguesia europeia. No enredo, Jeanne Dielman (Delphine Seyrig) é uma viúva, dona de casa, que vive uma rotina de cuidar do filho, já adulto, e do pequeno apartamento onde eles vivem em Bruxelas. Com mais de três horas de duração, a película nos convida a acompanhar três dias deste cotidiano. Tarefa que pode ser difícil para aqueles em busca de muita ação.

No campo da forma, Akerman fez um filme descritivo, ao invés de narrativo, visto que a ênfase é mostrar a realização das tarefas com esmero, eficiência, técnica e no tempo exato. É uma representação da lógica do trabalho, aplicada ao ambiente doméstico. Entre as tarefas estão descascar batatas, lavar louça, arrumar as camas e receber homens, como prostituta, no final da tarde, o que parece ser a fonte de renda da protagonista.

Parentesco com a pós-modernidade

Essa parece ser uma representação de um conceito que se tornou muito popular entre as feministas francesas dos anos 1970 chamado de divisão sexual do trabalho, formulado a partir do conceito de divisão social do trabalho de Marx. Jeanne é representada como uma trabalhadora pequeno-burguesa alienada, que faz com esmero as tarefas a ela são destinadas por causa do seu sexo.  

Neste caso, o filme pode ser visto  atualmente como um documento sobre como a cineasta utilizou as filosofias sociais que circulavam nos anos 1970, com forte influência da psicanálise, para fazer seu filme. É da mesma época, por exemplo, um texto que ficou famoso “Visual Pleasure and Narrative Cinema”, da teórica americana Laura Mulvey, um exemplo do ambiente intelectual do pós-1968, muito influenciado pela crítica francesa encabeçada por Foucault, Deleuse e Guattari. Hoje em dia, fortemente criticados pela crítica materialista.

Surrealismo e digressão

No teatro e no cinema, podemos incluir Jeanne em uma lista de personagens femininas que a antecederam como Agnés, a filha do deus Indra, da peça O Sonho (1901), do dramaturgo suéco August Strindberg (este texto foi adaptado por Ingmar Bergman em 1963 para a TV e está disponível no YouTube com legendas em inglês). Há um diálogo entre Agnès e um advogado sobre dever e lazer que é o retrato de Jeanne. Eis um trecho:

Advogado: Agora você já viu quase tudo, mas não passou pelo pior.
Inês: O que pode ser isso?
Advogado: Repetição. Repita o padrão. Volte. Aprenda a lição novamente. Volte aos seus deveres.
Inês: O que é dever?
Advogado: É tudo o que você evita. Tudo o que você não quer e deve fazer. É abster-se. Renunciar. Deixar para trás. Tudo que é desagradável, repulsivo, tedioso.
Inês: Não há deveres agradáveis?
Advogado: Eles se tornam agradáveis quando você termina.
Inês: Quando já não existem. O dever é sempre desagradável. O que é agradável?
Advogado: O pecado é agradável.
Inês: Pecado?
Advogado: Que tem que ser punido, sim.

Do mesmo Ingmar Bergman, temos Monica e o Desejo (1953), sobre uma jovem da classe operária que não se adapta à vida doméstica. Além desse, temos a A Bela da Tarde, de Luiz Buñuel (1967), sobre uma esposa de classe média que trai o marido médico em um bordel. Jeanne é sucedida pela força explícita da Ninfomaníaca de Lars von Trier (2013), uma mulher que rompe com todas as barreiras sociais impostas a ela, principalmente aquelas morais ligadas ao politicamente correto pseudo-progressista de nossos tempos. 

Em comum entre essas personagens, uma ligação com o surrealismo (claro, menos Monica). No caso, Akerman utiliza pitadas surrealistas em meio a uma encenação que busca ser naturalista, criando contradições e estranhamentos sutis. 

O realismo surge nas cenas descritivas da rotina repetitiva da personagem, como o ato de cozinhar, acordar o filho, fazer o café, tomar banho e limpar a banheira. Acompanhamos essas tarefas como se fossem um ritual, realizadas sempre na mesma ordem e nos mesmos horários. Na fonte, também estão os romances do início do século XX, como os de Marcel Proust, e suas descrições (ou digressões) da subjetivida burguesa. 

No geral, são romances desprovidos de ação, aventuras ou encantamentos, próprios de um mundo burguês previsível, característica que os romancistas modernos do início do século identificaram na nova classe dominante, O dramaturgo Samuel Beckett fala do tédio como marca do romance de Proust: “o pêndulo oscila entre estes dois termos: Sofrimento – que abre uma janela para o real e é a condição principal da experiência artística, e Tédio – com seu exército de ministros higiênicos e aprumados, o Tédio que deve ser considerado como o mais tolerável, já que é o mais duradouro de todos os males humanos”.

O teórico Franco Moretti fala do romance burguês como um romance de enchimentos: “(…) pequenas coisas se tornam significantes sem deixar de ser “pequenas”, tornam-se narrativas sem deixar de ser cotidiano. (…) Os enchimentos racionalizam o universo do romance, transformando-o em um mundo com poucas surpresas, pouquíssimas aventuras e absolutamente sem milagres”.

Essa é a experiência que percebemos ao assistir o cotidiano de Jeanne Dielman.

Já o surrealismo se embrenha nesta rotina, desafiando-a e desafiando quem assiste, rompendo com a aparente ordem imaculada desta dona de casa. Ele acontece nos encontros sexuais comerciais aos quais ela se sujeita, nas conversas edipianas com o filho e no apartamento decorado como se fosse 1944, ainda na Guerra, e não 1975, como se houvesse parado no tempo. Até mesmo a marcação temporal parece carecer de certa verossimilhança, como se estivéssemos lidando com um sonho.

Essa oscilação entre a descrição detalhada do prosaico, a ausência da ação que no drama coloca os personagens em movimento, e a intrusão de elementos situacionais, diálogos, músicas e sons, quebra com a naturalização do que está sendo mostrado. 

Os sons são um caso a parte. Colocando Jeanne sozinha no apartamento a maior parte do tempo, o filme se desenrola quase como se fosse mudo, dependente das expressões faciais da ótima atriz Delphine Seyrig. Os únicos sons são dos objetos, dos passos, do ascender e apagar de interruptores de luz, das panelas, da abertura de janelas e de portas. São os sons do apartamento que formam uma espécie de sinfonia dos objetos comuns.

A ação inesperada e surpreendente acontece somente nos minutos finais, mais um elemento surrealista, que não descreverei para não estragar a experiência de quem vai assistir ao filme. É como se Jeanne finalmente decidisse deixar sua cápsula do tempo, que parecia hermeticamente fechada , e, com um gesto trágico, um tipo de sacrifício, partisse para um nova ordem temporal e espacial, que gera movimento e, portanto, mudança.

Na forma, trata-se evidentemente de romper com o exercício descritivo hipnotizante, sustentado com  variações, para entrar no jogo do drama, porém destruindo de maneira irremediável o reino  pequeno-burguês congelado desta matriarca ambígua e autoritária.

A lógica cultura do capitalismo tardio

Diante dessas contradições, como considerar a premiação que certamente fará com que muito gente procure e descubra Jeanne Dielman? Como apontado no início desse texto, o problema está na lista, que é uma peça de propaganda política de um estado reacionário em guerra. O filme e sua diretora apenas servem ao propósito atual de imposição de valores considerados civilizados pelo imperialisto. É a lógica cultural do capitalismo tardio, como diz o crítico norte-americano Fredric Jameson.

Na semana passada, por exemplo, fiz um texto sobre um filme excepcional, chamado Relações de Classe, dirigido pelos cineastas franceses Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Por que esse filme não esta em primeiro lugar na lista do BFI? Temos inclusive uma diretora! Talvez seja pelo fato de que seus criadores tenham sido socialistas declaradamente revolucionários.

Em uma entrevista sobre este filme, concedida em 1985, Straub fez uma crítica à cultura cinéfila, que considerava superficial. Ele falou da importância de D.W. Griffith para a criação da linguagem cinematográfica que conhecemos nos dias de hoje em filmes como O Nascimento de uma Nação  (1915) e Intolerância  (1916). Por que esses filmes não ocupam o primeiro lugar? Talvez porque hoje em dia eles estejam passando pelo escrutínio civilizatório, pela condenação ideológica e pela cultura do cancelamento. Mas, se ficarmos no campo progressista, onde encaixar os filmes de Charles Chaplin? E os de Serguei Eisenstein? A expressão “melhor filme de todos os tempos”  revela um desconhecimento muito grande da história do cinema.

Esse texto sobre Jeanne Dielman  apenas arranha sua complexidade narrativa. No entanto, fica evidente que sua origem está no teatro, na literatura e no cinema do século XX. Ele não é fruto do mero acaso ou de um lampejo de genialidade. Akerman com certeza conhecia algumas dessas obras e técnicas, provavelmente todas e muitas mais. O mérito da diretora foi o de trabalhar com esses materiais e fazer um filme muito criativo e lúcido no momento histórico de sua produção.

Jeanne Dielman pode ser assistido no serviço de streaming Filmicca.

 

https://causaoperaria.org.br/2023/o-melhor-filme-de-todos-os-tempos-2/

 

 

 

Editado por E.R
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Chapolin Gremista

 

NOTÍCIAS

REDUÇÃO DA QUALIDADE

Oscar: Academia revela novas regras à categoria de Melhor Filme

Para concorrer à categoria, um filme precisará ser exibido durante mais de sete dias em 10 dos 50 principais mercados dos EUA.

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https://causaoperaria.org.br/2023/oscar-academia-revela-novas-regras-a-categoria-de-melhor-filme/

Na última quarta-feira (21), o conselho da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos aprovou novas regras para a qualificação de filmes à categoria principal do Oscar.

Atualmente, um filme precisa ser exibido em uma das seis maiores cidades dos EUA por sete dias para concorrer à categoria de melhor filme.

Com as novas modificações, que só entrarão em vigor em 2024, impactando a cerimônia a partir de 2025, a exibição precisa ser expandida para mais sete dias em 10 dos 50 principais mercados do país.

 

Editado por E.R
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NOTÍCIAS

A estreia de "Elementos" foi a opção preferida nos cinemas brasileiros neste final de semana.

A animação da Pixar arrecadou R$ 7,63 milhões e foi assistido por 353 mil pessoas entre quinta-feira e domingo.

Em segundo lugar ficou o filme "The Flash", que faturou R$ 5,68 milhões para um público de 261 mil espectadores.

Fonte : https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2023/06/estreia-de-elementos-lidera-nos-cinemas-que-tem-pior-bilheteria-desde-abril.ghtml

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NOTÍCIAS

Maiores bilheterias do cinema no primeiro semestre de 2023 :

1. Super Mario Bros : O Filme
2. Guardiões da Galáxia - Volume 3
3. Velozes e Furiosos 10
4. Homem-Aranha : Através do Aranhaverso
5. A Pequena Sereia
6. Homem Formiga e a Vespa : Quantumania
7. John Wick 4
8. Transformers : O Despertar das Feras
9. Creed III
10. The Flash

Fonte : https://www.boxofficemojo.com/year/world/

 

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